O primeiro dia de flexibilização do turismo na Serra do Cipó provocou uma fuga em massa de pessoas para o local. Uma barreira sanitária montada próximo à ponte que liga o município de Jaboticatubas a Santana do Riacho provoca uma fila quilométrica de carros, evidenciando a enorme quantidade de pessoas que foram aproveitar o feriado em plena pandemia do coronavírus.
A reportagem visitou a Cachoeira Grande e a Cachoeira do Pedrão, pontos que costumam ficar cheios de pessoas nos feriados, mas ninguém foi encontrado. E, enquanto a maioria dos moradores vão às ruas de máscara, vários turistas não usam o equipamento, aumentando a chance de contaminação.
O decreto Municipal que determina abertura parcial do turismo na região divide opiniões. Enquanto alguns empresários e trabalhadores comemoram a volta parcial das atividades turísticas, moradores e associações comunitárias da Serra do Cipó protestaram ontem contra a flexibilização. Moradores da região estão organizando uma “vaquinha” virtual para entrar com uma ação junto ao Ministério Público Estadual para embargar a reabertura do comércio.
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Apesar da pandemia, tradição dos tapetes de Corpus Christi é mantidaCom 22 mortes em 24 horas, Minas chega a 18.448 casos de coronavírusGoverno recua na abertura de comércio em Região Central em MinasNem mesmo isolamento impediu que casais selassem namoro ou reatassemCaminhoneiro que se tratou de COVID-19 em Montes Claros deixa hospital sob aplausos PM termina com festa em condomínio em Esmeraldas; evento custava R$ 100 por pessoa Prefeitura fecha bar que funcionava durante a madrugada no Centro de BHCasal morre em acidente com Harley Davidson no Belvedere, em BHEnquanto isto, os contrários à flexibilização denunciam a falta de condições sanitárias do município para cuidar de pacientes com suspeita do novo coronavírus. Por outro lado, apoiadores da volta às atividades defendem a retomada com cautela, uma vez que não há casos de COVID-19
Apesar dos cuidados, como o uso constante de máscaras e capacidade máxima de 50% de ocupação nas pousadas, todas as cachoeiras e atrativos naturais permanecem fechados, assim como o Parque Nacional da Serra do Cipó.
Empresários e comerciantes que estão há meses sem abrir as portas e anseiam por um respiro nas contas, alegam que estão com reservas lotadas até julho. Enquanto isso, outros donos de pousadas, moradores e a comunidade em geral questionam a medida e alegam que, no caso de uma disparada da doença na região, não há estrutura necessária nem para primeiros-socorros.
Apesar da flexibilização, pelo menos duas pousadas contatadas pela reportagem informaram que não vão abrir. O dono de uma pousada e morador, que preferiu não se identificar, conta que recusou quatro reservas em um dia e que, em uma delas, ao cancelar, o cliente chegou a abrir reclamação em um site de hospedagem. “Os turistas vêm se divertir e desanuviar neste momento de pandemia aqui na Serra, mas não estão preocupados com saúde das pessoas do lugar”, conta.
Em outra pousada, o relato é de insistência constante por parte dos hóspedes. “Querem fazer reservas sem café da manhã, sem troca de roupa de cama, o que é proibido. Propõem condições absurdas, só para que aceitemos a reserva, sendo que a pousada é também a minha casa e de minha família, e, portanto, não dá para arriscar a vida deles, mesmo necessitando muito do dinheiro”, desabafa o dono.
Para Júlio Barroso, empresário e presidente da Associação Comercial da Serra do Cipó, a flexibilização chega em hora certa e está seguindo todos os trâmites necessários para acontecer. Representante de 45 associados, entre bares, pousadas, restaurantes, atrativos e prestadores de serviço, lembra que as regras de higiene e de não aglomeração serão seguidas à risca.
Barroso, que é dono da pousada Carumbé, diz que está com seus 11 quartos (metade da capacidade) reservados até o terceiro fina de semana de julho. “Mantive os 30 funcionários da pousada por conta das reservas e da ajuda do governo, com a suspensão temporária dos contratos. Empregamos muitos moradores locais e estamos seguindos as regras. Aos poucos, todos vamos nos readequando”.
O decreto mantém ainda, por tempo indeterminado, a suspensão de casas de shows e eventos, salões de festas e centros comunitários, clubes, praças esportivas públicas e privadas. O uso das máscaras faciais é obrigatório para entrar em quaisquer dos estabelecimentos autorizados nesta fase.
No ofício enviado ao prefeito contra a flexibilização, os vereadores lembram a falta de estrutura da região e alegam que a abertura traz insegurança à população. “Diante de todo o exposto venho através deste dar conhecimento da situação expressar a preocupação surgida após a edição do último decreto”. O oficio é assinado pelo presidente da Câmara, vereador Neilton da Paz Marques, que informou que, somente em suas redes sociais, “mais de 500 pessoas expressaram discordância com a medida”.