Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciar a inclusão de academias, barbearias e salões de beleza na lista de serviços essenciais, donos dos respectivos estabelecimentos repercutiram tal decisão. O Estado de Minas ouviu diversos proprietários de comércios para saber o que acharam da medida publicada por Bolsonaro, nessa segunda-feira (11), no Diário Oficial da União.
Um dos proprietários consultados pela reportagem foi Rodrigo Lima, que é dono da Barbearia Mustache, localizada no Bairro Fernão Dias, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Ele aprovou a decisão do governo, mas viu a medida com certa preocupação, uma vez que a adesão ao isolamento social vem caindo.
“Nós, do segmento de barbearia, vimos o decreto de ontem como uma boa iniciativa do governo federal, mas os governos estaduais e as prefeituras precisam analisar a questão da pandemia em cada cidade. A nossa cidade de Belo Horizonte está começando a se preparar para uma reabertura do comércio. Estamos vendo com bons olhos uma iniciativa de reabertura do comércio. Mas também preocupa, porque muitas pessoas não respeitam as regras de segurança da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, afirmou.
A reabertura citada por Rodrigo é uma medida citada pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), que pretende flexibilizar o funcionamento do comércio a partir do dia 25 de maio, dependendo da velocidade de contágio do coronavírus até lá. O empresário, no entanto, não esconde a ansiedade em poder voltar a retomar os negócios, que estão parados desde março. A receita caiu 70%. Os outros 30% foram compensados por clientes que pagaram adiantado por um voucher, que pode ser utilizado na reabertura da barbearia.
“A gente vai aguardar o posicionamento do governo de Minas e da Prefeitura de Belo Horizonte. Há a expectativa da reabertura gradual a partir do dia 25 de maio. Pode ser bom ou pode ser ruim. Depende mais da população, que não está respeitando o isolamento. A gente fica ansioso pela nossa receita, não só para o nosso segmento, como outros segmentos também”, disse.
Adriana Ávila é dona de uma esmalteria, que, além de realizar serviços de manicure e pedicure, também faz depilação e henna. Para Adriana, as atividades listadas por Bolsonaro não são essenciais, principalmente no caso dela, que executa funções que necessitam de um contato direto com a clientela.
“Eu acho que ele é louco (risos). Porque eu não acho que salão de beleza seja um serviço essencial, o mesmo vale para academias. Neste período de pandemia, o ideal é que todos fiquemos em casa, fazendo a nossa parte”, opinou.
Adriana conta que está com o seu estabelecimento fechado, na região do Bairro Floresta, desde o dia 20 de março, data em que o decreto assinado por Alexandre Kalil começou a entrar em vigor. Desde então, as receitas despencaram. Mesmo assim, ela defende o isolamento social.
“Se eu falar para você que não queria trabalhar, é mentira, porque queria muito estar com o meu estabelecimento aberto, atendendo normal, mas é risco para mim e para minhas clientes. Por mim mesmo, por ter filho pequeno em casa, eu fico com muito medo de sair na rua e trazer alguma coisa para casa. Se for olhar pelo financeiro, está sendo bem difícil, mas eu acho que a gente pode aguentar mais um pouco, fazendo a nossa parte. Quanto antes fazer a nossa parte, ficar em casa, mais rápido a pandemia passa e a gente pode voltar”, ressaltou.
Flávio Henrique é proprietário da Academia Fit3, no bairro Água Branca, em Contagem, na Grande BH, As portas do seu estabelecimento estão fechadas desde o dia 19 de março. Ele, assim como Adriana, não concorda com Bolsonaro sobre academia ser considerada um serviço essencial. Além disso, o empresário vê uma inviabilidade financeira para retomar os negócios nesta época do ano.
“No meu caso, não seria bom retornar agora, porque tem algumas situações para academia. Não sou estúdio, então preciso de volume. Eu tenho piscina. Algumas crianças entram de férias e no frio a pessoa não vem. Os meses de junho e julho são os piores meses para academia. Além de ser o pior mês, ainda tem a situação da pandemia que vai dificultar ainda mais a volta dos alunos para a academia. O que eu tenho acompanhado, as academias que estão voltando, estão só com 30% dos alunos. Isso não paga nossa operação. A gente volta com os custos como era antes da pandemia e com 30% de receita. É inviável.”
A solução para amenizar a queda de receitas tem sido locar equipamentos e itens para que as pessoas pratiquem atividades físicas em casa. Flávio conta que já não tem materiais para locar e que pensa em adquirir mais produtos para disponibilizar aos clientes. Apesar disso, o futuro ainda é incerto.
“Estamos vendo uma crescente em pessoas que querem fazer atividade física, que são sedentárias, só que não sabemos se isso vai converter em clientes para a gente, principalmente em função da crise econômica”, concluiu.
Entre as atividades listadas como ‘essenciais’ por Bolsonaro, já tinham os serviços de construção civil e de atividades industriais, além de indústrias químicas e petroquímicas de matérias primas ou produtos de saúde, higiene, alimentos e bebidas e produção, transporte, entre outros.