O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou ontem que a disseminação do coronavírus pelo interior do país é a maior preocupação no momento. Durante reunião ministerial no Palácio da Alvorada, o general disse que “nas grandes capitais já aconteceu a passagem e já diminuiu bastante o número de óbitos. Agora a pandemia está se espraiando (alastrando) pelo interior”. Mais tarde, em audiência na Câmara dos Deputados, Pazuello disse que o impacto da COVID-19 já ocorreu nas capitais e regiões metropolitanas. Na prática, a avaliação do general não se aplica à Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo os dados oficiais das prefeituras, o curso da doença está só começando nos municípios do entorno da capital mineira.
Os números estão concentrados nas maiores cidades: seis têm 64% dos casos, enquanto 27 dos 34 municípios registraram uma ou nenhuma morte. Já no boletim da Secretária de Estado de Saúde de ontem, atrasado em relação aos das prefeituras, a região contava com 1.748 casos e 48 óbitos da doença.
Enquanto isso, a disseminação da doença em Belo Horizonte continua, mesmo que a um ritmo menor do que já registrado. Segundo os boletins da prefeitura da capital, a média de novos casos diários caiu entre as semanas de 25 a 29 de maio e 1º a 5 de junho: de aproximadamente 224 para 105 casos por dia. Por outro lado, a média de mortes por dia passou de 1,5 para 2 entre os dois períodos. De acordo com o boletim de ontem, BH contabilizava 2.549 casos e 62 mortes no total.
Depois da capital, Contagem é a cidade mais atingida pela COVID-19 na região, com 389 casos e 17 mortes. Desse total, 202 infecções e cinco óbitos foram confirmados desde o dia 1º. Já dos números acumulados de Betim, 163 casos e nove óbitos foram registrados em junho, do total de 284 infecções e 17 mortes. Em Nova Lima, ocorre o mesmo curso. Enquanto o boletim mais atualizado traz 255 casos e uma morte, o de 1º de junho informava 164 casos e nenhum óbito na cidade.
Outro município da RMBH que passa por uma escalada no número de casos é Jaboticatubas. Com menos habitantes que as maiores cidades da região, a prefeitura contabilizava ontem 116 casos e um óbito pela COVID-19. Em 28 de maio, eram 78 casos e em 1º de junho, 100. Desde o início do mês, Itatiaiuçu registrou 22 novos casos, chegando a um total de 32, além de uma morte. Em Esmeraldas, o número de casos dobrou entre 1º e 9 de junho: de 14 para 28. A cidade ainda não registrou nenhuma morte.
Taquaraçu de Minas é a única cidade que não reportou nenhum caso de COVID-19 na região metropolitana da capital mineira. Já em Baldim, a prefeitura divulgou que o vírus infectou duas pessoas no último dia 6. Nova União também conta com dois casos confirmados, registrados em 27 de maio e 2 de junho. Sem nenhuma morte, essas três cidades têm a situação mais controlada da região.
Cerco Em Minas Gerais, o coronavírus se propaga mais rápido no interior do que em Belo Horizonte. Segundo análise do Estado de Minas com base em dados da Secretária de Estado de Saúde (SES) referentes a maio, o vírus se disseminou 2,7 vezes mais no interior do que na capital. No mês, o número de casos cresceu 203% em BH, ante 549% nas demais cidades. Enquanto o número de óbitos teve alta de 226% no interior, na capital a variação foi de 145%.
O avanço da COVID-19 sobre as cidades menores é foco de atenção não só do governo federal, como também do estadual e municipal. Em coletiva de imprensa no dia 1º, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, afirmou que faltam recursos nas cidades do interior. “O que precisamos fazer é isolar realmente onde está esse surto de forma que não venha propagar para toda a cidade. Precisamos cercar o surto para não sobrecarregar toda uma micro ou macrorregião”, propôs.
O prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), também demonstrou preocupação com o assunto, em coletiva em 29 de maio. “As curvas (de propagação da doença) no interior estão exponenciais. Assustadoramente exponenciais. Nós aqui estamos no espírito de colaboração para avisar a todas as cidades, a Grande BH, o que está acontecendo. Cada um faz o que quer, mas nós temos obrigação de avisar o que está acontecendo no interior”, disse. *Estagiário sob supervisão da subeditora Marta Vieira