“Bom, não tivemos outra opção, senão remarcar a data do casamento. Cancelar nunca passou pela minha cabeça; afinal, o casamento religioso e a cerimônia são um sonho”, contou a médica Juliana Hosken, que teve que remarcar o casório em razão da pandemia do coronavírus. Ela e o noivo, Luiz Henrique, são médicos na Bahia, e estavam com os planos de se casar em 11 de julho, em João Monlevade, no interior de Minas Gerais, cidade natal da noiva.
Juliana conta que o casal entraria em recesso em abril para finalizar os planejamentos da cerimônia na cidade mineira. “Nossas férias foram suspensas no mês de março e também fomos proibidos de tirar férias até meados de julho”, explica a noiva.
“Eu não gosto de correr riscos. Então, logo no início da pandemia, já considerei a possibilidade de adiar o casamento”, comentou. Entretanto, a noiva conta que estava com medo de a remarcação não ser possível, já que envolve o contrato com 15 fornecedores.
Apesar da situação, ela comenta que todos os fornecedores foram “muito compreensíveis e solícitos”. “Eles me passaram as datas disponíveis próximo ao final do ano, e, graças a Deus, encontrei uma data em que todos estavam disponíveis”, explica. A cerimônia foi remarcada para o dia 28 de novembro, data escolhida pelo casal.
Juliana contou ainda que nenhum fornecedor cobrou multa. “Parece que estão entendendo o cenário e precisam ponderar algumas cláusulas contratuais”, completa. A noiva explica que criou uma relação de confiança com todos os fornecedores e, por isso, não esperava uma reação diferentes deles. “São todos especiais! Sonham comigo.”
Com a remarcação da cerimônia, Juliana conta que não tem a intenção de casar on-line. “Sou mais da vida real e do afeto presencial. Sonho com a igreja da minha cidade, entrando com meu pai e todos os convidados presentes”, comenta. Mas, em relação ao casamento civil, a noiva considera oficializar o matrimônio nos papéis, caso os cartórios da Bahia estejam funcionando, em julho, para emitir a certidão.
“Um choque”
Daniela Godoy também está em uma situação parecida com a de Juliana. Ela e o noivo, Bruno Superbi, iriam se casar no civil e receber a 'bênção dos pais' em 13 de junho, também em João Monlevade. Porém, com a pandemia, os planos mudaram. “A princípio foi um choque, foi algo totalmente inesperado, até porque já estava tudo organizado para o casamento se realizar no mês de junho”, comenta a noiva.
Ao contrário de Juliana, Daniela diz que tem interesse em fazer o matrimônio no virtual. “Como, por agora, irei casar apenas no civil, acredito que seria possível fazer on-line com a presença dos noivos e das testemunhas”.
Ela explica que pretende remarcar a cerimônia religiosa para o ano que vem, mas o maior problema para isso está sendo conciliar as datas com os fornecedores. Com o impasse, a noiva cogitou cancelar o evento, mas também enfrenta dificuldades para isso. “Alguns fornecedores já até avisaram que não teriam como ressarcir o valor já pago, fazendo de tudo para que apenas adiássemos e não cancelar tudo”, comenta.
Onda de adiamentos
Juliana e Daniela não estão sozinhas diante do dilema que enfrentam. Segundo pesquisa do site de casamentos iCasei, mais de 60% dos casais que marcaram o casório para o primeiro semestre de 2020 deram uma pausa na organização do matrimônio por não se sentirem confortáveis. Desde março, mais de 3.500 noivos brasileiros adiaram o casamento no site iCasei.
A pesquisa também aponta que 41% dos noivos não têm certeza sobre o momento e o cenário dos próximos meses. Por isso, muitos estão aguardando mais um pouco para remarcar a data. “O maior problema, no meu ver, são alguns fornecedores que nos dão a opção de remarcação para apenas uma vez, como tá tudo incerto fica muito difícil a gente já ter uma data futura”, explica Daniela.
Além dos noivos, 64% dos fornecedores de serviços também têm dificuldade em “sincronizar a agenda com os outros fornecedores” e citam a “agenda livre” como um desafio. Apesar disso, a cerimonialista Talita Trindade afirma que os prestadores de serviço estão empenhados em ajudar na remarcação. “Sempre buscando uma melhor alternativa para o cliente”, explica.
“Eu tinha três casamentos marcados para maio. Os noivos desmarcaram, negociaram com os fornecedores para ficar com um ‘crédito’ e conseguir remarcar futuramente”, conta Isaura Silva, da Favorita Comunicações e Eventos. Segundo a cerimonialista, os fornecedores não estão devolvendo o dinheiro, mas todos estão sendo muito compreensivos.
Para Isaura, negociar o crédito é a medida mais segura no momento, já que a remarcação para o segundo semestre não garante a realização do evento. “A gente ainda não sabe se vamos poder fazer eventos nesta época ou não. Então os noivos estão esperando essa situação terminar”, completa.
Apesar de todo o cenário, Isaura observa que a pandemia não está atrapalhando a marcação para casamentos futuros. “Já fechamos contratos para agosto de 2022”. Talita complementa que o mercado tem procurado alternativas de eventos para chamar atenção de novos clientes e realizado “promoções para aderir novos contratos 2021 e 2022”.
*Estagiária sob supervisão do editor Álvaro Duarte