Um saboroso mingau de aveia, café com leite, missa pela TV, um banho e depois a leitura que é lei há 45 anos. É com esse ritual que Julia Adriana Camelo Finelli, de 99 anos, começa o dia. Até a hora do almoço, o roteiro inclui devorar reportagens, artigos e crônicas do Estado de Minas, que a assinante, festejando hoje seus 100 anos, diz não poder faltar. As páginas vêm sendo parceiras fiéis por quase metade da vida, conta. “É um grande aprendizado. Fico por dentro das coisas da atualidade, é muito instrutivo.” Tanto que, todas as manhãs, a leitora espera ansiosa pela entrega do jornal. “Não fico sem o Estado de Minas”, conta.
Nos últimos meses, na ordem do dia está o assunto coronavírus: dona Julia acompanha com atenção a cobertura sobre a pandemia, embora familiares tenham aconselhado cautela, para evitar preocupação excessiva. Mas ela não abre mão de estar a par das notícias. “Agora é só computador e celular. Os jovens quase não querem mais saber da leitura. A forma de se informar mudou muito”, constata. Mas, mesmo considerando a superficialidade que pode vir da avalanche de informações da era da tecnologia, dona Júlia reconhece que há um acesso maior ao conhecimento.
A leitora fiel é o que se pode chamar de uma pessoa inteirada: ativa, com memória invejável, é totalmente independente e se orgulha de dar conta de tudo o que precisa. Uma cena graciosa é quando se assenta na cama para ler o jornal e recebe a companhia dos bisnetos Nicolas, de 2 anos, e Cecília, de 5, que se espelham na bisavó e a acompanham, fingindo que também estão lendo.
Junto do costume da leitura, veio a dedicação à escrita – ela conta que alimenta todos os dias, desde 1998, um diário pessoal. E assunto é que não falta: dona Julia tem quatro filhos, 15 netos, oito bisnetos, e mais dois estão a caminho. Hoje, vivendo com um dos filhos, a nora e duas netas, diz que sempre cultivou boas amizades.
Essa senhora que hoje completa um centenário mereceria uma festa de arromba – o que, em tempos de pandemia, não será possível. Mas o bolo e um café para acompanhar não vão faltar. Ela espera também a presença de filhos e netos que, mesmo com todos os cuidados, não vão deixar de cumprimentá-la. Mas as restrições do momento não fazem que essa mulher de fé deixe de ser grata: “Tenho muito o que agradecer a Deus. Estou andando, falando, enxergando... Apenas o ouvido que está uns 50%. Dou graças pela família maravilhosa e pelos amigos que tenho. É a vontade de Deus, é Ele quem tudo determina”.