Na próxima segunda-feira (18), 1,7 milhão de alunos da rede estadual terão as aulas retomadas pelo método digital. Os estudantes terão acesso aos conteúdos por meio de três métodos: Plano de Estudo Tutorado (PET), aplicativo ‘Conexão Escola’, além do ‘Se Liga na Educação’, programa que será exibido nas manhãs de segunda a sexta, na Rede Minas. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, a secretária estadual de Educação, Júlia Sant’Anna, garantiu que aqueles que não tiverem acesso à internet - seja via computador ou celular - e televisão, receberão apostilas impressas.
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'Quem elaborou isso não está na sala', diz sindicato sobre volta às aulas em MinasRede estadual volta às aulas sem provas, com imbróglio judicialIncorporação à vista? Redes Bernoulli e Santa Maria acertam parceriaPrimeiro dia de aulas remotas em MG tem instabilidade e bagunça on-lineCoronavírus: idosos ganham projeto de assistênciaDo ponto de vista da secretária, o PET está sendo bem avaliado pela pasta de Educação. O site, de acordo com Júlia, já teve 1,8 milhão de acessos em menos de 48 horas. “A gente tá vendo que pais, alunos e professores de outros estados também estão buscando conhecer. Temos acessos vindos do Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Espírito Santo, e alguns acessos da Argentina, Estados Unidos, França e Índia. Isso nos deixa com muita alegria”, disse.
Júlia também afirmou que municípios de Minas e de outros estados também formalizaram pedido para utilizar o material confeccionado pela Educação.
“Todo o conteúdo dos anos iniciais do nosso antigo primário, dos pequenininhos, foi montado com o apoio dos professores das redes mineiras municipais de educação. Então grande parte dos municípios de Minas Gerais também vai utilizar, além dos 1.7 milhão dos alunos da rede estadual, teremos utilização como documento oficial por alguns municípios mineiros. Municípios de outros estados também estão fazendo uma solicitação formal para a gente para a utilização do uso institucional do material”, disse.
Na entrevista, a secretária de educação detalhou as estratégias para alcançar os alunos da rede estadual e revelou inspirações para a confecção do projeto.
Na prática, como vai funcionar o sistema remoto de ensino?
São três instrumentos principais que a gente faz de acompanhamento com os alunos. O principal deles se chama Plano de Estudo Tutorado (PET). É um material em PDF. A prioridade que a gente tá dando é para que os alunos baixem esse material no nosso site. O material está disponível desde anteontem. É um conteúdo mensal, organizado por semanas as atividades, orientações de estudo, para cada ano de ensino e de escolaridade. Então a cada mês vamos divulgar um destes. A organização é feita semanalmente para dar tranquilidade para as famílias neste planejamento, para não haver mais ansiedade do que a gente já está vivendo. Ele é a ‘espinha dorsal’, pois foi construído na base nacional curricular, no nosso currículo de referências de Minas Gerais.
É com esse instrumento que vamos fazer a avaliação diagnóstica no momento do retorno dos alunos às escolas. Tão logo seja possível restabelecer as atividades presenciais, o conteúdo que vai ser avaliado é esse. Essa avaliação não é para determinar reprovação ou fazer qualquer avaliação de desempenho de alunos, mas, sim, uma avaliação diagnóstica. Cada aluno vai ter a preparação de um plano individual de estudos em que ele vai conseguir, a partir dali, fazer o aprofundamento do conteúdo com os seus professores de sala de aula.
Os alunos que não conseguirem baixar terão as impressões financiadas pela secretaria, através dos diretores das escolas. Temos tido notícias de diversas escolas que já estão com a estratégia de distribuição, ainda nesta semana, desse material.
O segundo instrumento é a transmissão das teleaulas do “Se Liga na Educação”, da Rede Minas, que estreia no próximo dia 18 (segunda-feira), às 7h30. Entre 7h30 e 11h15, nós teremos a transmissão de teleaulas gravadas por professores da nossa rede, muitos deles, inclusive, de sala de aula, que vêm se ressignificando, revisando suas próprias maneiras de ensinar, muito positivo como a gente tem visto. De 11h15 e 12h30, é aberta uma transmissão ao vivo, para que os alunos esclareçam suas dúvidas. Haverá um telefone para contato e um celular para perguntas via Whatsapp. Outro ponto importante é a garantia da interatividade entre aluno e professor. Será lançado, também, um aplicativo para Android, neste primeiro momento, com a navegação patrocinada pelo estado. Então o aluno ou o professor baixa o aplicativo, obviamente consome o pacote de dados ali no momento em que está baixando, porque a gente não tem essa validação de que ele é um aluno ou professor da rede, mas a partir do momento em que ele faz o seu login, a navegação interna para baixar teleaulas, por exemplo, é 100% financiada pelo estado. Não haverá consumo de dados. O conteúdo da Rede Minas também será carregado via aplicativo e para o site.
Além disso, no dia 25 de maio, estamos prevendo uma nova funcionalidade no aplicativo que é o chat. Vamos ter canais de comunicação diretos de contato com o professor com os seus alunos. O professor entra e vê todas as suas turmas. O aluno entra e vê todos os seus professores. O canal de contato é para tirar dúvidas e estabelecer contato. O perfil de acesso vai facilitar o encontro, mesmo que remoto, do aluno com os seus professores de sala de aula. Até mesmo seus colegas via chat. Estamos bem felizes com a construção desse modelo.
Teve algum outro modelo que serviu de inspiração para a construção do sistema remoto de ensino?
Tivemos um contato inicial com o Amazonas. Quando a gente ouve falar de restrição de acesso e restrição geográfica e social, citamos sempre este exemplo, porque foi um estado que teve de construir este modelo justamente por conta das suas dificuldades. O Amazonas é um caso simbólico, muito representativo. Tivemos acompanhando toda a parte de construção do material de São Paulo e do Paraná, estados que fizeram lançamentos anteriores ao nosso. Tenho uma grande confiança que o nosso material pedagógico que não vamos encontrar nenhum melhor. Talvez, tão bom quanto.
A Rede Minas está presente em apenas 186 municípios, atendendo a 1 milhão de alunos. No entanto, outros 700 mil alunos da rede pública não têm acesso à internet ou sinal da emissora. Como atender a todos?
As estratégias são complementares. Se entende que o aluno tem acesso ao material completo, se ele tiver acesso a um desses. É fundamental se a família garantir que o aluno tenha seus livros didáticos, a gente tá bem tranquilo em relação a isso também. O aluno estudando em casa, tendo condições de aprofundar nisso, esse processo está garantido. Claro que quanto mais ferramentas ele tiver acesso, melhor, mas isso não impede da gente ter tranquilidade de, no momento do retorno dele, todos os conteúdos que, porventura, tenham sido perdidos, serão repostos. Então se eu fosse sugerir a um conteúdo só, esse conteúdo, é, efetivamente, o Plano de Estudos. Vamos fazer um controle nominal de distribuição por escolas, o que é importante para a gente conseguir não perder ninguém, ter a certeza que cada aluno é muito importante neste processo.
O Sind-UTE enviou, ao Estado de Minas, uma carta de um diretor financeiro do governo, alertando sobre dificuldades financeiras para fazer as impressões. Mas de acordo com a senhora, algumas escolas já estão fazendo a distribuição dos materiais. O estado garante a impressão de todas as apostilas daqueles alunos sem acesso a sinal de internet e TV?
Com muita tranquilidade. É um processo logístico e de operação bastante complexas, e é natural que, eventualmente, algum servidor ou outro tenha algum problema de interpretação, mas isso tudo a gente está acompanhando ponto a ponto. Eu já sei precisamente qual é essa regional para dar a ela tranquilidade e fôlego financeiro para isso. Por outro lado, é importante que as famílias tenham tranquilidade, que entendam que a gente precisa priorizar ao máximo o material impresso para aquelas famílias que não têm acesso à internet. É importante que as famílias entendam que, se elas têm acesso ao material digital, que deem a oportunidade às famílias que não têm, para que o diretor de escola faça com que o material chegue ao aluno o mais rápido possível.
Quais as regiões que mais vão receber os materiais impressos?
O nosso esforço é fazer um contato muito estreito com cada um dos diretores escolares. Até eu mesma já reduzi o espaço das reuniões com os superintendentes regionais de ensino. Ontem o superintendente regional do Vale do Jequitinhonha, Diamantina, sinalizava para a gente que lá a demanda por materiais impressos será muito grande. Então em relação a isso, estamos atentos.
A parceria com as empresas de telefonia foi feita em todo o estado. A pessoa que, eventualmente, não tem acesso ao material na sua residência, mas quando sai para supermercado, farmácia, ou alguma outra cidade que tenha comunicação, ela consegue baixar o material e levar para sua residência. A gente vê que é muito comum famílias mais humildes terem um dispositivo móvel.
Como que cada turma vai saber que horas assistir às aulas na TV? Há alguma grade de horários?
No nosso site tem uma parte que, clicando no “Se Liga na Educação”, consegue baixar a grade e saber qual é o conteúdo a ser trabalhado em cada dia da semana. Mas, além disso, a gente tem de forma mais geral essa orientação de que são trabalhados os conteúdos por área de conhecimento. Na segunda-feira temos linguagens (língua portuguesa, literatura, inglês, artes…), e assim subsequentemente. Se não me engano, terça tem ciências humanas, e por aí vai. Na sexta, temos um conteúdo específico para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É um dia inteiro destinado ao Enem. Um momento em que todo o grupo do ensino médio terá condições de ter acesso. Então, também, esse dia, é dividido por horário. Na manhã bem cedinho os alunos do ensino médio, no meio da manhã os alunos finais e mais perto da hora do almoço os alunos iniciais, até o momento da transmissão do vivo.
Milhares de mensagens deverão ser enviadas pelo chat de forma simultânea. Como será feita a filtragem e seleção das dúvidas?
Vai ter um mediador. Torcemos muito para que haja muitas dúvidas, a gente imagina que vai ser um processo progressivo das pessoas entrando. Vai ter um mediador, os professores estarão no estúdio, e aí a gente vai fazer uma organização. Porque, realmente, como vem as perguntas relacionadas a um determinado conteúdo, que foi trabalhado especificamente naquele dia, então é muito possível fazer essa filtragem. Os professores estão muito envolvidos no processo de gravação, as aulas estão sendo bem trabalhadas em relação ao limite de minutos. Terá todo um processo de amarração das perguntas para que sejam respondidas de forma mais integrada.
A secretaria de Educação teme uma baixa adesão de alunos ao sistema remoto de ensino? Como fazer o controle?
Temor, não. Mas estamos bastante atentos. Há questionamentos de nível nacional de que não houve muitos acessos ao aplicativo. A gente entende e sabe que o nosso estado tem restrições geográficas. A gente entende que o material em PDF e impresso são completos. O importante é termos a segurança de que o aluno terá acesso a um desses instrumentos, trabalhar para que o maior número de alunos tenha acesso aos materiais digitais. Mas, se porventura não for possível, preparar para que, no momento em que retornar as aulas, este aluno que não teve acesso ao material on-line seja apoiado no processo de complementação de conteúdo.
Como os professores estão sendo preparados para o novo método de ensino?
Eu costumo dizer que a gente não foi preparado para este momento histórico que estamos vivendo. Então toda a preparação tem sido muito nova. Os professores que estão no estúdio, vira e mexe dizem: “Puxa, pode regravar essa aula específica?”. Está todo mundo no processo de aprimoramento. Na rede, a gente entende que vai haver este processo de aproximação. Temos que ter cuidado, trabalhar progressivamente, entendendo que é um momento novo para todos nós.
Quanto é o investimento, até o momento, do sistema remoto de ensino?
Estamos fazendo uma aferição disso, pois depende muito. Essas contratações são feitas com base, efetivamente, dos acessos. A gente depende de quantos alunos começarem a entrar, quantos professores começarem a entrar. Há uma previsão orçamentária para essas despesas, mas não tenho o número para passar. A aferição vai sendo feita ao longo do processo, porque vai ser executado financeiramente dependendo do que for consumido, por conta da variação regional de acessos.
Um estudo feito em Harvard diz que a quarentena intermitente deve durar até 2022. O estado já pensou na possibilidade? Quais são os planos para a volta das aulas presenciais?
Estamos aguardando cada passo. Houve uma aproximação muito grande dos secretários, tanto municipais, quantos dos conselhos e secretários. Há reuniões semanais com o Ministério da Educação (MEC) para discutir questões importantes. A cada semana a situação muda, mas estamos atentos quanto a parte de regulação. Há muitas perguntas se haverá férias e de como será o calendário. A gente ainda precisa entender melhor o processo de regulação, fazer um melhor acompanhamento da curva epidemiológica.
Vários alunos na internet se manifestaram contrários ao não adiamento do Enem. A senhora é contra ou a favor do adiamento?
Eu sou a favor de um maior canal de diálogo com o MEC. A gente tem defendido no Conselho de Secretários de Educação uma aproximação para uma discussão mais minuciosa sobre este calendário. Se por um lado a gente entende que há um calendário das universidades para o ano que vem, por outro a gente entende que, também, há essa apreensão de conteúdos por parte dos nossos alunos do terceiro ano. Então não adianta falar que se defende o adiamento ou que é contra o adiamento, se a gente desconsiderar todas essas variáveis. O que a gente tem feito e formalmente defendido ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é de um canal de diálogo mais estreito. Está prevista uma reunião com o presidente do Inep na semana que vem, em que a gente vai conseguir ir desenhando este processo e que a gente espera que seja um processo que ouça muito os secretários estaduais de educação, pois são aqueles que têm grandes quantidades de alunos do terceiro ano de ensino médio no Brasil.