O impacto negativo do isolamento social em decorrência da pandemia do novo coronavírus é maior entre a população LGBT. É o que mostram os dados preliminares de pesquisa realizada pelo coletivo #VoteLGBT em todo o país. Iniciada em 28 de abril, a iniciativa apresenta hoje, Dia Internacional contra a LGBTfobia, os primeiros resultados do estudo, inédito no país.
Até a quinta-feira, foi disponibilizado um questionário on-line com 50 perguntas sobre trabalho, renda, saúde, acesso à informação e atuação dos gestores públicos durante a pandemia. Participaram, anonimamente, 10.065 pessoas.
Os problemas de saúde mental durante o isolamento social são a maior preocupação dos entrevistados, afirmaram 44% das lésbicas; 34% dos gays; 47% dos bissexuais e pansexuais; e 42% das transexuais. Já 21,6% do mesmo grupo de pessoas informou estar desempregado. A título de comparação, a taxa de desemprego no Brasil durante o primeiro trimestre de 2020 foi de 12,2%, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Várias questões explicam a dificuldade de a nossa comunidade se inserir no mercado de trabalho. Há preconceito contra ela, então a dificuldade de acesso é maior. Por isso o aumento da taxa”, explica a demógrafa Fernanda De Lena, uma das coordenadoras da pesquisa e também integrante do #VoteLGBT.
O coletivo comparou a taxa de desemprego durante a pandemia e a da última pesquisa realizada, durante a Parada LGBT de São Paulo, em junho de 2019. “Naquela época, a taxa já era alta, de 15,6%”, continua Fernanda. Para ela, o agravamento da questão da saúde mental na comunidade é premente. “Existem várias pesquisas sobre isso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já chamou a atenção para que deve ser dada uma importância maior para o fato.”
Na pesquisa do coletivo, 28% dos entrevistados afirmaram já ter recebido diagnóstico prévio de depressão. A marca é quase quatro vezes maior que a registrada entre a população brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (2013).
Rebelião de Stonewall
Os dados divulgados hoje são apenas uma parte da pesquisa. Como o questionário pôde ser respondido até três dias atrás, não houve tempo hábil para que os analistas trabalhassem em todo o material. A divulgação completa será em 28 de junho, aniversário da Rebelião de Stonewall, motins ocorridos em 1969, em Nova York, que levaram à luta pelos direitos LGBT.Além de inédita para a comunidade LGBT, a pesquisa é também uma novidade para o próprio coletivo que a realizou. “Pela internet, a pesquisa teve um número de acesso muito maior do que nas outras que realizamos, já que temos um histórico de fazer pesquisas de rua. E nas paradas LGBT não conseguimos ter esta capilaridade”, explica Fernanda.
Por outro lado, o questionário on-line traz uma desvantagem. “(Para participar) A pessoa tem que ter um aparelho que tenha acesso à internet. Se ela não tem acesso, não está sendo pesquisada. Já a rua é mais democrática, e por isso conseguimos atingir diversas parcelas da nossa comunidade.”
Criado em 2014, em São Paulo, o coletivo nasceu para dar mais visibilidade às candidaturas LGBT nas eleições daquele ano. Nesse período, a iniciativa aumentou seu poder de abrangência, realizando pesquisas anuais nas paradas de São Paulo e Belo Horizonte.
Durante a pandemia, o coletivo criou o LGBTFlix, que apresenta 200 vídeos e filmes com temática voltada para a comunidade, além do Juntas em Tempos de Treta, espaço que reúne textos atualizados semanalmente. Para acessar é só entrar no site votelbgt.org.
DADOS DA PESQUISA
10.065 pessoas participaram
50 perguntas foram respondidas no questionário
20,7% dos participantes não possuem renda
21,6% estão desempregados
28% já receberam diagnóstico de depressão
93% consideram essencial o isolamento social
97% consideram péssima a atuação do presidente Jair Bolsonaro
Fonte: #VoteLGBT