Jornal Estado de Minas

Pandemia

Caso de COVID-19 no Morro do Papagaio liga alerta nas comunidades


 
A informação de que o Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, registrou o primeiro caso de COVID-19 acendeu o alerta da comunidade, de outras comunidades e das autoridades. Muita gente teme que o contágio se alastre em um local em que manter distanciamento social é quase impossível e só com muita disciplina será possível conter o avanço do novo coronavírus.



Líderes comunitários pretendem intensficar as campanhas de alertas, enquanto o poder público diz que vem cumprindo o papel. Mas tudo vai passar mesmo é pelo comportamento de cada um.

“Infelizmente algumas pessoas não caíram na realidade, mas as nossas ações foram bem eficientes. O problema é que, como não tivemos casos (até agora), o pessoal passou a desacreditar (na letalidade da doença), relaxou as medidas (de segurança e higiene), passou a não respeitar nossoas sugestões. Agora, com o primeiro caso, está todo mundo alarmado, querendo saber quem é, onde foi, como foi. Acredito que vão todos ficar mais atentos. O medo vai bater à porta”, afirma Dan Machado, presidente da Associação de Moradores da Barragem Santa Lúcia, onde está situado o Morro do Papagaio.

Ele diz que pretende intensificar as ações contra a disseminação da COVID-19, com carro de som alertando sobre os perigos e a distribuição de máscaras e álcool em gel.

Moradores de outros aglomerados da capital admitem que nem todos os moradores levaram a pandemia a sério. E esperam que, agora, haja maior conscientização e que medidas como distanciamento social e uso de máscaras sejam adotas integralmente.

É o caso de Dayane Joice Ferreira, de 24 anos, moradora do Conjunto Felicidade, na Região Norte de BH. “Aqui no bairro o pessoal ainda está meio desacreditado. Eu sou super medrosa, então fico dentro de casa. Meu pai é motorista, tem contato com muita gente o tempo inteiro e pode acabar se contaminando, fico apavorada com isso. Mas meus vizinhos que são adolescentes acham que é fake news, invenção do estado porque não viram ninguém próximo morrer. É aquela coisa, só acreditam quando um parente pega, um amigo pega”, afirma.



Dayane viu o sonho de arrumar um emprego adiado pela COVID-19 e comemora o fato de a família ter recebido cesta básica e kit de higiene da Prefeitura de Belo Horizonte.

Para outros moradores da região, a falta de informação e de fiscalização também contribui para que as medidas necessárias não sejam aplicadas. “As pessoas não estão cientes, porque a maioria não está se informando para saber a gravidade da situação. A rua vive cheia, mesmo com gente sabendo que a mãe e a avó, ou uma vizinha, podem acabar morrendo. Aqui não chega campanha, mobilização, nada”, diz  Jhonatan Detteman, de 23, estudante de Educação Física.

“Moro bem na área de comércio do bairro e, como a casa tem dois andares, dá pra ver o fluxo de pessoas, e ao meu ver elas não estão respeitando nada. Os comércios colocaram a limitação de pessoas, tem a obrigatoriedade da máscara, mas não adianta porque o pessoal faz fila do lado de fora sem máscara, fica todo mundo grudado um no outro conversando, com som alto, e isso é muito preocupante porque no bairro não tem nenhuma medida, não tem fiscalização, não tem panfleto com informação. A minha família fica morrendo de medo porque meu pai é diabético e minha mãe trabalha com idosos. A gente tá tomando esse cuidado, ninguém lá em casa está saindo sem máscara, ninguém recebe visita e a gente vê que as pessoas não estão ligando. O risco é muito grande porque se um pega, para espalhar é um pulo”, comenta Stênio Azevedo Silva, de 21, estudante de Direito.

Precaução e informação

Para infectologistas, as vilas e favelas merecem especial atenção por parte de todos pelas próprias características. “Várias são as dificuldades para a contenção (da disseminação do novo coronavírus), como a impossibilidade de manter o distanciamento social, a falta de renda fixa ou até mesmo de acesso a benefícios para a sobrevivência”, explica Cristiano Caveião, doutor em enfermagem e coordenador da área da saúde do Centro Universitário Internacional (Uninter), que aponta campanhas de conscientização como o caminho para evitar o pior. 



Já a Prefeitura de Belo Horizonte, que não confirmou o caso do Morro do Papagaio imediatamente, diz ter distribuído 240 mil planfletos em “200 áreas informais”.  “Além disso, estão sendo entregues cestas básicas e kits de higiene para a população de vilas, favelas e ocupações. Foram disponibilizadas, nos meses de abril e maio, cerca de 600 mil cestas para as famílias de estudantes com matrículas na rede municipal de educação e famílias em situação de vulnerabilidade social e econômica”, afirma o Executivo municipal, por meio de nota.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina