O primeiro boletim de monitoramento do coronavírus em Belo Horizonte, divulgado ontem pela prefeitura, já trouxe um sinal de alerta para a população. Com base em pesquisas e análises de feitas nos últimos sete dias, os dados mostram o nível de pandemia na cidade na cor amarela, numa escala de três níveis (verde, amarelo e vermelho). De acordo com as autoridades municipais de saúde, o resultado ainda não garante a abertura gradual da economia no dia 25, data prevista pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) caso haja segurança para a população. A flexibilização da quarentena na capital está justamente condicionada à evolução dos indicadores epidemiológicos.
O comitê de enfrentamento do coronavírus usou três variáveis para detectar a expansão da doença em BH: número médio de transmissão, que indica quantos novos casos se originam, em média, a partir de uma pessoa que já está infectada; ocupação de leitos de UTI; e ocupação de leitos de enfermaria. De acordo com os dados, referentes ao dia 12, apenas o primeiro indicador teve nível de alerta amarelo, com índice de 1,09 de transmissão por infectado. Já as taxas de ocupação de leitos apontaram o sinal verde, com porcentagem de 49% na categoria UTI e 30% em enfermaria, o que significa que a cidade conta com leitos em quantidades aceitáveis no momento. Para que o alerta geral fique verde, todos os três indicadores devem estar nessa cor.
Integrante do comitê de enfrentamento da COVID-19 em Belo Horizonte, o infectologista Carlos Starling interpreta o boletim com otimismo: "Os resultados são excelentes. Estamos muito bem. Estamos com quase todos os indicadores em níveis estáveis, com quantidade razoável de leitos de UTI à disposição. Os dados mostram uma epidemia estável. Tem uma discreta tendência de aumento, mas em níveis aceitáveis". Para o médico, entretanto, o melhor caminho continua sendo a quarentena. "Se baixarmos a média de transmissão por infectado para índice inferior a 1, a epidemia some. Se aumentarmos o isolamento social, essa taxa também se reduzirá".
Por enquanto, o município entende que a abertura das atividades no dia 25 não está comprometida nem assegurada totalmente. Caso algum outro indicador passe a ser amarelo, a flexibilização do isolamento social para daqui a 10 dias pode ser barrada.
E é cautela o que recomenda o secretário de Saúde, Jackson Pinto, diante do resultado desse primeiro termômetro. Isso porque o limite da área amarela, ou seja, de atenção, para o indicador de velocidade de transmissão é de 1,20 e, segundo o boletim, houve uma leve alta na curva do gráfico traçado até aqui – no início de maio ele chegou a cair para 1,02 e subiu para 1,05 antes de chegar ao limite atual. “Caso esse movimento se configure em uma tendência de aumento de velocidade de transmissão, haverá necessidade de determinação de nova data de reabertura. Diante dessa volatilidade nos números, pedimos a ajuda da população para o uso correto de máscaras, do álcool e rigor no isolamento. A data de abertura depende do compromisso de toda a cidade em colaborar para que tenhamos maior controle na transmissão”, disse o secretário.
De acordo com a conclusão expressa no boletim “para o nível de transmissão apurado (1,09) é esperado que a ocupação destes leitos suba em 14 dias”.
O secretário explica que a retomada das atividades econômicas e do uso dos espaços públicos será gradual e por fases, sempre que o nível de alerta geral for verde. “Esse nível é atingido quando os três indicadores estiverem verdes e com o parecer favorável do Comitê de Enfrentamento à COVID-19. No caso de algum dos indicadores ser amarelo ou vermelho, o processo de retomada poderá ser interrompido, podendo retroceder até que todos voltem a ficar verdes”, pontua.
A Secretaria Municipal de Saúde esclarece também que, se alguma variável ficar na cor vermelha, o município pode agir com mais rigor nas medidas de quarentena, chegando, inclusive, aderir ao lockdown. Para o número médio de transmissão por infectado (Rt) as faixas de alerta são: de 0 a 1, verde; entre 1 e 1,2, amarelo; acima de 1,2, vermelho. Para a taxa de ocupação de leitos de enfermaria e UTI COVID: até 50%, verde; entre 50% e 70%, amarelo; e acima de 70%, vermelho. O boletim utiliza ainda como indicadores auxiliares para a tomada de decisão o monitoramento do isolamento por meio de celulares (ajuda a entender o comportamento da população) e a projeção do número de casos da doença segundo cenários de contágio (Rt).
Nas notas metodológicas divulgadas junto com o estudo, a prefeitura alerta para limitações dos indicadores, entre elas o fato de os leitos de UTI de Belo Horizonte servirem também ao estado. “Portanto, o controle da epidemia exclusivamente por parte da cidade pode não ser suficiente para manter ou reduzir a ocupação dos leitos.”
Recorde de casos eleva tensão em áreas nobres
Larissa Ricci
Clima de apreensão entre moradores e trabalhadores do Bairro Lourdes, na Região Centro-Sul da capital mineira, a que concentra mais casos de COVID-19 na capital mineira. De acordo com dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) publicados ontem, 37 diagnósticos da doença foram confirmados na localidade, número superior aos verificados isoladamente em qualquer outro bairro da cidade.
Maria Aparecida Borges Evangelista, de 67 anos, mora na Rua Felipe dos Santos e ficou ainda mais em alerta após ter conhecimento das estatísticas divulgadas pela administração municipal. "Com certeza ficamos com medo", disse. Ela garante que está tomando os cuidados de higiene necessários e diz se alimentar bem para manter a imunidade. “Estou saindo apenas para o essencial: vou ao banco, ao supermercado e à farmácia. Percebo que as pessoas não estão respeitando totalmente as recomendações para ficar em casa por aqui”, acrescentou. Mas acredita que o número de pessoas nas ruas não aumentou nos últimos dias. "Está do mesmo jeito", avalia.
O taxista Alexandre Gomes, de 65, voltou a trabalhar na segunda-feira e aguardava passageiros na Praça Marília de Dirceu, também no Bairro de Lourdes. "Não consigo mais ficar em casa, por isso voltei para o trabalho. Hoje, uma moradora passou por aqui e me contou sobre o alto índice de casos da COVID-19 no bairro. Acho que porque é aqui onde moram as pessoas mais ricas", avaliou. Ele ainda ressalta que se espantou com o número de pessoas na rua nessa região: "Muita gente fazendo caminhada e passeando com o cachorro." O taxista diz ter atendido apenas um passageiro na manhã de ontem e afirma que usa álcool em gel no carro para higienizar as mãos e o veículo. "Tem máscara até para passageiro se precisar", acrescentou o profissional, que trabalha como taxista há 30 anos.
Meire Lane Resende, de 59, mora na Rua Alvarenga Peixoto, bem próximo do ponto de táxi. "Muita gente viajou para fora (do país). O vírus estava circulando e as pessoas nem sabiam”, disse, ao avaliar as possíveis causas do número de casos no bairro acumulados desde a chegada da pandemia à cidade. “Vejo uma ou outra pessoa sem máscara, mas os supermercados da região estão bem cheios", observou, acrescentando que está tomando todos os cuidados ao sair de casa. Meire é servidora pública e trabalha de casa. A filha dela, Bruna Miranda, de 26, por sua vez, tem outra hipótese para o alto número de casos na região: "A impressão é de que o bairro está entre regiões muito movimentadas, como se fosse uma área de passagem. Vejo muitas pessoas na rua, mas a minha referência é apenas a do Bairro de Lourdes, já que não tenho saído".
Além do Lourdes, outros três bairros da Região Centro-Sul registram 20 ou mais casos: Belvedere (26), Funcionários (22) e Sion (20). Jeziel Sanches, de 34, é cuidador de idosos. Apesar de morar no Bairro São Marcos, na Região Nordeste da cidade, ele trabalha no São Pedro, na Região Centro-Sul. Para chegar até o endereço, passa pelo Funcionários. "Não tem opção, preciso trabalhar. O idoso não tem como ficar sozinho", disse. "Preciso redobrar a atenção. O número está crescendo e cuido de um homem que já é grupo de risco", afirma.
Dos casos confirmados da COVID-19 em Belo Horizonte, 639 estão georreferenciados pela prefeitura, o que equivale a cerca de 60% do total, já que o boletim de ontem registrava1.068 diagnósticos na cidade. O Bairro Castelo, na Pampulha, tem 18 diagnósticos. Serra (Centro-Sul), com 13, Prado (Oeste), com 12, e Santa Efigênia (Leste), com 12, fecham a lista dos 10 bairros mais infectados pela doença em Belo Horizonte. Vale ressaltar que os dados registram apenas casos confirmados da doença e se referem ao bairro de residência. Ou seja, nada garante que a infecção tenha sido contraída na mesma localidade.
Minas registra 146 mortes
Márcia Maria Cruz
Minas registrou mais sete mortes e chegou a 146 óbitos pela COVID-19 ontem. De acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES), já são 4.196 casos confirmados da doença. Desse total, 1.956 pessoas já estão recuperadas. Um total de 304 municípios registra diagnósticos positivos da enfermidade.
Belo Horizonte registrou a morte de uma mulher de 46 anos e agora contabiliza 29 óbitos e 1.059 casos confirmados. O boletim também confirma uma morte em cada uma das seguintes cidades: Uberaba, Mariana, Boa Esperança, Muriaé, Mar de Espanha e Carmo do Cajuru.
O governo de Minas mudou a forma de apresentar os dados desde quinta-feira. Passou a incluir o número de pacientes recuperados e o número de exames realizados. Foram realizados 16.953 testes, com resultado positivo para 824 pessoas e 15.053 negativos. Aguardam o resultado 933 exames. Depois de ultrapassar 100 mil casos suspeitos, o governo suprimiu essa informação do boletim.
AVANÇO O novo coronavírus chegou a 304 municípios mineiros, que tiveram confirmação para casos da doença. Depois de Belo Horizonte, as cidades em destaque são Juiz de Fora (15 óbitos e 385 casos confirmados), Uberlândia (11 mortes e 351 casos) e Governador Valadares (quatro óbitos e 56 casos).
De acordo com o boletim, 758 pessoas estão hospitalizadas para tratar da COVID-19 e outras 1.718, que tiveram diagnóstico positivo, estão em isolamento domiciliar. O número de casos confirmados é semelhante entre homens (2.033) e mulheres (2.017). A maior parte dos casos de contaminação está na faixa dos 20 aos 59 anos (78%).
Entre os pacientes com diagnóstico confirmado estão 742 idosos. Nesse grupo há maior letalidade: os maiores de 60 anos representam 75% dos óbitos no estado. Das pessoas que não resistiram ao novo coronavírus, 88% apresentavam enfermidades associadas, como diabetes, obesidade e doença renal.
Gripe mata 13
Treze pessoas morreram em decorrência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) provocada por vírus influenza em Minas entre o fim de dezembro e quinta-feira, aponta boletim da Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), que trata da ocorrência de vírus respiratórios, principalmente a gripe e seus subtipos, no estado. Segundo o boletim, 8.787 casos de SRAG foram notificados em Minas no período, incluindo os pacientes com COVID-19. Desse total, 107 pessoas testaram positivo para influenza, incluindo as 13 que morreram e 28 haviam sido vacinadas. No informe, a secretaria salienta ainda que muitas amostras sobre a gripe não têm sido liberadas oportunamente devido à grande demanda para a aferição de amostras ligadas à pandemia do coronavírus. Há ainda 51 óbitos por SRAG em investigação.