Jornal Estado de Minas

REABERTURA DE LOJAS

Vendas, medo e desrespeito: a nova rotina dos comerciantes de BH

Depois de mais de dois meses com as portas fechadas, parte dos comerciantes de Belo Horizonte puderam receber clientes, seguindo as normas sanitárias estabelecidas pelo município. A procura nesta primeira semana, de acordo com lojistas consultados pelo Estado de Minas, atendeu as expectativas. Contudo, setores de beleza, como barbearias, ainda sentem o receio das pessoas em buscar os serviços. Em alguns casos, o medo dos clientes se transforma em desrespeito, como a insistência em não usar a máscara dentro dos estabelecimentos.





Com a queda nas temperaturas, devido à proximidade da chegada do inverno, as vendas nas lojas de enxovais esquentam. É o caso da Enxovais Monte Santo. Com oito lojas em Belo Horizonte, a empresa foi uma das que reabriu as portas nesta semana. A proprietária Viviane Moreira, 42, concentrou suas vendas, no tempo em que ficou de portas fechadas, no comércio virtual, com bons índices de itens vendidos. Mas quando voltou a funcionar de maneira presencial, ela se surpreendeu com o movimento.

“A gente percebe que há uma demanda reprimida. Os clientes ficaram 60 dias sem fazer compra. Nos 60 dias em que ficamos fechados, nossa loja virtual funcionou e cresceu bastante as vendas, atendemos muitos clientes por lá. Mas é claro que cliente de roupa de cama quer pegar na toalha, quer ver se é macia. Quem não optou comprar pelo virtual, aguardou para comprar na loja. Abrimos às 11h, que é o horário permitido, na segunda-feira, com fila em algumas lojas. Estamos com todo o cuidado”, disse Viviane.

Gislaine Vitor é gerente de uma das lojas da Enxovais Monte Santo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Com a alta procura, a expectativa da empresária para o futuro em relação ao número de vendas é extremamente positiva, caso não haja lockdown em Belo Horizonte.

“Eu tenho expectativa que vá continuar com um movimento bom. O frio para a gente é muito bom. Esquenta as vendas nossas. Em breve volta ao normal antigo, com o volume de faturamento antigo, o mesmo que a gente faturava antes (da pandemia). Eu acredito”, destacou.





Sinal verde, também, no mercado de veículos. No tempo em que ficou de portas fechadas, Rodrigo Eliazar, 43, dono da Autop Veículos, também utilizou o meio on-line para realizar atendimentos remotos, como conferência e entrega de carros. Após a reabertura do estabelecimento, o empresário já constatou um aumento superior a 50% no movimento na loja.

“Como a gente tem uma loja que tem uma vitrine boa e grande, tivemos realmente uma melhora considerável no movimento, apesar de a gente vir trabalhando bem com a questão da internet, anúncios e trabalhando via Whatsapp, com atendimento remoto e fazendo só agendamentos para conferência de carros e entrega, a loja com as portas abertas melhorou bem o movimento. Não está no mesmo volume que a gente tinha antes da pandemia, mas o fluxo de loja melhorou mais de 50% do que estava”, declarou.

Nos últimos dois meses, Rodrigo conta que constatou uma queda de 50% na procura por veículos. Agora, ele busca equilibrar os números. “Nos últimos dois meses a procura caiu em torno de 50%,  agora que estamos tentando retomar pelo menos 50% do que caiu, para a gente ficar na média.”





A Avenida Pedro II, na Região Noroeste de BH, é bastante procurada por pessoas que buscam componentes para veículos. É lá que está localizada a Autopeças 3 Irmãos. Durante o decreto do prefeito Alexandre Kalil (PSD), a loja funcionou com restrição. Agora, com a reabertura de parte do comércio na capital, a procura de clientes aumentou em 30%. Durante os últimos dois meses, o estabelecimento também apostou na internet para seguir comercializando produtos.

“A gente já vinha fazendo um trabalho muito grande nisso aí. No próprio site a pessoa já clica no atendimento via Whatsapp e tem uma pessoa só por conta desse tipo de atendimento. Tem o motoqueiro que faz a entrega. Quando precisamos de uma moto adicional, temos parceria com uma empresa terceirizada que faz o serviço. Observamos, também, que conseguimos entregar em cidades vizinhas, como Pedro Leopoldo e Vespasiano. Instagram também tem um retorno muito legal”, relatou a gerente Patrícia Maria Araújo, 38.

Quem também celebra o retorno de parte das atividades em Belo Horizonte é o setor de móveis. Nos dois primeiros dias de reabertura, a Glamour Interiores, localizada na Avenida Silviano Brandão, pólo do setor na capital, constatou um movimento acima do esperado, ficando dentro do previsto no restante da semana. Apesar disso, a gerente Aline Santos, 43, prefere esperar para ter análises mais concretas.





“A gente ainda está muito no início, tentando formar uma opinião de como será os resultados. Ainda está muito cedo para fazer uma observação maior. Tem que ver o fim de semana e a segunda semana. Quando outros tipos de comércio reabrirem ver como estará o movimento aqui. Estamos tentando entender como será”, ponderou.

Receio


Apesar da reativação de parte dos setores da economia em BH, nem todos tiveram resultados satisfatórios neste primeiro momento. É o caso da Barbearia O Bom Kbelo. O proprietário Luiz Carlos, 37, sente que parte dos clientes estão receosos em procurar os serviços do estabelecimento, mas que espera uma melhora no movimento nos próximos 30 dias.

“Com essa reabertura, quem está vindo são os clientes que estão saindo de casa e estão um pouco com medo. Está chegando cliente aqui que tinha três meses que não cortava cabelo. Como nós estamos divulgando que estamos funcionando, as pessoas estão começando a marcar. Temos um sistema de agendamento. Agora estão começando a procurar. Mas não é o que era a barbearia. Eu sabia que seria um período de readaptação”, destacou.





Barbearia O Bom Kbelo tem recebido poucos clientes neste início de reabertura, por causa do receio da freguesia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Luiz também conta que a agenda do primeiro fim de semana pós-reabertura está ocupada em menos da metade. A barbearia conta com quatro profissionais. Com a queda vertiginosa da receita, o proprietário se pauta pela lealdade para manter a equipe.

“Até conversamos e vamos tentar segurar. Como nós somos quatro, vamos tentar segurar mais por questão de lealdade, para ajudar o outro. Porque público e serviço, não terá. Vamos ter que nos adaptar à queda”, concluiu.

Desrespeito


Apesar da boa demanda em grande parte do comércio da capital, lojistas sentem o desrespeito de alguns clientes que insistem em entrar nos estabelecimentos sem o uso de máscara. A utilização do item de segurança é obrigatória em Belo Horizonte desde o dia 22 de abril, mas nem todos aderem. É o que conta a empresária Viviane Moreira.





“Ainda tem cliente tentando entrar na loja sem máscara. É uma minoria, mas tem. A gente vê cliente brigando quando a gente fala “aguarda um pouco, pois precisamos de ter gente para te atender. Não pode aglomerar”. A gente percebe que eles querem comprar, mas ainda tem gente que não está entendendo a situação. Para a gente é ótimo, que bom que estamos vendendo, precisamos recuperar, mas temos que preocupar também com nossos funcionários e clientes”, relatou.

A fala de Viviane vai de encontro com a da gerente Patrícia Maria Araújo. Ela também sente o tom de reprovação quando precisa solicitar o uso de máscara por parte de alguns clientes. Para diminuir o atrito com quem tenta entrar na loja sem a utilização do item, a Auto Peças 3 Irmãos chegou a disponibilizar algumas peças descartáveis.

“O que está dificultando um pouco é que nem todas as pessoas estão respeitando as normas de usar a máscara. As vezes tem que ficar pedindo para o cliente usar e a pessoa acaba achando ruim com você. Tem que saber levar. Até trouxe umas máscaras descartáveis para deixar aqui, para quem chegar e entregar. Nem todas as pessoas têm a consciência da importância dos métodos de segurança”, lamentou.





Patrícia disponibilizou máscaras para clientes que estiverem sem o uso do item (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Cerca de 10 mil lojas tiveram autorização da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para funcionar. O Executivo municipal dividiu a reabertura do comércio em seis fases. Nesta semana, passou a vigorar a Fase 1, em que algumas lojas não-essenciais puderam receber clientes. Se os índices de propagação da doença se mantiverem estáveis, a PBH pretende dar prosseguimento à reabertura nas próximas semanas. Porém, as fases 2, 3 e 4 só serão colocadas em prática se houver sinalização positiva dos especialistas.


CDL celebra semana positiva

 

Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) também reforçou os resultados positivos da primeira semana de reabertura de parte do comércio na capital. O presidente Marcelo de Souza e Silva afirmou que alguns setores chegaram a registrar 60% de vendas em comparação com o período pré-pandemia.

"O movimento foi super tranquilo. As pessoas não aglomeraram. Os consumidores entenderam essa forma de atendimento que tem que ser feito nesse momento, por causa da situação. Teve setores que registraram 60% de vendas, se comparado com o faturamento normal. Muito boa essa semana. A gente viu os estabelecimentos cumprindo alguns protocolos, como disponibilização de álcool gel, exigindo o uso da máscara, protegendo os funcionários e clientes, higienizando os ambientes, não deixando aglomerar, cumprindo a questão da metragem de distância", disse Marcelo.





 

Sobre o fato de alguns clientes ainda estarem desrespeitando o decreto que obriga o uso da máscara, o presidente da CDL garantiu que os lojistas estão orientados a acionar a Polícia Militar em casos extremos de constrangimento.

"Conversamos isso com os comandantes da Polícia Militar e da Guarda Municipal, que se a pessoa insistir em entrar sem máscara nos estabelecimentos, o comerciante está orientado a chamar a polícia. Ele vai argumentar ao extremo, mas se houver extrapolação, tem que chamar a polícia. Temos lei. A pessoa está descumprindo legislação, tanto federal quanto municipal", concluiu.