Tempos de esperança, mas também de ansiedade e incerteza. Para celebrar a Semana das Mães com tranquilidade, quem deu ou dará à luz no ano da pandemia cultiva um desejo acima de tudo: saúde. Apesar da apreensão, as supermamães tentam esconder o medo de criar alguém em um mundo de novas e ainda incertas regras. Preferem não projetar a realidade a longo prazo, mas viver um dia de cada vez. O desejo comum é proteger ao máximo os mais recentes habitantes deste novo planeta, mascarado e de mãos limpas.
Em 25 de março, ainda no início do avanço do coronavírus no Brasil, o Ministério da Saúde confirmava 2.433 casos de COVID-19 e 57 mortes pela doença. Mas, enquanto a apreensão crescia no país, naquela data nascia também o motivo do sorriso estampado no rosto de Marcimara de Souza da Silva, de 30 anos.
Ignorando as más notícias, Isabela Mena Contreras da Silva veio ao mundo como a mãe queria: saudável. Ainda sem conhecer o abraço de outros parentes, a pequena aproveita o colo e curte meio a distância a família que não tira os olhos dela um minuto. “Sempre temos andado com álcool na bolsa, e a gente pede pra não tocar nela, não chegar muito perto e estar sempre de máscara. O ‘corona’ está aí e não se pode brincar”, alerta Marcimara.
A mãe conta que Isabela é fruto da história de amor com o chileno Miguel Mena Contreras, de 32, que veio para o Brasil em 2018, depois que os dois começaram a namorar. “A gravidez não foi planejada, mas tem sido só alegria”, resume Marcimara, mãe também de Jenyfer, de 14 anos.
Mas, apesar de todas as alegrias e da boa expectativa, o mundo em que Isabela chegou já não era o mesmo da irmã. Marcimara teve de se conformar com o fato de o pai da bebê não poder estar do lado dela durante o parto, por prevenção diante da ameaça dos novo coronavírus. “A gente criou muita expectativa, mas no momento que eu estava dando à luz ele estava na recepção. Temos que respeitar, porque é para o bem de todos, mas as portas do hospital já não estão mais abertas para todas as pessoas”, compara.
A “nova maternidade” é diferente também dentro de casa: nada de visitas para a bebê e muitos hábitos mudados. Idas ao mercado e à farmácia agora só por conta do pai que, quando chega, tem que deixar sapatos e blusa já do lado de fora. Carinho na filha? Só depois do banho.
“É difícil, a gente fica apreensivo demais. Ao sair da porta, já sabemos que tem um mundo cheio de coisas ruins, infelizmente. Mas ao mesmo tempo, essa situação me aproximou no meu marido e das minhas filhas. Temos ficado muito tempo juntos, fazendo coisas que antes não faríamos”, conta Marcimara.
ESPERANÇA DE SUPERAÇÃO
Menos de um mês depois do nascimento de Isabela, em 22 de abril, a COVID-19 já havia se multiplicado e já contabilizava 45.757 casos e 2.906 mortes no Brasil. Foi naquela data que nasceu a segunda filha da paraibana Marilene da Silva, de 42. Mas para ela, a chegada da bebê, ainda internada no CTI, trouxe mais preocupação que a causada pela pandemia. “Ela nasceu com probleminha no coração, teve que usar aparelhos para respirar, teve probleminha nos rins, está precisando respirar por si própria e ainda não consegue... temos que esperar um pouquinho mais”, conta a mãe, que não perde a esperança um só minuto.
Em sua batalha, a mãe não se esquece de que a saúde delicada da bebê é um motivo a mais de cuidado, diante da situação atual. Por isso, além dos cuidados que ela mesma toma, faz um apelo para que todos se protejam, pois só assim a filha vai encontrar um mundo seguro quando sair do hospital. “Estou vindo todos os dias visitá-la, mas me cuido o máximo. Sempre estou lavando a mão com sabão líquido, álcool em gel e usando a máscara. Faço de tudo para me cuidar e também para não passar nada para o bebê”, conta ela, mãe também de Alida Nayara, de 5 anos.
RIGOR E MEDO
Ana Paula Barros de Souza, de 29, está grávida pela quarta vez e, mesmo não sendo mãe de primeira viagem, encarou com estranheza as recomendações durante o pré-natal. “Eles estão rigorosos, porque tem que ter total proteção. Eu mesma fico morrendo de medo. Muitos hábitos vão ter que mudar. Nosso Deus! Ainda mais um bebezinho que não tem como se proteger, é preciso ter o maior cuidado”, disse.
A expectativa da mãe é de que os casos de coronavírus diminuam até o nascimento da filha, que já tem nome – Yasmin Vitória – e deve chegar ao mundo até dia 16. Ansiosa para a nova experiência, Ana Paula conta que a gestação dos outros filhos, que hoje têm 9, 7 e 3 anos foi bem diferente. “Por causa do coronavírus mudou bastante. Fica um ‘medão’, não é ‘medinho’. Antes não precisava ter esse cuidado redobrado que a gente está tendo hoje em dia.”
PRIMEIRA VIAGEM
Tauane Marques de Oliveira, de 25, espera o primeiro filho e não para de aprender lições sobre ser mãe em meio à pandemia. Uma delas tem sido a de administrar a ansiedade. “Minha expectativa para a chegada do Davi Lucas está à flor da pele. Ter um filho é o sonho de toda mulher, e essas adversidades têm me ensinado inclusive cuidados básicos dentro de casa, que são muito importantes”, disse.
Com previsão de dar à luz até 28 de maio, a futura mamãe se apega à fé em Deus para crer que o mundo será melhor quando a epidemia global passar. “Tenho receio, porque a gente não sabe exatamente a proporção disso. Mas o vírus tem me ensinado a me cuidar mais, a me preservar. Se Deus quiser, vai dar tudo certo.”