Três meses depois de o Ministério da Saúde confirmar o primeiro caso de COVID-19 em Minas Gerais, – uma mulher moradora de Divinópolis, na Região Centro-Oeste –, o estado assiste a mais uma fase de flexibilização do comércio em Belo Horizonte, epicentro do novo coronavírus, e vários outros municípios. Enquanto o número de mortes e registros de contaminação ainda coloca Minas fora da rota mais afetada pela pandemia no Brasil – ontem o balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou 15.703 diagnósticos e 376 mortes pela doença respiratória –, o afrouxamento do isolamento escancara um desafio para as autoridades sanitárias: qual seria o limite entre a retomada econômica e as medidas para frear o vírus?
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Mesmo com a COVID-19, homicídios disparam em 46,8% dos municípios de MinasCOVID-19 em Minas: saiba onde foram registradas mortes neste domingoCOVID 19: Veja o que abre nesta segunda (8) no comércio de BHcoronavirusmgCom 19 mortes por COVID-19 em um dia, Minas chega a 399 óbitos; BH a 62Ocupação de leitos dispara em BH e alcança zona vermelha pela primeira vez na pandemiaZema entrega ambulâncias e leitos de UTI em GuanhãesMinas Gerais já tem quase 16 mil casos confirmados de coronavírusSegunda fase de reabertura do comércio causa baixo impacto no Centro de BHSemana será de tempo estável em BH e em todo estado; capital terá máxima de 27°CMinas rompeu ontem a marca de 15 mil casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus: são 15.703 pessoas infectadas. Na comparação com levantamento divulgado no sábado, houve aumento de 764 diagnósticos. Já o balanço de mortes cresceu em oito: de 368 para 376. A taxa de letalidade em Minas (porcentagem dos doentes que morrem) é de 2,4%. Dos que perderam a vida, 86% apresentavam ao menos uma comorbidade, sendo hipertensão (147 pacientes), doença cardiovascular (121) e diabetes (104) as mais comuns. A média de idade dos óbitos confirmados é de 68 anos.
Em Belo Horizonte, a SES computa 59 mortes e 2.438 diagnósticos da doença. Hoje, a cidade se prepara para mais uma etapa de reabertura do comércio, que, segundo o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, engloba 92% dos empregos ativos na cidade. Poderão funcionar diversos estabelecimentos varejistas e atacadistas, entre lojas de calçados, de artigos de viagem, joalherias, de instrumentos musicais, tabacarias, floriculturas e de decoração. Os horários são de 5h às 17h para o atacado e das 11h às 19h para o varejo.
“O nosso maior desafio é sair com segurança: contar com adesão da população às medidas de prevenção e uso de máscara, manter o isolamento social e evitar aglomeração de pessoas em lojas e ruas”, afirma o infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás. Ele é membro do comitê montado pela prefeitura para frear o novo coronavírus.
Leitos A decisão da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi tomada um dia depois de a cidade registrar suas maiores taxas de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) e enfermaria dedicados à COVID-19 desde o início da pandemia. Boletim do próprio Executivo municipal indicou que 64% das unidades de terapia intensiva estavam em uso na quinta-feira. O recorde anterior havia sido alcançado um dia antes, de 63%.
Recorde também foi observado na ocupação dos leitos de enfermaria voltados aos pacientes menos graves infectados pelo novo coronavírus. Na quinta-feira, 49% deles estavam ocupados, um ponto percentual a mais que o índice da véspera.
Para efeito de comparação, quando a prefeitura anunciou a primeira flexibilização da quarentena, em 22 de maio, a cidade tinha 40% dos seus leitos de UTI ocupados: houve crescimento de 14 pontos percentuais desde então. No caso da taxa relativa às enfermarias, o aumento foi de 12 pontos percentuais: de 37% para 49%.
Apesar de o crescimento preocupar, o secretário de Saúde, Jackson Machado Pinto, garantiu que a cidade trabalha para aumentar a oferta de leitos de UTI. Segundo ele, caso haja essa melhoria, a taxa de ocupação cairia para 41% na cidade.
“Estamos arriscando no momento adequado, em um momento em que a gente tem uma estrutura hospitalar ainda robusta, que pode acolher essas pessoas que vão precisar de um CTI ou de enfermaria. Nosso SUS (Sistema Único de Saúde) tem uma equipe médica muito completa. É um dos melhores do Brasil”, pontua Unaí Tupinambás. “Caso a gente observe um aumento de casos, podemos voltar atrás, até mesmo determinar o lockdown (fechamento total) da cidade”, completa.
Voltam hoje em BH 11 setores
Começa hoje em Belo Horizonte nova etapa de reabertura do comércio. Com a chamada Fase 2 – que tem início às 5h para o comércio atacadista e às 11h para o varejista – a prefeitura (PBH) vai contemplar 5.323 empresas e 8.137 microempreendedores individuais (MEIs). Essas atividades representam cerca de 15 mil empregos formais no município.
Poderão abrir as portas lojas de artigos usados (desde que já permitidos pela prefeitura); artigos esportivos, de camping e afins; artigos de uso pessoal (calçado, joalheria, relojoaria, souvenir, bijuteria, artesanato e de viagem); plantas, flores e artigos para animais (exceto comércio de animais vivos); bebidas (sem consumo no local da venda); instrumentos musicais e acessórios; objetos de arte e decoração e tabacaria (sem consumo no local da venda), armamentos e lubrificantes.
No varejo, o funcionamento será das 11h às 19h das segundas às sextas-feiras, e das 9h às 19h nos fins de semana e feriados. No atacado, a abertura será das 5h às 17h diariamente. Com a inclusão desses estabelecimentos na flexibilização da quarentena, somada aos que já estavam em funcionamento nas fases 1 e de controle, cerca de 89,6% das atividades privadas em Belo Horizonte estarão autorizadas a funcionar, representando a retomada de 91,9% dos empregos, ainda de acordo com a PBH.
Na Fase 1, iniciada em 25 de maio, voltaram a funcionar salões de beleza (exceto clínicas de estética), shoppings populares e comércio varejista. A despeito da reabertura, o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, reforçou que continua sendo essencial manter os cuidados para evitar a propagação do coronavírus e seguir as regras de isolamento e distanciamento social.
Síndrome respiratória preocupa em Minas
Minas Gerais e Belo Horizonte se destacam pela letalidade da COVID-19 abaixo da média nacional, mas os números de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no estado e na capital mineira são preocupantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que BH é a terceira capital com mais óbitos atribuídos a SRAG no país, perdendo apenas para Campo Grande e Curitiba.
São nove mortes por SRAG para cada óbito computado de COVID-19 em Minas. As observações foram feitas pelo biólogo e pesquisador Atila Iamarino no Twitter. Dados da SES confirmam as observações do cientista: houve incremento de 676% das hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave em Minas neste ano – em comparação aos dados de 2019. Na última semana epidemiológica (entre 24 e 30 de maio), foram 1.050 internações: 150 por dia e 6,25 por hora no estado.
O aumento substancial em relação ao ano passado ocorreu justo a partir de março, quando a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil. São 11 semanas epidemiológicas consecutivas com mais de 1 mil hospitalizações por casos de SRAG. Foram 13.103 internações no período, o que representa 92% do total do ano: 14.243.
O governo de Minas tem sustentado que a elevação dos registros de SRAG se justifica devido ao fato de maior número de pessoas que enfrentam esses casos estar procurando o sistema de saúde por medo da COVID-19. O estado afasta a tese de subnotificação.
“Existem várias suposições do que levou à elevação de casos de SRAG notificados em 2020. A principal delas é que, atualmente, os trabalhadores e profissionais da saúde estão hipersensibilizados na notificação de casos de síndromes respiratórias”, informou a pasta em documento divulgado em maio. (GR)