Os profissionais de reciclagem de Belo Horizonte pedem socorro. Afetados diretamente pela pandemia da coronavírus, uma vez que a prefeitura suspendeu a coleta seletiva de lixo na capital desde o fim de março, eles vão completar na próxima semana três meses sem conseguir trabalhar, acumulando dívidas e angústia, mas sem perder a esperança.
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Chegada do inverno pode derrubar as temperaturas na próxima semana; entendaTrecho da BR-356 em BH é palco frequente de tragédias; relembre acidentesProibido pela mulher de sair, homem ateia fogo em casaCampanha arrecada agasalhos durante o inverno em BHArtesãs da Canastra se preparam para retomada de atividades produtivas"Está doído, dependemos do material (coletado pela SLU) para sobreviver e não estamos tendo esse material. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) tem doado cestas-básicas, mas não suprem as necessidades do mês das famílias. Além disso, temos de pagar aluguel, luz, água. Já temos companheiros e companheiras sendo despejados. Então, para nós, está uma situação muito triste”, afirma Silvana Assis Leal, presidente da Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região (Coopersoli Barreiro), que 47 reúne profissionais efetivos.
Ela ressalta que muitos recicladores não conseguiram receber o auxílio-emergencial do Governo Federal, no valor de R$ 600/mês. Seria um valor muito bem-vindo para quem tem sofrido para suprir as necessidades básicas da família.
“Temos tido até apoio psicológico através de convênio com a UFMG. Muita gente fica deprimida”, diz Silvana, que muitas vezes tem de lutar para seguir forte. “Chegar e ver o galpão vazio nos faz pensar muito no que estamos vivendo. A gente sente muita tristeza, saber que nossos filhos estão precisando e não podemos dar.”
Outras cooperativas conseguiram se sair um pouco melhor, mas não estão nem perto de estar em situação tranquila. É o caso da Cooperativa dos Trabalhadores com materiais Recicláveis da Pampulha Ltda (Coomarp Pampulha), que obteve ajuda de parceiros nas primeiras semanas da pandemia, inclusive financeira.
Como isso não se manteve, buscou alternativas, como a confecção de máscaras, tendo conseguido encomenda de 20 mil unidades dentro do projeto “Herois usam máscaras”. Também tem gente produzindo sabão. Mas o desejo é mesmo o de voltar a trabalhar com a reciclagem, mas só quando houver condições sanitárias para tal.
“Faltou um plano emergencial por parte das autoridades. Não só nós, mas muita gente depende do que produz para sobreviver”, afirma Cleide Maria Vieira, umas das 55 catadoras e catadores da Coomarp Pampulha.
Em uma das maiores entidades do gênero, a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), que tem uma unidade no centro e outra no Prado, com 130 profissionais, a situação não é diferente. “A situação está difícil, muita gente desesperada, sem saber o que fazer. Esperamos ajuda, mas não sabemos de onde”, diz Carina Pereira dos Santos, que é de família de catadores.
A expectativa por dias melhores une todos os catadores, que cada vez têm mais consciência da importância do trabalho deles para a sociedade. “Antes, achavam que lixo não servia para nada. Hoje são milhões de pessoas que tiram sustento desse material descartado, que dão vida digna às famílias”, argumenta Silvana. “Com mais gente em casa, em isolamento, aumentou a geração de resíduos, mas tudo está indo para o aterro sem nosso trabalho. É pior para o planeta, para a natureza e, claro, para as pessoas”, pondera Cleide.
MUDANÇA DE VIDA
Como a pandemia de COVID-19 mudou a vida de todos, os profissionais da reciclagem sabem que terão de se adaptar. E para minimizar o risco de contaminação, prometem seguir todas as normas estabelecidas pelas autoridades sanitárias.
Cleide Maria Vieira, por exemplo, se anima ao saber que funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte estão vistoriando galpões para fazer as modificações necessárias para a volta ao trabalho. “Já me falaram que vamos receber capacitação, pois teremos de mudar nossa forma de trabalhar, vai haver quarentena do material recolhido. Já era para estar ocorrendo, mas não começou. O importante é ter um plano para voltarmos”, declara.
SLU
Em nota, a SLU se pronunciou:
"A coleta seletiva foi interrompida, em virtude da pandemia, para evitar o manuseio dos resíduos durante a triagem do material reciclável nos galpões das cooperativas e associações parceiras do Município.
A SLU tem consciência das dificuldades que estes trabalhadores vêm enfrentando com a suspensão do serviço. Semanalmente a SLU se reúne com os representantes das cooperativas e associações de trabalhadores com materiais recicláveis, integrantes do Fórum Municipal Lixo e Cidadania de Belo Horizonte, para acolher as demandas dos catadores e estudar possibilidades de apoio.
A Prefeitura de Belo Horizonte, desde o mês de abril, tem feito a entrega de cestas básicas via rede de supermercado, com o objetivo de contribuir para que famílias em situação de vulnerabilidade possam suprir as necessidades alimentares. Em função da diversidade e do número de famílias alcançadas foi definido um modelo padrão de cestas básicas que dure por todo mês, considerando a necessidade nutricional média das famílias.
As cestas são compostas por 12 itens (5 kg de arroz, 5 kg de açúcar cristal, 2 kg de feijão carioca, 1 kg de fubá de milho, 500 g de macarrão parafuso massa com ovos, 500 g de macarrão espaguete massa com ovos, 1kg de sal refinado, um frasco de óleo de soja, 1 kg farinha de mandioca, dois pacotes de leite em pó, uma lata de extrato de tomate, uma lata de sardinha).
AUXÍLIO
Outro ponto que gera convergência de ideias, mas de forma negativa, é o auxílio devido pelo Governo do Estado, chamado Bolsa-Reciclagem. Instituído pela Lei 19.823/2011, visa “conceder incentivo financeiro às cooperativas e associações de catadores que segregam, enfardam e comercializam papel, papelão, cartonado, plásticos, metais, vidros e outros resíduos pós-consumo. O objetivo é estimular a reintrodução de materiais recicláveis no processo produtivo”, porém, acumula mais de dois anos de atraso.
“Bolsa-reciclagem virou lenda. No governo anterior estava atrasado. No atual, acertaram 2017, mas 2018 e 2019 não temos nem notícia. Eles já prometeram acertar, mas não tem previsão”, afirma Cleide.
Questionado, o executivo estadual diz que a “atual gestão da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a partir da criação da Subsecretaria de Gestão Ambiental e Saneamento (Suges), em dezembro de 2019, retomou os pagamentos do programa”, tendo sido quitadas as parcelas referentes ao último trimestre de 2017 e aos dois primeiros de 2018, “o que totalizou repasse de cerca de R$ 1.500.000,00, apoiando 80 associações e 1.600 catadores” em Minas.
“A Semad reconhece a importância do trabalho prestado pelas Associações de Catadores para o meio ambiente e, consequentemente, para a qualidade de vida da população. Por isso, tem se esforçado para obter os recursos financeiros para quitar as parcelas que ainda estão em atraso. A secretaria espera que, em breve, a situação seja regularizada”, diz o órgão público, em nota.