Identificado pela primeira vez em Minas Gerais no começo de março, o coronavírus avançou com mais capilaridade pelo estado dois meses depois. Só em maio, 277 cidades mineiras tiveram o primeiro caso confirmado de COVID-19. Porém, não é apenas a chegada do vírus ao interior que causa preocupação, mas também a velocidade de disseminação da doença nesses municípios. De acordo com análise do Estado de Minas com base em dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o coronavírus se propagou quase três vezes mais no interior que em Belo Horizonte no mês passado.
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Proporcionalmente, a quantidade acumulada de mortes por COVID-19 em maio também cresceu mais em cidades do interior. Fora de BH, o acréscimo foi de 226% no total de óbitos. Na capital, a alta chegou a 145%.
A evolução dos números de mortes e casos confirmados nos três recortes geográficos analisados mostra que Belo Horizonte apresenta curvas mais achatadas que as do interior e do estado como um todo (gráficos abaixo).
A interiorização do vírus desperta preocupação das autoridades de saúde, especialmente para casos de municípios que não possuem estrutura hospitalar adequada para atender pacientes com COVID-19. “Em cidades pequenas temos dificuldades até de recursos humanos”, disse o secretário de estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, na última segunda-feira.
Explicação
Cidades do interior de Minas, em geral, possuem densidade demográfica inferior em relação à capital e, portanto, têm menor potencial de propagação do vírus. Como então explicar a disseminação mais acelerada da COVID-19 longe de Belo Horizonte?
Segundo o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Antônio Toledo Júnior, a resposta é clara: os maiores índices de isolamento social em BH. “É o isolamento. Se está propagando mais vírus (em certas cidades do interior), é porque teve menos isolamento. É simples assim. Em Belo Horizonte, houve isolamento”, explica.
A capital adota medidas restritivas de circulação de pessoas desde 18 de março. No interior, cada prefeito tem autonomia para decidir as normas de enfrentamento à pandemia. O governo estadual, porém, criou o plano ‘Minas Consciente’, com diretrizes para que os municípios estabeleçam o grau de abertura do comércio.
Apesar ter apresentado resultados tecnicamente satisfatórios nos primeiros meses de enfrentamento ao vírus, a capital mineira também tem preocupado especialistas. “Até o final do mês passado, Belo Horizonte estava com um percentual de isolamento mais alto. O que eu tenho visto é as pessoas se cuidando menos, muita gente sem máscara nas ruas, muita gente usando máscara errado, muita gente batendo papo sem máscara. A tendência, diante desse cenário, é aumentar o número de casos em BH também, tanto que a prefeitura parou a progressão da reabertura do comércio”, disse Antônio Toledo Júnior.
Além da própria Belo Horizonte, os responsáveis por definir os rumos do combate à COVID-19 da PBH se mostram preocupados com o avanço do vírus no interior. Por ser polo estadual de saúde, a capital recebe pacientes de diferentes regiões de Minas Gerais. A interiorização da doença, portanto, também pode ser um problema para os hospitais de BH.
“As curvas (de propagação da doença) no interior estão exponenciais. Assustadoramente exponenciais. E nós aqui não estamos chamando a atenção de ninguém. Nós aqui estamos no espírito de colaboração para avisar a todas as cidades, a Grande BH, o que está acontecendo. Cada um faz o que quer, mas nós temos obrigação de avisar o que está acontecendo no interior”, alertou o prefeito de BH, Alexandre Kalil, ao anunciar, na última sexta-feira, que não ampliaria a reabertura do comércio na cidade.
Segundo boletim epidemiológico divulgado pela SES nessa terça-feira, Belo Horizonte 1.912 casos de COVID-19, dos quais 51 evoluíram para óbito. No interior, eram 9.129 infectados e 238 mortes.