“Mandei mensagem para as pessoas da minha família dizendo que as amava muito, porque não sabia se voltaria.” O depoimento é do vigilante de transporte de valor Eduardo Custódio de Castro, 43 anos, ao se lembrar da ocasião em que foi transferido para uma unidade de terapia intensiva (UTI) por causa da covid-19. Não foi muito diferente com a funcionária pública, Havany Roraima Ferreira, 54. “Não vou sair”, pensou a moradora de Águas Claras, quando recebeu a notícia de que precisaria de tratamento intensivo em função da doença. Os dois, no entanto, superaram o coronavírus após dias de incerteza e medo, entre os momentos mais graves e a recuperação.
Após 49 dias hospitalizado, Eduardo voltou a respirar por conta própria e a sonhar com uma vida normal, na segunda-feira, quando recebeu alta médica. Ele deixou o Hospital Santa Marta, em Taguatinga Sul, sob aplausos de funcionários da unidade. O vigilante deu entrada no pronto-socorro em 6 de abril. Desde então, a luta contra a covid-19 foi árdua. Eduardo foi, imediatamente, isolado. Em seguida, realizou uma tomografia, que indicou uma provável infecção por coronavírus, além do teste para a doença. Três dias depois, com o resultado positivo, ele seguiu para a UTI, onde foi entubado. “Nunca tive uma sensação tão ruim quanto essa. Foi desesperador”, disse.
Eduardo não consegue precisar onde foi infectado pelo vírus. Entretanto, um caso na família pode ter sido o vetor. A filha dele, de 21 anos, testou positivo. A jovem também chegou a dar entrada no Hospital Santa Marta, onde ficou internada por quatro dias. Após a alta, ela retornou para casa, onde recuperou-se da doença cumprindo quarentena.
Dúvidas
As memórias de Eduardo, depois da ida para a UTI até o momento em que recuperou a consciência, são baseadas em relatos de familiares. “A equipe médica mantinha minha família informada sobre meu quadro. Quando fui para a UTI, já não lembro de mais nada”, afirmou. “Achávamos que seria uma coisa mais simples, e eu teria uma recuperação rápida. Mas foi o contrário. Não é só uma gripezinha. A coisa é séria”, alertou. Eduardo passou por hemodiálise para auxiliar a função renal, além de ser submetido a transfusões de sangue, com o agravamento do quadro e uma série de infecções.
O vigilante tem comorbidades, como hipertensão arterial e uma doença autoimune. Em estado grave, ele foi submetido, pela equipe do hospital, a uma técnica denominada ECMO, utilizada para tratar pacientes com insuficiências cardíaca e respiratória graves. O sangue do paciente é drenado e percorre uma membrana, onde é oxigenado. Em seguida, ele é devolvido ao corpo do paciente. O objetivo do procedimento é reestabelecer a função pulmonar.
O vigilante tem comorbidades, como hipertensão arterial e uma doença autoimune. Em estado grave, ele foi submetido, pela equipe do hospital, a uma técnica denominada ECMO, utilizada para tratar pacientes com insuficiências cardíaca e respiratória graves. O sangue do paciente é drenado e percorre uma membrana, onde é oxigenado. Em seguida, ele é devolvido ao corpo do paciente. O objetivo do procedimento é reestabelecer a função pulmonar.
Em 24 de março, Havany Roraima Ferreira também dava entrada no Hospital Santa Marta, em Taguatinga Sul. “Eu tinha dor na face, o nariz entupido e dor de ouvido. Depois, veio a fadiga. Aí, comecei a ficar mais prostrada e com muita dor nas pernas. Perdi o olfato e o paladar, além de tossir muito”, descreveu. Ela foi avaliada, mas voltou para casa. Após quatro dias, retornou ao hospital, sem conseguir respirar. “Eu puxava e parecia que o ar engatava na garganta”, disse. Ela foi diagnosticada com covid-19 e encaminhada à UTI, em 31 de março, onde permaneceu por oito dias.
“Com a suspeita, você quer acreditar que não é. Diante da confirmação, eu entrei em pânico. Fiquei com muito medo de morrer. Falei com meu filho e minha mãe. Mas, depois, fui me animando. Busquei uma força dentro de mim. Ela dizia: ‘Eu vou sair daqui’. Isso me deu ânimo para poder reagir”, contou a moradora de Águas Claras. Ela não sofre de comorbidades.
“Com a suspeita, você quer acreditar que não é. Diante da confirmação, eu entrei em pânico. Fiquei com muito medo de morrer. Falei com meu filho e minha mãe. Mas, depois, fui me animando. Busquei uma força dentro de mim. Ela dizia: ‘Eu vou sair daqui’. Isso me deu ânimo para poder reagir”, contou a moradora de Águas Claras. Ela não sofre de comorbidades.
Volta por cima
Com o estado de saúde mais estável, Eduardo deixou a UTI, em 14 de maio. No entanto, o momento mais aguardado veio na segunda-feira, com a alta. “A sensação foi muito boa de imaginar que eu lutei e venci esse vírus maldoso. O que as equipes do hospital fizeram por mim… Eles nunca desistiram”, disse, agradecido. “Vou fazer fisioterapia respiratória e da parte locomotora, além de um acompanhamento cardiovascular. Perdi 16kg e massa muscular. Mas ando devagarinho e faço muitas coisas sozinho. Se Deus quiser, logo estarei 100% recuperado.”
Havany deixou a UTI, em 7 de abril. A alta veio após dois dias. “Foi um alívio. Voltei a ter uma vida. No primeiro dia em que pude sair de casa, peguei meu carro, abri o vidro, liguei o som bem alto, dei uma volta com o vento batendo no meu rosto e gritei para mim mesma: ‘Liberdade!’”.