Jornal Estado de Minas

Caso Backer: Polícia Civil indicia 11 por lesão corporal, homicídio e contaminação de alimento


A Polícia Civil indiciou 11 pessoas por lesão corporal, homicídio e contaminação de alimentos no caso de contaminação das cervejas da marca mineira Backer. A coletiva de imprensa sobre a conclusão do inquérito é realizada no auditório do Departamento de Trânsito (Detran), localizado na Avenida João Pinheiro, no Bairro Boa Viagem, Centro-Sul de Belo Horizonte. A Polícia Civil constatou que um vazamento em um tanque provocou a  contaminação das cervejas pela substância tóxica usada no resfriamento.



A divulgação dos detalhes sobre a investigação, conduzida pela 4ª Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, está por conta do delegado Flávio Rossi, que está à frente dos trabalhos, e do superintendente de polícia técnico-científica, médico-legista Thales Bittencourt.

Relembre: podcast do Estado de Minas com detalhes do Caso Backer


A Polícia Civil não divulgou os nomes dos indiciados, mas indicou que trata-se de uma testemunha que mentiu; o chefe da manutenção, por omissão; seis responsáveis técnicos por homicídio culposo, lesão corporal culposa e por agirem com culpa na contaminação e, por fim, três gestores da Backer indiciados por atos na pós-produção.

Flávio Grossi informou que o total de vítimas mudou. Eram 42, mas 13 foram retiradas do inquérito ao longo dos cinco meses de investigação, sendo três por se recusarem a fazer exames e 10 por fatores médicos ou de apuração. Assim, a Polícia Civil trabalha com 29 vítimas, sete fatais e 22 sobreviventes. Além disso, ainda há 30 pessoas em análise.




“No início das investigações, como nós não podemos fechar hipóteses, havia até a possibilidade de contaminação dolosa para o aumento da produção, por exemplo, como havia também a possibilidade de contaminação por sabotagem. Conseguimos concluir que na verdade ocorreram crimes culposos no que tange a contaminação”, detalhou o delegado Flávio Grossi nesta terça-feira.  

Ele explica que não é possível responsabilizar os proprietários da cervejaria pela falha na solda do tanque, mas  o ponto é o uso do dietileno ou monoetilenoglicol na produção. “Esse vazamento fisicamente ocorreu porque havia um furo no tanque no alinhamento da solda. A questão a se destacar não é a ocorrência do vazamento: é o uso de uma substância tóxica dentro de uma planta fabril destinada a alimentação. Ela não poderia ocorrer”, enfatiza. “Bastaria uma simples leitura de três linhas para saber que aqueles equipamentos deviam funcionar com anticongelantes não tóxicos, como álcool”, disse o delegado. ´

Delegado fala sobre vazamento da substância no tanque



No início das investigações, a Backer informou que não usava dietilenoglicol na produção, mas o monoetilenoglicol, também tóxico. O produto era adquirido de um fornecedor. Durante as investigações, foi encontrado um tambor na área de descarte onde se lia “mono”, de 2018. No entanto, dentro dele havia dietilenoglicol. Foram analisados 10 tambores com a substância, sendo que havia nove com mono e um com dietilenoglicol. “Havia um hábito produtivo de uso daquela substância. Confesso que haveria uma necessidade de aferição quanto ao consumo daquele produto, porque existiam vazamentos. Eu demonstro visualmente em 2020 e comprovo matematicamente nos anos anteriores”, afirma Flávio Grossi. "O uso incorreto do equipamento usando substancia tóxica e o descontrole. Se alguém interrompesse essas duas condutas, nada ocorreria", pontuou.


Assista à coletiva da Polícia Civil na íntegra



Relembre


Os primeiros casos da até então chamada "doença misteriosa do Buritis" se espalharam pelo WhatsApp ainda no início de janeiro, pouco depois das festas de Natal e réveillon, quando é grande o consumo de cervejas. 


Em 13 de janeiro, a Polícia Civil informou que identificou as substâncias tóxicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol na linha de produção da cervejaria, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os laudos também acusam os dois agentes químicos em garrafas recolhidas na fábrica e em casas de pacientes com sintomas da intoxicação.

O consumo foi ligado à síndrome nefroneural, manifestada nas pessoas que consumiram a cerveja. Posteriormente, a substância foi identificada em mais lotes. As cervejas chegaram a ser recolhidas e a fabricação foi suspensa.

Segundo a polícia, o inquérito tem 4 mil páginas e 70 pessoas foram ouvidas durante as investigações, entre vítimas, parentes e pessoas ligadas à empresa. 
Sabotagem, erro de procedimento na fábrica ou contaminação dolosa eram as três linhas nas quais a polícia se debruçava para desvendar a presença de substâncias tóxicas em lotes das cervejas da empresa mineira.  

A instituição de segurança pública fez perícias na fábrica da marca, inclusive nos tanques de fermentação da bebida.  (Colaborou Cristiane Silva)

Nota da Backer

Por meio de nota a assessoria da cervejaria mineira disse que “reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores”. Sobre o inquérito policial, a Backer informou que “tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”.