O nível de subnotificação de casos do coronavírus em Minas Gerais é um dado preocupante. Estudo revela que o estado pode registrar aproximadamente 56 mil indivíduos infectados em uma projeção mais próxima da realidade. O levantamento coordenado pelos professores Leonardo Costa Ribeiro, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, e Américo Tristão Bernardes, do Departamento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto dá conta de que existem 16,5 casos da doença para cada um confirmado oficialmente.
O índice é quatro vezes maior que a média nacional. No país, são 3,8 pessoas com a COVID-19 para cada caso aferido. A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (12). A primeira edição do trabalho foi apresentada há cerca de um mês e, à época, o cálculo mostrava subnotificação de 7,7 vezes em âmbito nacional.
O Brasil assiste a um crescimento expressivo para a testagem da doença pelo coronavírus no país - um patamar de elevação constatado entre 12 de abril e 10 de maio. Há um mês, eram realizados 296 testes por milhão de habitantes, e, há dois dias, foram feitos 1.597 testes por milhão. Uma constatação que elucida o motivo da redução da subnotificação no Brasil. Por outro lado, em Minas Gerais, o índice da testagem é baixo - são 476 testes por milhão de habitantes, atrás de Amazonas e Distrito Federal, por exemplo, com 1,6 mil testes.
Mas são dados que não escondem a dificuldade para a realização de testes no país, questão que passa pela infraestrutura laboratorial, mão de obra, aquisição dos testes e logística. O Brasil ocupa a oitava posição entre os números de contaminação a nível mundial e a 27ª em em testagem por milhão de habitantes entre os 30 países mais afetados pela COVID-19.
O estado é, entre as demais unidades federativas, o terceiro lugar para o nível de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), e isso tem reflexo na pesquisa dos professores. Minas Gerais figura apenas na 11ª colocação na relação de casos confirmados de Covid-19. Combinando o alto número de hospitalizações pela síndorme com números baixos de testes e casos confirmados chega-se à realidade da grande subnotificação nos registros oficiais sobre o coronavírus.
A base para o estudo da UFMG e UFOP são estatísticas sobre hospitalizações concebidas pela Fiocruz, com a análise matemática da evolução temporal de internações, entre 2012 e 2019. O cálculo parte de uma técnica de regressão, replicando com grau de precisão acima de 90%, o comportamento típico dos casos de hospitalização por SRAG. Aplicando a técnica para 2020, chega-se à pespectiva de casos sem o surto provocado pelo coronavírus. A distinção entre a curva matemática que representa os números esperados e o volume real de internações dá a medida da subnotificação.
O nível da subnotificação, seguindo a pesquisa mineira, foi aferido considerando os casos mais sérios, que chegam aos hospitais, mas, tomando por referência os casos que não geram internação, esses índices podem ser ainda maiores, como divulgam os pesquisadores em nota técnica de apresentação do estudo.