“Mãããe, você tá baixando alguma coisa? A internet ficou muuuito lenta!” “Pai, você esqueceu de carregar o notebook? Eu tenho aula de inglês...” “Façam silêncio, papai vai entrar em uma reunião do serviço...” “No computador, pai? E meu jogo?” “Alguém pode tirar o cachorro daqui? Estou em uma ligação de trabalho!” Se você ouviu ou pronunciou alguma dessas frases – ou todas elas, ou suas milhares de variações – nos últimos meses, não se preocupe: significa apenas que você é um dos bilhões de habitantes de um planeta em quarentena familiar. A boa notícia é que, além das disputas por nacos de tecnologia e por fatias maiores dos megabites da banda larga, a pandemia trouxe maior convivência dentro de casa e pode deixar como legado novas formas de se relacionar em família.
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Coronavírus está em 100% de amostras de esgoto de BH e Contagem, diz pesquisaCaixa abre agências neste sábado para auxílio emergencial: veja listaCoronavírus: retorno das aulas da rede municipal continua sem previsão em BHQuatro em cada dez brasileiros engordaram na quarentena por COVID-19Acidente deixa ferido e fecha BR-040 no sentido RioTerra da cachaça, Salinas decreta lockdown para conter coronavírus“O isolamento social coloca para as famílias um grande desafio. De uma hora para outra, surge a necessidade de reorganizar as demandas profissionais, com os filhos em casa, intensificando uma convivência que sempre foi repartida com a escola. Os conflitos podem eclodir com mais facilidade, uma vez que o nível de preocupação e pressão sobre os pais é muito forte. Isso também acontece com as crianças e adolescentes, que viram sua rotina absolutamente modificada”, avalia Flávia Vivaldi, doutora em educação pela Unicamp, destacando que são necessários ajustes para que essa convivência seja a mais harmônica e construtiva possível.
A professora sugere estabelecer uma nova rotina, mas fazer isso de forma conjunta. Considerar, por exemplo, quanto tempo cada um precisa do computador, se há um ou mais em casa, quais espaços serão ocupados para o trabalho e aqueles que podem ser disponibilizados para brincadeiras, e o que mais surgir como demanda. Até mesmo destinar um local na casa onde os filhos possam tentar digerir tudo o que estão sentindo. “Os pais devem envolver os filhos, para que participem do processo de construção de regras necessárias para este momento diferenciado”, ensina Flávia.
É possível trabalhar com os filhos, por exemplo, em que período do dia vão se dedicar às tarefas da escola. “Algumas coisas que aconteciam antes e eram tidas como regras sagradas agora precisam ser revistas, sobretudo em questões como organização e horário. Não se pode abrir mão é do conteúdo voltado para a boa saúde, a boa educação e a qualidade das relações humanas”, ressalta. Ela lembra a importância dos filhos se sentirem acolhidos, já que em muitos casos ficam confusos com a situação. O que não significa deixar que a vida “corra solta”.
O que a profissional considera uma vantagem em momento de convivência intensificada é justamente a revisão de valores. “Muitas vezes, a interação é superficial, movida por questões materiais, de suprir necessidades básicas, e o diálogo é esquecido. Para famílias que vinham se distanciando, agora há possibilidade de retomada de aspectos fundamentais para fortalecer vínculos. A família vai crescer do ponto de vista da coexistência”, salienta.
Lançando mão da criatividade, tanto quanto os pais puderem, é bom propor situações que favoreçam o engajamento dos filhos, ocupando o tempo de forma produtiva. “Mesmo quando a casa é pequena, dá para abrir um espaço para as crianças menores, para que gastem energia.” Para Flávia, é interessante construir memórias positivas deste período, para que, quando tudo passar, as lembranças não sejam apenas de coisas ruins.
Balada e DJ para escapar da rotina
É nesse espírito que ocorrem algumas das “noitadas” na casa da gerente de tecnologia Francislaine Souza, de 40 anos, e do marido, o gerente de projetos Fernando, pais de Téo, de 8, e Enzo, de 4. Trabalhando em casa, o casal está tendo de se reinventar para conciliar a nova rotina com as atividades escolares dos filhos, que também não foram interrompidas.
Uma das soluções criativas foi explorar uma paixão de Enzo, que adora dançar. Agora, na programação da família, já viraram lei as noites de “balada”. “Apagamos a luz, e um deles é o DJ. Fazemos tira gosto e lanche, colocamos música. Também brincamos juntos em casa mesmo, de esconde-esconde, pique pega e videogame”, relata Francislaine.
Quando o assunto é sério, os adultos usam computadores disponibilizados pela empresa em que trabalham e o filho mais velho usa a máquina que já existia na casa para assistir às aulas. Depois que acorda, brinca um pouco e relaxa, após o almoço Téo fica no computador colocado na mesa de jantar para estudar. Os pais ficam por perto, trabalhando, mas também atentos ao que o filho precisa. “Ele acabou de concluir a semana de provas”, conta a mãe. “Conseguimos nos organizar e acompanhar de perto. Mas é algo novo para todos nós”, diz Francislaine.
Nas novas formas de convivência em casa, Fernando assumiu as rédeas da cozinha, enquanto Francislaine fica mais por conta da casa e de cuidar da rotina dos garotos. No começo, eles não entendiam por que os pais passavam o dia na frente do computador. Agora, já aprenderam que se trata do trabalho. Mas não gostam muito da ideia de não poder ver os avós e os amigos da escola. “Foi tudo muito abrupto. Eles sentiram, principalmente o caçula. De repente sumiu todo mundo. O Enzo às vezes acorda assustado, chorando, ficou bem triste. Pego no colo e trabalho com ele nos braços. Sou obrigada a cumprir o trabalho, mas tenho que acolher meu filho. Hoje ele está mais tranquilo”, conta Francislaine. Por outro lado, ela diz que, antes da pandemia, quase não acompanhava os filhos em seu dia a dia, e que agora é uma relação estreita.
‘O sistema familiar deve ser repensado’
“Não estávamos adaptados a esta realidade. O sistema familiar deve ser repensado, para dar conta de tudo isso. Todos juntos, cumprindo prazos, tarefas, demandas diferentes, quase fazendo tudo ao mesmo tempo”, diz a psicóloga Cibele Marras. Para ela, firmar uma rotina é ter segurança, e noção do que vai acontecer depois. “Acordar no mesmo horário, manter as refeições próximas da hora em que eram feitas antes, ou com pequenas mudanças. É importante haver alguma constância, considerando ainda que a criança não tem todos os nossos instrumentos para lidar com mudanças. A rotina faz com que se sinta segura. Cada família vai ter que encontrar o seu jeito de fazer isso, ainda que leve tempo. Todos estamos aprendendo com a pandemia, precisamos chegar a novos arranjos, novas adaptações”, explica.
Ela lembra que os processos variam conforme cada caso. “Para muitos pais, o estudo dos filhos em casa gera estresse, na medida em que pensam que os filhos devem apresentar o mesmo desempenho que têm na escola, e se comparam aos professores”, analisa. Diante da situação atípica, é preciso entender que é uma ocasião de ruptura.
A psicóloga cita a criatividade e a flexibilidade como qualidades essenciais neste período. “É necessário pensar em alternativas, fazer experimentações, não ficar congelado em uma direção. Não é preciso dar atividades às crianças o tempo todo. Também devem ficar ociosas, para dar asas à imaginação, e a criatividade será acionada. É bom que aprendam a usar suas capacidades livremente”, acrescenta.
Equilíbrio
Cynthia De Filippo Menicucci, de 43, e o marido, Eduardo, de 49, já podem comemorar pelo menos uma conquista desses tempos de isolamento: a filha Catherine, de 7, aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas. O casal, que trabalha na área de educação, está em modo de trabalho remoto, e a menina também vem fazendo suas atividades pelo computador. Mas o tempo do lazer em família é preservado.
O dia de Catherine começa na sala, onde assiste e faz aula de ginástica artística com as colegas, em tempo real. Em seguida vai para o banho e, até o horário do almoço, os pais estabeleceram para ela um momento exclusivo para leitura. Após a refeição, vai para o quarto para as lições on-line da escola.
São três computadores na família. O casal com máquinas da empresa e a pequena com uma que já havia na casa. Eduardo, que em épocas normais passava muitos dias fora de Belo Horizonte, agora passa todo o dia trabalhando em casa, em espaço próprio de escritório. Cynthia também fica todo o tempo no computador, mas atenta às necessidades da família.
“Estamos mais unidos agora. Quase não ficávamos em casa, era tudo uma correria só. Observei benefícios com essa situação, muito pontos positivos. Meu marido passava muitos dias fora. Agora estamos mais juntos até para os momentos de lazer”, diz. Como vivem em um prédio com poucos moradores, por vezes os três descem para a área comum, brincam de bola, queimada – e foi em uma dessas que Catherine aprendeu a se equilibrar sobre a bike. “Agora, almoçamos e jantamos juntos todos os dias. Uma vez por semana, assistimos a filmes. Catherine está assimilando bem. Tinha uma rotina muito pesada, quase não parava em casa. Agora diz que está gostando de ficar com a família.”
Tratar de si para cuidar dos filhos
Em tempo de laços estreitados, há que se viver em espaços emocionalmente estáveis e um ponto para se ter harmonia é que também os adultos reservem um tempo para cuidar de si próprios e ter momentos de prazer. “Adultos seguros transmitem segurança. Se não se cuidarem de si, não poderão cuidar dos filhos”, diz a psicóloga Cibele Marras.
Leila De Luca, de 46, trabalha com terapias alternativas e artes plásticas e há um ano e meio se separou do professor de filosofia Daniel De Luca, também de 46. Os dois são pais de Manuela, de 15, e Caio, de 11. Além de oferecer leitura de tarô pelo WhatsApp, no momento, Leila está debruçada na produção de um livro, elabora um projeto ligado a arte e educação e usa o único computador da casa principalmente no período da noite, até mesmo entrando pela madrugada.
Ela divide a máquina com a filha, que precisa mais, para estudar. O caçula só usa o computador de vez em quando, geralmente para jogar. Quanto às atividades escolares, Caio faz exercícios que a mãe recebe da escola e imprime. O ex-marido está presente na rotina dos filhos todos os dias. “Vemos do que eles estão precisando, orientamos. Estamos gostando de passar mais tempo juntos. Penso em como vai ser depois que a pandemia acabar. Acho que vamos sentir falta desses momentos”, resume Leila.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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