O isolamento mudou a dinâmica do medo. Reduziu crimes nas ruas, mas muitas pessoas passaram a ser alvo dentro da própria casa. Ainda que as ocorrências domésticas prossigam e haja projeção de que cresçam, os crimes violentos em geral caíram 27% no estado entre janeiro e abril, na comparação com os quatro primeiros meses do ano passado. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), as ocorrências de estupro, extorsão, sequestro, homicídio e roubo despencaram nesse período, de 26.231 para 19.119.
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Em paralelo à pesquisa do órgão internacional, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa que as denúncias de agressões domésticas diminuíram com o isolamento devido às dificuldades de as vítimas deixarem a casa onde convivem com os agressores. Para a coordenadora do curso de psicologia da Estácio, Renata Mafra, é preciso proteção à vida das mulheres vítimas de agressão durante a quarentena.
“Se o isolamento social coloca essa mulher em condição de risco de morte pela violência maior do que o perigo de contaminação pelo vírus, ela precisa de um outro lugar, um ambiente seguro que a mantenha no isolamento, porque ao lado do parceiro esse afastamento não será protetivo. Então, é necessário buscar ajuda do Estado e de quem está próximo”, defende a psicóloga.
Homicídios Do lado de fora das residências em afastamento social, o destaque maior é para os crimes contra a vida, que chegaram a registrar uma redução de 33% nos quatro meses deste ano, quando ocorreram 924 homicídios, ante o mesmo período do ano passado, em que 1.374 crimes foram computados. Para especialistas, esse é um reflexo nítido do isolamento, mas também de uma profissionalização das forças de segurança pública.
Outro crime que teve seus índices reduzidos foi o de roubo, que consiste em a pessoa ter seus bens tirados sob agressão ou grave ameaça. Essa modalidade criminosa chegou a registrar 20.793 casos nos primeiros quatro meses de 2019, sempre com média de 5 mil casos mensais. Neste ano de isolamento, os registros ficaram em 14.999, uma queda de 28%, sendo que março, quando o isolamento começou, registrou 3.536 roubos, e em abril, o primeiro mês completo de afastamento, houve 2.700 delitos do tipo em Minas Gerais.
A redução dos homicídios na capital, no entanto, foi pequena nesse mesmo período. De janeiro a abril de 2019, foram registrados 133 assassinatos, contra 129 em igual período deste ano, uma diminuição de 3%. No mês passado, sob distanciamento social, ocorreram 29 mortes, enquanto em igual período de 2019 elas chegaram a 33.
O coordenador de Operação da Polícia Civil de MG, delegado Aloísio Daniel Fagundes, afirma que, com o isolamento, era previsto que crimes de oportunidade fossem reduzidos, mas isso não trouxe conforto para a área da segurança. “Não sabemos como será com o prolongar do tempo de isolamento, quais os impactos econômicos e se eles podem refletir num aumento dos crimes patrimoniais. Temos trabalhado no dia a dia para que qualquer desvio seja identificado e uma medida tomada”, disse.
Um dos aspectos que o policial considera fundamental é o de manter a polícia trabalhando. “As pessoas precisam ver que mesmo nesses tempos as delegacias estão abertas e a polícia trabalhando. Isso dá uma sensação subjetiva de segurança, que é importante. Claro que é um trabalho que busca não causar aglomerações, mas que não pode parar”, disse.
Outro fator que também pode ter colaborado para que os crimes não disparem é a possibilidade de possíveis criminosos estarem recebendo o auxílio federal que beneficia informais. “Isso faz sentido, pois uma grande parte desses crimes tem origem na parcela mais carente da população”, observa.
A tendência de queda dos índices de criminalidade já vinha sendo observada pelo professor Bráulio Figueiredo Alves da Silva, do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG. “Temos uma nítida trajetória de redução consistente dos índices de criminalidade em Minas Gerais, sobretudo dos roubos. Mas, com o isolamento, certamente ocorreu uma redução dos chamados crimes de oportunidade. Como a rotina das pessoas foi alterada e todos estão mais em casa, reduziu-se a oportunidade de encontro entre vítimas e autores. As pessoas que circulavam nas ruas e eram vítimas ficaram mais em casa e isso explicaria a redução”, afirma o pesquisador.
Criminalidade Um dos fatores que vêm sendo destacados por reduzir os índices de criminalidade anualmente é a maior profissionalização das forças de segurança pública. “Em Minas, há muito tempo a segurança pública se profissionalizou. Independentemente dos governos, as polícias tiveram um momento de integração que foi muito eficaz. A prevenção foi bem aplicada, bem como a investigação pela Polícia Civil, e isso é um fruto que já vínhamos colhendo. É evidente que temos muito a caminhar. Temos forças de segurança muito capazes, mas o desafio ainda é grande”, observa Bráulio da Silva.