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Estado de Minas ENTENDA COMO

Pesquisadores mineiros buscam 'enganar' o coronavírus para criar vacina

Cientistas da Fiocruz no estado desenvolvem proteção ambivalente para coronavírus e influenza. Grupo faz parte de força-tarefa de 30 países


postado em 03/06/2020 06:00 / atualizado em 03/06/2020 08:45

Pesquisadora manipula experimento. Inserção de proteína do Sars-CoV-2 em vírus inofensivo pode estimular reação do organismo, sem provocar a doença (foto: Fiocruz/Divulgação)
Pesquisadora manipula experimento. Inserção de proteína do Sars-CoV-2 em vírus inofensivo pode estimular reação do organismo, sem provocar a doença (foto: Fiocruz/Divulgação)


Pesquisadores da Fiocruz Minas integram uma força-tarefa de 30 países que se uniram na busca por vacinas contra a COVID-19, anunciada nesta semana, a C-TAP (The COVID-19 Technology Access Pool), da qual o Brasil faz parte. O esforço conjunto de cientistas tem o objetivo de barrar o avanço da pandemia, que contaminou 6 milhões de pessoas e causou 371 mil mortes em todo o planeta, o que só será possível com uma vacina. Um dos estudos brasileiros mais promissores, a pesquisa desenvolverá uma proteção bivalente contra o coronavírus (Sars-CoV-2) e o influenza. A pesquisa utiliza um tipo de vírus da influenza inofensivo, capaz de gerar resposta imunológica contra o novo coronavírus. Empregado como vetor vacinal,  o vírus é modificado dentro do laboratório para transportar parte da proteína do vírus que aterroriza o mundo.
 
“Usamos o vírus modificado para não causar doença, mas ele induz uma resposta imune no organismo. Permite uma proteção sem causar doença. Modificamos esse vírus que carrega proteína do Sars-CoV-2”, adianta Alexandro Vieira Machado, pesquisador Oswaldo Cruz e membro do CTVacinas. O estudo é feito em parceria com pesquisadores do CTVacinas, centro de pesquisa em biotecnologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 
O estudo tem como base uma técnica elaborada pelo Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fiocruz Minas e seguirá várias etapas: estudo de bancada e testes em células infectadas, testes em camundongos e testes clínicos em humanos. Os pesquisadores estão no estudo de bancada. A investigação científica tem sido desempenhada por uma equipe de 12 cientistas, que inclui pesquisadores que são servidores da Fiocruz, alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
 
Para criar a substância que pode salvar milhares de brasileiros, os pesquisadores usam de uma artimanha para enganar o novo coronavírus.  “O vírus da gripe é modificado, de tal forma que não causa doença, mas é capaz de levar o vacinado a produzir anticorpos e ficar protegido tanto contra a COVID-19 quanto da gripe. Isso é possível, porque inserimos um pedaço do material genético do Sars-CoV- 2 em uma porção do material genético do vírus da gripe. É uma vacina bivalente, capaz de proteger de duas doenças que infectam o trato respiratório e são importantes causas de doenças em idosos e pessoas que têm doença crônica”, afirma Alexandre.

Ciência


Alexandre lembra que a ciência se desenvolve de maneira coletiva. Há cerca de 120 vacinas no mundo e pelo menos oito delas já estão na fase de testes clínicos. De modo que os pesquisadores brasileiros não só acompanham, mas integram esforços mundiais nessa busca. “Fazemos parte das centenas de vacinas em desenvolvimento. O Brasil faz parte dessa rede de 30 países que buscam encontrar uma vacina”, diz Alexandre que já pesquisa vacinas há 17 anos. Ele participou da elaboração de imunizações para toxoplasmose, doença de Chagas e pneumonia causadas por pneumococos.
 
Ele destaca que as pesquisas em Minas estão em colaboração com estudos da Universidade de São Paulo (USP), Instituto Butantan e do Instituto do Coração (Incor). “Em outros países, as vacinas estão mais avançadas do que a nossa. Estão não fase dois ou três. Mas é importante termos, a longo e médio prazos, uma vacina com tecnologia nacional que esteja disponível na rede pública”, defende.
A dedicação de Alexandre para a descoberta se dá em tempo integral. O pesquisador não deixa de pensar na pesquisa nem mesmo quando está em casa. “A dedicação é o tempo todo. Durante o dia, à noite. Na ciência, a gente nunca dorme. As informações são geradas o tempo todo. Todos pesquisadores fazem isso”, diz ele, que precisa acompanhar vasta literatura sobre o tema.


 
O pesquisador reforça a importância dos financiamentos para a ciência para que os vírus não peguem a humanidade de surpresa. “A história da humanidade é a história das pandemias. Com a globalização, a difusão de patógenos é facilitada”, argumento. Ele reforça a importância dos esforços mundiais e diz que nada garante que no futuro não teremos que lidar com um outro vírus mortal. “É importante que os cientistas se comuniquem. A troca de informação é fundamental, quanto mais soubermos do vírus, mais condições teremos de enfrentá-lo”.
 
E faz uma metáfora para explicar a importância de investimento em pesquisa: “o caminho da ciência é tortuoso,  costumo dizer que é um labirinto escuro, cada cientista ilumina com uma tocha. Quanto mais iluminado, mais rápido é possível sair do labirinto. Os cientistas têm que compartilhar a luz do conhecimento. Se não temos financiamento, o caminho fica  escuro”, pondera. De acordo com a Fiocruz, os projetos do INCTV são financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). 


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