"Foi um período de crescimento pessoal, de reavaliar a minha vida. E que, agora, tudo dê certo", disse Érico. Ele é morador do Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. A família é do interior de São Paulo e ele mora sozinho na capital mineira.
Érico está melhorando a parte motora, ficou com a creatinina alta, mas, com remédios, não está precisando da hemodiálise. Ele pontua que, antes de ingerir a cerveja contaminada, tinha um rim "perfeito", agora, tem o órgão debilitado.
A vítima continuará o tratamento de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e com a cuidadora 24 horas em casa, serviços não cobertos pelo plano de saúde e custeados pela própria família, já que a Cervejaria Backer nunca arcou com o tratamento. "Estou aguardando (assistência) até hoje", disse. Érico afirma que a Backer não entrou nem em contato com o advogado que o representa.
O representante comercial clama por justiça. "A Backer deveria se expressar melhor, e não ficar apenas atrás dos autos, só se defendendo. Ela precisa partir para cima das vítimas, assumir o erro que foi cometido. Espero que a justiça seja feita", pontuou o representante comercial. "Minha família não é de Minas Gerais. Agora, preciso pagar apartamento, preciso pagar cuidador, além dos custos do médico", disse.
O advogado do Erico é André Couto. Ele também participou da coletiva na porta do hospital. "As medidas já estão sendo tomadas. Existe uma Ação Civil proposta pelo Ministério Público e já temos uma ordem para a Backer pagar despesas de vítimas como o Érico", disse. Ele afirma que, de acordo com o levantameto feito por outras vítimas da intoxicação, o custo fica em torno de R$12 mil a R$15 mil mensais. "O mais caro é o cuidador 24 horas", acrescentou.
O advogado classificou a postura da Backer como "lamentável" e ele acredita que não é necessária a retomada das atividades da cervejaria para que a assistência seja arcada: "sinceramente, eu não acho que a Backer tem que voltar ao mercado para ter o dinheiro de custo das vítimas. Trata-se de uma família com patrimônio vasto com um grupo econômico empresarial".
Resposta da Backer
A empresa alega que todos os bens se encontram bloqueados pela Justiça, que determinou regras para o reconhecimento e pagamento de auxílio.
"Na última segunda-feira, a empresa conseguiu um empréstimo inicial no valor de R$ 200 mil e depositou em juízo. Cabe à Justiça definir quando e como esse recurso será distribuído. Por fim, a Backer reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores", concluiu.
Indiciamento
A Polícia Civil concluiu o inquérito na terça-feira (9), indiciado 11 funcionários da cervejaria Backer, após a intoxicação por dietilenoglicol em cervejas da marca. Entre os crimes, estão lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio.
A Polícia Civil de Minas Gerais constatou que um vazamento em um tanque provocou a contaminação das cervejas por mono e dietilenoglicol, substâncias tóxicas usadas no resfriamento do produto, contrariando as instruções do próprio fabricante do equipamento.
Ao longo dos cinco meses de investigações, o número de vítimas registradas no inquérito chegou a 42, mas 13 foram retiradas da lista – três por se recusarem a fazer exames e 10 por fatores médicos ou de inconsistência na apuração para ligá-las ao caso –, explicou ontem o delegado Flávio Grossi. Assim, a Polícia Civil trabalha com 29 vítimas, sete das quais morreram. Além disso, ainda há denúncias envolvendo 30 supostas vítimas em análise.