Em tempos de pandemia do novo coronavírus, a luta pela vida passa por médicos, respiradores, leitos de tratamento intensivo, entre outros insumos indispensáveis. Mas, em diversos hospitais e UTIs, inclusive neonatais, há sempre alguém precisando também de sangue e leite para continuar sobrevivendo. No entanto, o período que o Brasil e o mundo enfrentam tem sido marcado pela redução drástica em doações e desaparecimento de pessoas dispostas a doar essas substâncias vitais.
Na data em que se lembra o Dia Mundial do Doador de Sangue, a Fundação Hemominas destaca ter registrado queda de 30% no número de doadores. Como consequência, os estoques disponíveis estão em nível de alerta para seis dos oito grupos sanguíneos coletados. O órgão identificou uma redução de cerca de 30% nas doações dos grupos O positivo e de 25% nos de O negativo, além de baixa coleta no grupo A, como informa o assessor da Gerência de Captação e Cadastro da Fundação Hemominas, Thiago Sindeaux.
“Percebemos que, como o fator RH negativo é mais comum entre a população brasileira, a gente enfrenta sempre uma queda mais acentuada deles. Chamamos a atenção para o grupo O negativo, que é universal e do qual sempre precisamos, e que está com queda acentuada”, observou Thiago Sindeaux.
Ele atribui a queda no número de doadores ao isolamento social, com fatores como a restrição de circulação das pessoas em transporte público. No mês passado, a Hemominas registrou 24 mil comparecimentos, número que é menor do que a média de tempos normais, que pode variar. “Antes da pandemia, a gente enfrentava uma queda devido ao período de férias e de carnaval, além das chuvas. Enfrentamos um nível de queda, mas não tão acentuado. Algo em torno de 20%. Agora estamos chegando a níveis bem superiores”, pontua o assessor.
Segurança extra
Sindeaux chamou a atenção para a segurança oferecida aos doadores, como a disponibilização de álcool em gel nas dependências das unidades da Hemominas, além do reforço da higienização, desinfecção e limpeza dos banheiros. A fundação também adotou distanciamento mínimo entre funcionários, assim como entre os pacientes.
“Estamos intercalando os doadores nas cadeiras. Uma tem doador, a outra não tem, para que a gente possa manter um nível de segurança necessário. Também estamos atendendo pelo agendamento. Foi uma forma que conseguimos encontrar para acompanhar e gerenciar o controle de doadores, para que não haja aglomeração”, afirmou Sindeaux. Segundo ele, o atendimento tem sido mais individualizado, e o uso de máscaras é obrigatório entre os doadores e funcionários. “Todas essas medidas ajudam a proteger ainda mais os nossos doadores”, sustenta.
Os doadores podem fazer o agendamento por meio do site do Hemominas, assim como pelo aplicativo MG App, para smart- phones. É recomendado que o doador verifique, na própria página virtual do órgão, os níveis de sangue disponíveis.
“Temos níveis muito diferentes. Hoje temos uma necessidade maior do O, positivo e negativo e do A negativo. Para aquele doador que agendou e não puder comparecer, pedimos que cancele o agendamento, para que o horário fique livre para outra pessoa”, aconselhou.
Período é duplamente crítico para captação
O mês de junho é considerado, tradicionalmente, período de escassez nos estoques de sangue, por registrar diminuição no número de doadores no Brasil, e entre os motivos está exatamente o aumento da incidência de infecções respiratórias, com a queda das temperaturas. Esse foi um dos motivos que levou à criação, em junho de 2015, da campanha Junho Vermelho, para incentivar a doação. Neste ano, diante da pandemia causada pelo novo coronavírus e da recomendação de distanciamento social, a campanha é considerada ainda mais necessária. A presidente da Fundação Hemominas, Júnia Cioffi, destaca que a necessidade de transfusão de sangue não diminuiu com a COVID-19. “Pacientes com diversas patologias continuam com a mesma necessidade de transfusão para sobreviver”, ressalta.
Leite para prematuros também está em baixa
Os bancos de leite humano dão suporte a bebês prematuros internados em unidades de tratamento intensivo (UTIs) neonatais. É a partir do alimento que eles ganham peso e crescimento adequados. No entanto, neste período de pandemia, o índice de doação caiu em diversos postos de coleta em Minas Gerais, assim como ocorre nos bancos de sangue.
De acordo com a coordenadora do banco de leite da Maternidade Odete Valadares, Maria Hercília de Castro Barbosa, há unidade em que chegou a ser registrada queda de 50% na doação. O estado conta com 12 bancos de leite, e a média de redução neles foi de 30%.
“Cada banco de leite tem um nível de estoque, pois depende do número de crianças que precisa de atender. Os bancos do interior são bem pequenos, não precisam de um estoque tão grande, pois a UTI é pequena e tem poucos leitos. Já um banco de leite que atende a uma demanda maior, tem que ter um estoque bem superior. Temos que trabalhar com um estoque de segurança para um período de 10 a 15 dias”, informa Maria Hercília.
A coordenadora destacou a segurança e transparência na doação. O processo começa com uma pré-triagem da doadora, via telefone. Uma entrevista é feita para saber se ela se encaixa no perfil. O próximo passo são pedidos de exames de hepatite, HIV, de sangue, entre outros. Um médico analisa os resultados antes de liberar a doação.
Instruções são passadas também por telefone. Funcionários com todos os equipamentos de proteção individual entregam frascos esterilizados, para que a mãe com excedente de leite possa colher e armazenar o líquido em casa. Os mesmos colaboradores voltam para buscar o material, identificado com um número de matrícula, para facilitar a identificação da doadora para a Vigilância Sanitária. São procedimentos que garantem segurança para quem doa e para quem receberá o leite.
“Apesar de a pasteurização ser um método que elimina 100% dos micro-organismos patogênicos, nós não aceitamos leite de mães com suspeita de COVID-19, que estejam gripadas ou que tenham alguém na família que esteja gripado. Toda semana perguntamos isso para a mãe. Se tiver, não pode doar naquela semana e até 14 dias depois do período de gripe ou qualquer problema de saúde”, esclarece Maria Hercília.
Atualmente, o banco de leite da Maternidade Odete Valadares tem uma média de 80 a 100 doadoras. Na soma com outros bancos de leite públicos no estado são aproximadamente 180 mães. No entanto, o número de mulheres ativas caiu em um terço em Belo Horizonte. Antes da pandemia, eram 120 em toda a cidade. Agora, são 80.
Diante da queda de volume de leite, sobretudo no interior, Maria Hercília faz um apelo para que mães com excedente de leite doem. A coordenadora destaca a segurança do processo e lembra que vários recém-nascidos dependem do alimento para viver.
“O processo é bem seguro. A portaria que regulamenta o funcionamento dos bancos de leite é muito segura biologicamente. A mãe pode ficar tranquila, pois terá o mínimo de contato com nossa equipe, que vai paramentada e protegida. Ela estará proporcionando benefícios para bebês que estão lutando para sobreviver. Às vezes, eles ficam internados dois, três meses. Nesse período, o leite das mães biológicas vai diminuindo e eles acabam necessitando do leite pasteurizado para sobreviver”, concluiu.
Além dos 12 bancos de leite, Minas conta com 30 pontos de coleta. Os endereços podem ser consultados pelo www.redeblh.fiocruz.br.
Facebook cria ferramenta
Para tentar contornar a crise de abastecimento nos estoques de sangue, a partir desta semana os hemocentros que abastecem a rede pública de saúde passarão a contar com uma ferramenta do Facebook. Com ela, as unidades conseguem notificar pessoas que sejam cadastradas como doadoras de sangue na plataforma: hoje já são cerca de 10 milhões no país. Para cadastrar-se como doador de sangue na rede social, basta acessar facebook.com/ doesangue (www.facebook.com /donateblood). No celular, também é possível acessar o menu do Facebook e clicar em “Doações de Sangue”. Já para entrar em contato com a Fundação Hemominas, ter mais informações e tirar dúvidas, basta ligar para 155 opção 1, ou acessar o site da instituição: www.hemominas.mg.gov.br.
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