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Estado de Minas COVID-19

Antes rejeitada, telemedicina vira aliada contra o coronavírus

Avaliação médica remota, antes repudiada por grande parte dos profissionais, se consolida nas redes pública e particular de BH como forma de evitar superlotação no sistema de saúde


17/05/2020 04:00 - atualizado 17/05/2020 09:27

Em março, quando a escalada da COVID-19 começava, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu reconhecer a possibilidade de atendimento médico a distância durante o combate à virose, a chamada telemedicina
Em março, quando a escalada da COVID-19 começava, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu reconhecer a possibilidade de atendimento médico a distância durante o combate à virose, a chamada telemedicina (foto: Janey Costa)
A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina da população em todos os aspectos, do trabalho ao lazer, passando pelo consumo, as relações familiares e a forma de cuidar da própria saúde. Se muitos profissionais foram obrigados a adotar o teletrabalho, também conhecido como home office, a medicina, a área mais exigida durante a crise mundial, transformou o que era uma modalidade polêmica em uma das soluções para enfrentar a nova realidade.

Em março, quando a escalada da COVID-19 começava a ficar evidente no Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu reconhecer a possibilidade de atendimento médico a distância durante o combate à virose, a chamada telemedicina. Na prática, o que era antes restrito à pesquisa e à comunicação entre profissionais de saúde também foi estendido à relação médico x paciente. Tudo isso com um único objetivo: desafogar as unidades de saúde.

Tudo foi regularizado a partir de um ofício encaminhado pelo CFM ao Ministério da Saúde. O documento estendeu os serviços oferecidos pela telemedicina no Brasil, que antes eram regulados por uma resolução de 26 de agosto de 2002. O antigo documento só permitia o serviço “com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em saúde” – mas não para avaliação de pacientes.

O novo texto mantém essa atribuição, mas também permitiu que médicos orientem pacientes remotamente (teleorientação), bem como monitorem os “parâmetros de saúde e/ou doença”, o telemonitoramento. Com isso, um profissional pode, por exemplo, recomendar que uma pessoa fique em isolamento domiciliar ou procure uma unidade de pronto-atendimento imediatamente.
 
Em Belo Horizonte, a telemedicina se tornou realidade durante a pandemia – e tanto na rede particular, que largou na frente, quanto no SUS. Por meio de parcerias, desde 7 de abril, a prefeitura da capital oferece o serviço aos moradores da cidade cadastrados em seu sistema de saúde. A consulta se destina a pacientes que apresentam sintomas da COVID-19 e tem como objetivo a diminuição da circulação de pessoas pela cidade e o alívio dos equipamentos públicos de saúde. O atendimento funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, por meio do site da prefeitura ou pelo PBH App (confira abaixo o passo a passo).

“É uma oferta para moradores de Belo Horizonte que têm cadastro no nosso sistema de prontuário eletrônico. Temos em média 150 consultas agendadas e 112 realizadas por dia. Mas poderíamos ter marcado até três vezes mais. Precisamos de divulgação desse serviço, porque tem sido superefetivo para nós e para os usuários”, destaca o gerente da Rede Complementar da Secretaria Municipal de Saúde, André Luiz de Menezes.

2 milhões já cadastrados


Vale ressaltar que somente quem tem cadastro na rede de saúde da prefeitura pode ter acesso ao serviço. Contudo, para André Luiz de Menezes, esse fator não limita a telemedicina da PBH. “Estimamos que haja em torno de 2 milhões dos habitantes de BH já cadastrados. Esse não é um problema”, garante. “Nossa proposta é ter em torno de 200 profissionais deslocados para esse atendimento. São os médicos voltados à atenção secundária, que ficaram sem função depois que a gente precisou cancelar, por força de orientação da Agência Nacional da Saúde, a maior parte das nossas consultas eletivas”, completa o gerente da Saúde municipal.

Antes da prefeitura, hospitais e profissionais de saúde independentes aderiram à novidade. Uma das pioneiras foi a Unimed-BH, que oferece o serviço de consulta on-line desde 18 de março, por meio do endereço www.unimedbh.com.br/coronavirus. 

Até o último dia 14, o serviço já havia promovido 15.108 teleatendimentos. Considerando a mesma data, 618 clientes da empresa tinham seus estados de saúde acompanhados remotamente, mas esse número chegou a ultrapassar a marca de 700. Ao todo, cerca de 12,2 mil pacientes já foram acompanhados via telemonitoramento.

Segundo números da própria cooperativa, a ferramenta reduziu em  65% os atendimentos presenciais em suas unidades de pronto-socorro. “O objetivo é garantir o acesso dos clientes ao atendimento médico no momento em que precisam, sem que tenham que sair do isolamento social. Com essa ação, geramos mais segurança aos clientes e à equipe de profissionais da assistência. Nesse sentido, as novas tecnologias são grandes aliadas”, afirma o diretor-presidente da Unimed-BH, Samuel Flam. Desde o início do serviço, 111 médicos da cooperativa já atenderam remotamente.
 
 

Atendimento remoto em números

 
Rede pública

  • 150 - consultas a distância agendadas por dia, em média, no SUS-BH
  • 112 - teleconsultas promovidas em média pela saúde pública na capital por dia
  • 200 - médicos disponíveis para o serviço

Rede particular

  • 15.108 - teleatendimentos de 18 de março a 14 de maio, apenas na Unimed BH
  • 65% - a menos de procura presencial pelo pronto-atendimento da cooperativa
  • 111 - médicos atendendo remotamente
 

Especialista recomenda cautela com a novidade

 
Para o médico Leandro Duarte de Carvalho, professor e coordenador do Eixo Ético-Legal da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, no entanto, é preciso cautela ao usar o serviço. “Médicos são treinados para ter profunda capacidade de reflexão sobre o processo de adoecimento. O diagnóstico de uma doença humana é um ato complexo de raciocínio, que envolve informações colhidas da anamnese (entrevista realizada pelo profissional de saúde com o paciente), observações clínicas por meio do exame físico e, quando necessário, informações adicionais via exames complementares, que auxiliam o médico em seu diagnóstico e prognóstico”, ressalta o profissional. “Não há como substituir pelo ‘digital’ este ato tão humano de saber ouvir, dialogar, acolher, examinar e cuidar de um paciente”, completa.
 
Apesar de tratar o ofício enviado pelo Conselho Federal de Medicina ao Ministério da Saúde como medida excepcional, Leandro Duarte de Carvalho ressalta que a pandemia certamente servirá para aquecer ainda mais o debate em torno da telemedicina. “É certo que o mundo não será o mesmo – já não é – quando a pandemia passar, o que pode abrir possibilidades de novas reflexões não só quanto à telemedicina, mas também ao teletrabalho”, pontua.
 
Com base nessa nova realidade, o professor criou, ao lado do engenheiro de software Fábio Paiva, o COVID19bot. Apesar de não classificar o projeto como telemedicina, Leandro Duarte afirma que decidiu usar uma ferramenta tecnológica comum a todos nós, o WhatsApp, para informar a população sobre a doença. “O que desejávamos era facilitar o acesso desse conhecimento às pessoas, por meio de perguntas e respostas, com vídeos e interações de fácil compreensão e de fácil acesso, dispensando dispositivos mais complexos (computador, tablets), com a utilização do WhatsApp”, afirma. Para conferir como funciona a tecnologia, basta enviar uma mensagem de WhatsApp para o número +1 (929) 368-5291.

HISTÓRICO No ano passado, em fevereiro, a Resolução 2.227 do Conselho Federal de Medicina regulamentou a telemedicina no Brasil. O texto permitia que médicos realizassem “consultas on-line, assim como telecirurgias e telediagnóstico, entre outras formas de atendimento médico a distância”.
Em 16 de abril, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou a Lei 13.989/2020, que autoriza o uso da telemedicina durante a pandemia do novo coronavírus. Já no último dia 8, o governador Romeu Zema (Novo) lançou o serviço de telemedicina por meio do aplicativo Saúde Digital MG. A partir dele, é possível marcar consultas, ser direcionado a um atendimento médico on-line ou mesmo ter a suspeita descartada para a doença. 
 

Triagem médica na palma da mão em BH


Como procurar teleconsulta no SUS-BH para casos suspeitos de COVID-19
 
  1. Acesse o portal da prefeitura ou o PBH APP e se cadastre para uma Consulta On-line Coronavírus;
  2. Após confirmar o cadastro no SUS-BH, o paciente entra em uma tela para escolha da data e horário da teleconsulta, dentro da disponibilidade da rede SUS;
  3. No dia e hora agendados, o usuário entrará novamente no sistema com seus dados cadastrais (CPF e data de nascimento) e terá acesso à consulta por vídeo;
  4. De acordo com o diagnóstico, o usuário poderá receber orientações de isolamento domiciliar e receita de medicamento que seguirá escaneada no e-mail de cadastro informado;
  5. Com a impressão da receita, o paciente poderá buscar o   medicamento no Centro de Saúde mais próximo de sua casa
 Fonte: Secretaria Municipal de Saúde
 
 


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