Jornal Estado de Minas

Alerta

Tratamento para a COVID-19 em Minas enfrenta falta de sedativos e relaxantes


Minas Gerais costata a escassez na oferta de sedativos e relaxantes necessários para o uso de respiradores. Ainda que o equipamento, imprescindível no tratamento da COVID-19, esteja disponível nos hospitais do estado, sem os medicamentos, indispensáveis para a intubação, existe o risco de impedimento no atendimento a pacientes graves infectados pelo coronavírus e demais transtornos que ocasionam falência respiratória. A situação também acontece em outras cidades no Brasil. Relaxantes musculares, no grupo em que se insere o rocurônio, são aplicados para assegurar que a ventilação mecânica aja com eficiência.


A possibilidade de um tratamento fracassado, do surgimento de complicações e até mesmo a morte são dados preocupantes a considerar sobre o que pode acontecer na falta dos sedativos e relaxantes. Sem eles, como concordam anestesiologistas, não faz diferença que as unidades de saúde tenham leitos e respiradores disponíveis.

São duas constatações para a formação desse cenário: um número maior de pacientes que necessitam da medicação e o fato de que os acometidos com a COVID-19 pedem doses maiores. É o que informa Cláudia Navarro, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG). "Tudo isso contribui para os baixos estoques da medicação. E isto está contecendo em nível nacional", conta.

Para a médica, essa é uma consequência da própria pandemia. "O número de pacientes intubados é muito maior na prática do dia a dia. É um problema sério. Não apenas no caso de pacientes do coronavírus, mas também outros que precisam de intubação, como pessoas em recuperação de cirurgias e outras em Unidades de Tratamento Intensivo. Todos são prejudicados", diz Cláudia.


Ela cita a atuação de sociedades de especialidades médicas no sentido de mobilização sobre o tema, entre elas a Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais (SAMG), que vem realizando um trabalho importante em tentativa para a resolução do problema, acionando o Ministério Público para intervir na questão. O Conselho Federal de Medicina é outa instituição empenhada nessas ações.

A SAMG manifestou "grande preocupação  com a falta de medicamentos sedativos e relaxantes musculares nos hospitais de Minas Gerais", conforme divulgou em nota nesta quinta-feira (4). "Há necessidade da ação rápida das autoridades de saúde estaduais e federais na reversão dessa situação, que, caso permaneça, acarretará um aumento da mortalidade dos pacientes portadores de COVID-19 que apresentam quadro de insuficiência respiratória", acrescentou o órgão no texto. "A ausência poderá levar a consequências devastadoras durante a pandemia de COVID-19, em função da impossibilidade de acesso adequado às vias aéreas e da manutenção de pacientes sob ventilação mecânica", informou ainda.

"Entidades médicas, gestores hospitalares e demais envolvidos estão preocupados e tentando uma solução. O problema está na fase da produção dos medicamentos, que não consegue suprir a demanda. O MP está ciente e tomando as providências cabíveis", conta Claúdia Navarro. Uma alternativa seria substituir alguns tipos dos remédios, mas ainda assim é um quadro grave, que pede atenção.


A carência dos produtos no país pode ser explicada pela alta demanda, a falta de matéria-prima importada e o valor do dólar. Assunto este abordado nesta semana em reunião na Câmara dos Deputados. Na ocasião, ficou esclarecido que as secretarias estaduais de saúde solicitam, desde meados de maio, apoio do Ministério da Saúde para resolver a questão.

Por outro lado, entidades que representam a indústria farmacêutica no Brasil afirmam que empresas trabalham com capacidade máxima e que, neste momento, a produção está normalizada. É o que informa o presidente do sindicato da categoria, Nelson Mussolini. Para ele, um dos motivos foram problemas na importação de matérias-primas na época de lockdown na Índia, um dos principais fornecedores para os laboratórios brasileiros. Também atribui a situação à escalada do preço do frete internacional, que foi de  US$ 2 para US$ 15 o quilo transportado.

Governo nega
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou, por meio de nota, que não há conhecimento de desabastecimento de medicamentos nas instituições hospitalares do Estado.


 
"No âmbito do sistema estadual de saúde, nas unidades geridas pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), as aquisições e entregas de insumos e medicamentos são feitas por meio de fornecedores licitados e cadastrados no sistema estadual, por meio da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (SEPLAG). Esses itens são distribuídos nas unidades e existe um gerenciamento de estoque, que, por se tratar de uma rede, tende a ser mais robusto", informou.
 
A pasta sustenta que, em alguns casos, pode haver necessidade de substituição terapêutica por outros similares, prevista nos Protocolos Clínicos - caso não tenha o item momentaneamente no estoque regular.

"Apesar da dificuldade encontrada em algumas entregas pontuais, até o momento, não houve desabastecimento desses medicamentos nessas unidades", concluiu.