“Recebi a notícia com muita tristeza, indignação e revolta. A empresa deixou claro outra vez que não dá valor à vida humana”. Assim, Cristiano Mauro Assis Gomes, de 47 anos, se posiciona diante da petição da Backer enviada à Justiça, informando que a cervejaria não vai mais custear o tratamento dele por não ter dinheiro para tal, diante dos bloqueios de bens determinados pela Justiça. O professor de psicologia da UFMG era o único entre as vítimas a receber recursos da empresa para pagamento de procedimentos de saúde.
Cristiano recebeu o dinheiro por dois meses e o usava para custear consultas médicas para realizar simulações elétricas na face, quase que completamente paralisada por conta do consumo do dietilenoglicol, substância química encontrada em diversos lotes da Backer.
“Minha face ficou quase toda paralisada. Não conseguia movimentar minha boca nem minhas sobrancelhas. Isso é uma característica do envenenamento. Por isso, tenho realizado alguns procedimentos elétricos na face que começam a melhorar meus movimentos. Esse tratamento não é coberto por plano de saúde. Antes, era pago pela Backer. Olha a importância disso”, disse.
De acordo com o homem, que ficou 74 dias internado em um hospital localizado na Grande BH, a intoxicação causa, sobretudo, dois prejuízos no corpo humano: limitações no funcionamento dos rins e neurológicas. Nessa última, o tempo é tão importante quanto a execução dos tratamentos.
“Temos poucos estudos sobre a implicação neurológica do dietilenoglicol. Certo é que quanto mais tempo você demora para realizar o tratamento, menos chance você tem de se recuperar. Essa postergação da Backer é uma estratégia cruel e maldosa”, afirma.
De acordo com a Associação das Vítimas da Backer, a cervejaria "utiliza-se de má-fé como uma possível retaliação às vítimas do envenenamento, dias após a Justiça ter acrescentado no processo todos os sócios nominalmente, com seus bens, e algumas empresas”.
A investigação da Polícia Civil, de acordo com a associação, elenca, atualmente, 42 vítimas, sendo nove delas mortas e 33 vivas, entre pessoas que já receberam alta e outras ainda internadas.
Backer apresenta versão
Em nota, a Backer informou que “não possui qualquer recurso financeiro para dar continuidade aos pagamentos do acordo firmado” com Cristiano Mauro Assis Gomes por causa dos bloqueios judiciais.
A empresa também informou que seis vítimas "não apresentaram comprovação médica suficiente, indicando a existência de enfermidades similares à síndrome nefroneural”, causada pela intoxicação por dietilenoglicol.
A cervejaria ainda ressaltou que "nenhuma das vítimas habilitadas no processo comprovou documentalmente as despesas incorridas que não estariam cobertas pelos seus planos de saúde".
A Backer acrescentou que o juiz da causa precisa indicar fontes para custeio do auxílio das vítimas, por meio da venda dos bens bloqueados.
De acordo com a empresa, se o juiz indicar quais bens devem ser vendidos, e caso as vítimas apresentem os laudos médicos comprobatórios, os tratamentos serão custeados.