Jornal Estado de Minas

'Não tem negligência', afirma diretora de museu da UFMG incendiado

(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação)


À frente do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB), que pegou fogo na madrugada dessa segunda-feira (15), Mariana Lacerda contesta as acusações do ex-diretor da unidade, professor Antônio Gilberto Costa, de que a Universidade teria negligenciado a manutenção do equipamento cultural



A dirigente nega sobretudo a afirmação do professor de que, ao término da gestão dele, havia R$ 600 mil reais no caixa do museu, verba supostamente destinada a restaurações e reparos preventivos das salas da reserva técnica - prédio mais castigado pelas chamas. O local não apresenta Auto de Vistoria dos Bombeiros (AVCB) e Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP), documentos que atestam condições básicas de segurança estabelecidas por lei.

Segundo a diretora, em agosto de 2019, início de sua administração, o acervo contava com recursos da ordem R$ 400 mil. O montante seria insuficiente para custear a adequação do MHNJB às normas especificadas pelos bombeiros, já que grande parte das edificações que o compõem foi erguida na década de 1940. “Estamos falando de um espaço de 600 mil metros quadrados com muitas construções históricas, um projeto de adequação em estruturas como essas custa alguns milhões.”, observa a diretora. 

(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação)


Ainda de acordo com Mariana, os R$ 400 mil reunidos no caixa do museu ao fim da gestão do professor Antônio Gilberto Costa foram aplicados no pagamento de despesas de manutenção e montagem de exposições. Ela evitou comentar as acusações de Costa à reitoria. O ex-gestor relatou ao Estado de Minas que o Museu de História Natural chegou a aprovar um plano para situações de emergência junto ao conselho universitário da UFMG, mas o projeto teria sido barrado pela administração central. Procurados pela reportagem, a reitora Sandra Goulart e o vice-reitor Jaime Arturo Ramirez não se pronunciaram sobre o assunto.



Vistoria

(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação)

Em que pese a ausência dos certificados de segurança exigidos pelos bombeiros, a diretora do MHNJB afirma que a instituição cumpre as determinações de segurança fixadas pela legislação. Segundo a dirigente, ao fim de 2018, pouco depois do incêndio que consumiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG recebeu uma força-tarefa especializada em vistorias de patrimônio histórico. O grupo - formado por agentes do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e da Superintendência Estadual de Museus - apontou a necessidade de melhorias no espaço, mas teria elogiado as condições encontradas na reserva técnica. A equipe voltaria este ano para conferir as adequações.

“É o nosso melhor espaço de reserva técnica. Pela estrutura que a gente tinha, nada justifica esse incêndio. Agora, a gente tem que esperar a perícia para saber de fato o que aconteceu. Não tem negligência, nós estamos fazendo tudo o que é necessário fazer para manter o acervo e as exposições”, argumenta

Investigação

(foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação)

Os trabalhos da perícia, conduzidos pela Polícia Federal, tiveram início por volta de 9h desta terça-feira (16). Segundo a diretora do MHNJB, não há previsão para a conclusão das investigações. Os agentes da PF estão sendo acompanhados por pesquisadores e restauradores da UFMG, encarregados de identificar os itens do acervo queimado. “Aí, tem todo um procedimento de triagem e de inventariação desses itens para a gente conseguir relacionar o que for encontrado nos escombros com a documentação arquivística da reserva técnica. Esse agora é o nosso trabalho”, relata. 

Mariana diz ter conversado ainda na segunda (15) com a direção do Museu Nacional do Rio, que compartilhou experiências e conhecimentos úteis para a recuperação do MHNJB. “Claro que a perda aqui foi enorme e irreparável, mas acreditamos que será possível salvar muita coisa. Fósseis, por exemplo. O pessoal do Museu Nacional também nos recomendou documentar o próprio incêndio, ou seja, integrar elementos dele ao nosso acervo e, assim, contar a história desse episódio no futuro". 



Fogo


Registrado por volta de 5h30 dessa segunda-feira (15), o incêndio que atingiu o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG destruiu parte de um anexo da reserva técnica, local de armazenamento do acervo não alocado em exposições. A Universidade ainda calcula os danos causados pelo fogo. 

O equipamento cultural reúne, ao todo, 265 mil peças de arqueologia, paleontologia, cartografia histórica, arte popular, etnografia, botânica, geologia, zoologia, além de uma biblioteca com 3.750 livros e 19.134 números de periódicos nacionais e estrangeiros. Também compõem o patrimônio fósseis, registros paleontológicos da Era Cenozoica (1,8 milhão de anos) e arqueológicos com mais com mais de 12 mil anos.

Obra mais popular do museu, o Presépio do Pipiripau, do artista Raimundo Machado, não foi atingido. A área verde do MHNJB é um tesouro à parte, com vegetação típica da Mata Atlântica, habitada por espécies nativas e raras.