“No passado, as pessoas, talvez, não procurassem tanto o atendimento médico. Hoje, estão procurando. Agora, podemos estar tendo, simultaneamente, aumento no número de gripes, resfriados ou algum problema respiratório, mas que não são COVID-19. Quando as pessoas têm sintomas (do novo coronavírus), são testadas. Se nós estivéssemos maquiando dados, como sugeriram, isso estaria refletido nos óbitos e nas internações, e não temos números expressivos de mortes e internações. Então, dá para ver, claramente, que é um surto viral que não a COVID-19”, declarou.
Nesta segunda, o EM mostrou que há um aumento de 838% no número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda (SRAG). A quantidade de afetados pela síndrome, por sua vez, cresceu 691%.
Zema disse que a questão foi esclarecida junto ao secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral. O chefe do Executivo reforçou a necessidade das medidas de proteção e pediu a colaboração da população.
"Ainda estamos no meio de uma guerra. A guerra contra o coronavírus será vencida em alguns meses e, talvez, só no ano que vem. O vírus veio para ficar. Então, precisamos continuar tomando todas as medidas de precaução possíveis: o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização (das mãos) várias vezes ao dia. Mas estou muito confiante, pois até o momento, Minas Gerais é o segundo melhor estado no combate à pandemia, atrás apenas do Mato Grosso", afirmou. "Vamos ser, no futuro, um caso de sucesso a ser estudado", completou.
"A situação de Minas ainda é segura. Vamos assistir a um aumento de casos, mas tudo dentro do controle. Não podemos ter mais pessoas necessitando de atendimento que leitos, mas estamos longe dessa situação", salientou ele.
Defasagem nos registros
Segundo o mais recente boletim do coronavírus divulgado pela saúde estadual, Minas Gerais contabiliza 7 mil casos e 230 mortes em decorrência da infecção. O estado, no entanto, precisa lidar com a demora na transferência dos números sobre óbitos para a base de dados oficial. Os registros têm chegado à plataforma do governo cerca de uma semana após serem lavrados em cartório.
Zema admitiu o problema, mas disse que o Executivo trabalha para encurtar o prazo. “O ideal seria que tivéssemos todos os casos em tempo real, mas temos de lembrar que, muitas vezes, há um óbito em uma região remota do estado, o teste precisa ser encaminhado, leva tempo para chegar e, depois, leva tempo para a resposta. Já solicitei que esse tempo seja encurtado. Uma semana é um prazo muito longo, podendo, sim, prejudicar nossas decisões”, assegurou.
Restrições nas divisas não estão descartadas
Questionado sobre a possibilidade de instalar barreiras nas divisas de Minas para evitar a disseminação do vírus, Zema disse que o estado monitora a origem dos usuários do sistema de saúde.Fazendo menção ao Rio de Janeiro, unidade federativa que faz fronteira com Minas Gerais, o governador salientou que, caso o número de pacientes vindos de outras partes do Brasil passe a prejudicar o atendimento aos mineiros, restrições para a entrada no estado não estão descartadas.
“Até o momento, temos notícias que algumas pessoas estão se tratando em Minas, mas não aprofundamos para ver se são pessoas que estavam trabalhando e adoeceram no estado, se estavam viajando e tiveram que procurar cuidados médicos ou se fugiram do Rio de Janeiro e vieram para Minas. Caso isso comece a acontecer em quantidade que venha a prejudicar, com certeza teremos de adotar alguma medida sim”, pontuou.
Cidades não estão em ‘colapso’
O governador enalteceu a atuação dos prefeitos no enfrentamento à pandemia. Segundo ele, nenhum município viu o sistema de saúde colapsar ou entrar em estado de extrema dificuldade.“Pelo que vi, em todas as regiões do estado os prefeitos estão em situação de normalidade. Não escutei de nenhum deles ‘o meu sistema de saúde está caminhando para o colapso, tendo sobrecarga’. É muito bom saber que eles estão atentos, fazendo ações locais para melhorar os atendimentos, caso necessário. Estão todos muito empenhados e preocupados com a situação”.
Leia a íntegra da entrevista com Romeu Zema:
Enquanto Jaboticatubas, por exemplo, decretou lockdown, BH reabriu o comércio. Como o senhor avalia a situação?
São situações com as quais vamos conviver daqui por diante. A grande maioria dos municípios do interior do estado, inclusive alguns da Região Metropolitana de Belo Horizonte, já havia reativado, parcialmente, as atividades econômicas. Casos (de cidades) onde houver uma grande incidência de contaminados exigirão medidas restritivas dos prefeitos. Tenho assistido a isso com muita naturalidade. Procedimentos do tipo serão o 'novo normal' daqui por diante. No geral, a situação de Minas ainda é segura. Vamos assistir a um aumento de casos, mas tudo dentro do controle. Não podemos ter mais pessoas necessitando de atendimento que leitos, mas ainda estamos longe dessa situação.O senhor disse que estamos a caminho do pico. Mesmo assim, vê com bons olhos a reabertura parcial do comércio na capital?
As pessoas dependem dos empregos. As empresas precisam vender. Temos de lembrar que o vírus veio para ficar no meio de nós. Não temos condições, infelizmente, de aguardar um ou dois anos (por uma vacina). No mundo teórico, o ideal seria isso, mas não dá para ficar tanto tempo. E, mesmo que aguardássemos um ano, o vírus ia, de certa maneira, atingir algumas pessoas, pois não iria sumir. Então, temos de aprender a conviver com essa nova realidade.
Há 8.099 casos de Síndrome Respiratória Aguda em 2020, contra apenas 1.024 no mesmo período de 2019. Boa parte desses casos não foi submetida ao teste para a COVID-19. Por isso, o estudo, feito pela Universidade Federal de Uberlândia, suspeita que pode estar havendo subnotificação. Como o senhor avalia isso?
É um dado bastante interessante e, inclusive, fiz questão de esclarecer esse ponto com o secretário de Saúde (Carlos Eduardo Amaral). O que tem acontecido, e faz todo sentido, é que, devido ao coronavírus estar tão disseminado no imaginário das pessoas, muitos dos que adquirem uma gripe ou um resfriado acabam procurando assistência médica para saber se têm, ou não, a COVID-19. E, muitas, vezes, o que (o diagnóstico) acusa é essa síndrome. Antes, as pessoas simplesmente iam às farmácias e tomavam algum medicamento. No passado, as pessoas, talvez, não procurassem tanto o atendimento médico. Hoje, estão procurando. Agora, podemos estar tendo, simultaneamente, aumento no número de gripes, resfriados ou algum problema respiratório, mas que não são COVID-19. Quando as pessoas têm sintomas, são testadas. Se nós estivéssemos maquiando dados, como sugeriram, isso estaria refletido nos óbitos e nas internações, e não temos números expressivos de mortes e internações. Então, dá para ver, claramente, que é um surto viral que não a COVID-19.
O senhor pensa em instalar algum tipo de barreira para evitar que casos venham de outros estados?
Até o momento, temos notícias que algumas pessoas estão se tratando em Minas, mas não aprofundamos para ver se são pessoas que estavam trabalhando e adoeceram no estado, se estavam viajando e tiveram que procurar cuidados médicos ou se fugiram do Rio de Janeiro e vieram para Minas. Caso isso comece a acontecer em quantidade que venha a prejudicar (o atendimento à população mineira), com certeza teremos de adotar uma medida, sim.
Em todo o mundo, o planejamento para deixar o isolamento tem utilizado as estatísticas. Em Minas Gerais, há uma defasagem de cerca de uma semana na contagem dos óbitos. O senhor vê possibilidades de corrigir essa falha, para que o estado tenha mais segurança ao trabalhar a saída do isolamento?
O ideal seria que tivéssemos todos os casos em tempo real, mas temos de lembrar que, muitas vezes, há um óbito em uma região remota do estado, o teste precisa ser encaminhado, leva tempo para chegar e, depois, leva tempo para a resposta. Já solicitei que esse tempo seja encurtado. Uma semana é um prazo muito longo, podendo, sim, prejudicar nossas decisões. Dentro do possível, orientei a secretaria de Saúde (sobre o tema). Na semana passada, tive uma videoconferência com mais de 30 prefeitos para me inteirar sobre a realidade de diferentes regiões do estado. Além de trabalhar com dados e relatórios, nada melhor que discutir e sentir (as situações). Pelo que vi, em todas as regiões do estado os prefeitos estão em situação de normalidade. Não escutei de nenhum deles ‘o meu sistema de saúde está caminhando para o colapso, tendo sobrecarga’. É muito bom saber que eles estão atentos, fazendo ações locais para melhorar os atendimentos, caso necessário. Estão todos muito empenhados e preocupados com a situação.
O senhor pretende rever, em algum momento, a lista de atividades presentes nas diversas etapas do Minas Consciente?
O Minas Consciente é um indicador que está longe do ideal, e vai ser aperfeiçoado com o tempo. Já solicitei uma avaliação ao grupo que coordena os critérios. Tenho deixado claro ao Ministério Público, ao Ministério Público do Trabalho e a todos que o Minas Consciente é uma orientação, longe de ser uma verdade absoluta. O vírus, até hoje, não foi bem compreendido. Seria muita pretensão nossa fazer um programa sobre algo que nem os cientistas entendem 100%.
O senhor pensa em algo para reaquecer o Turismo quando as atividades econômicas forem gradualmente retomadas?
Essa é uma grande preocupação, pois trata-se de uma atividade muito relevante. Vi fotos da Europa, onde algumas praias foram liberadas com várias divisões, limitadas a duas pessoas. Acaba sendo uma alternativa. Vamos precisar usar da nossa criatividade, pois não podemos expor ninguém ao risco. Neste momento, ninguém está disposto a viajar. O nosso novo secretário (Leônidas Oliveira) está tomando uma série de ações, principalmente voltadas à cultura. Diversos artistas ficaram sem o ganha-pão, e ele (Leônidas) está preparando lives para remunerar os artistas, logicamente ganhando muito menos que antes, mas com condições de passar por um momento tão difícil.
Os jogos de futebol terão público apenas no ano que vem? O governo pode entrar no debate?
Os times voltaram a treinar, o que já é um bom sinal, pois vários jogadores devem ter ficado fora de forma durante o confinamento. O primeiro passo já foi dado, mas não tenho notícias da Federação Mineira de Futebol (FMF) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). As federações têm maturidade e estrutura suficiente para definir. Já temos muitos problemas, que impactam a grande massa da população, para lidar. Vamos deixar o assunto para quem entende.
Na semana passada, o senhor disse não descartar um retorno às aulas presenciais apenas no ano que vem. O que está sendo analisado para debater o tema?
Isso foi um comentário despretensioso. Eu disse que (o retorno) poderia ser daqui um, dois, três meses ou mais adiante. No momento, não há previsão efetiva de data. Lá fora, há várias escolas colocando divisórias de plástico ou acrílico entre os alunos. Hoje, a situação do estado não permitiria adaptações do tipo em todas as mais de três mil escolas que temos. E, mesmo assim, ainda haveria risco, pois no intervalo as crianças se encontram. Nossa preocupação, hoje, é melhorar e tornar viável e melhorar o ensino a distância. Sei que não é tão bom quanto o ensino presencial, mas é o que temos condições de fazer no momento.
Como está a questão dos pagamentos ao funcionalismo? Minas Gerais tem créditos a receber do governo federal?
Estou muito satisfeito, pois na semana passada, concluímos o pagamento do 13°. Com seis meses de atraso, mas conseguimos terminar. Pagamos, também, a primeira parcela da folha de pagamento. A segunda será paga nesta semana e, pelo menos por uma semana, estaremos em dia com o funcionalismo. Está vindo uma ajuda federal, de quatro parcelas de (cerca de) R$ 750 milhões. Vamos receber quase R$ 3 bilhões, mas isso está longe de resolver nosso problema de caixa, pois a nossa queda na arrecadação foi muito maior. O valor deve suprir aproximadamente 40% da queda, então ainda teremos muitos problemas nos próximos meses. Estamos fazendo de tudo para que o funcionalismo do Executivo seja menos afetado o possível. Mas, infelizmente, eles devem continuar recebendo com algum atraso. Os R$ 3 bilhões são de uso livre, mas há recursos destinados exclusivamente à saúde (cerca de R$ 446 milhões).
Qual a situação do coronavírus no estado? O senhor ainda tem muitos temores? Ainda estamos no meio de uma guerra. A guerra contra o coronavírus será vencida em alguns meses e, talvez, só no ano que vem. O vírus veio para ficar. Então, precisamos continuar tomando todas as medidas de precaução possíveis: o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização (das mãos) várias vezes ao dia. Mas estou muito confiante, pois até o momento, Minas Gerais é o segundo melhor estado no combate à pandemia, atrás apenas do Mato Grosso. Quero que Minas, da mesma maneira que fez tão bem até aqui, continue fazendo. Muito do que temos conseguido é por conta das características do mineiro, criterioso, confiante e, de certa forma, desconfiado. Vamos continuar o que estiver ao nosso alcance e, no futuro, seremos um caso de sucesso a ser estudado. Em outros estados, muitas vidas foram perdidas, mas em Minas conseguimos salvar tantas.