Durante a pandemia do novo coronavírus, uma das palavras mais proferidas por governos, prefeituras e especialistas certamente é ‘pico’. Afinal, constantemente são anunciadas novas datas para que a COVID-19 tenha o seu ápice em número de casos em diversos estados brasileiros. Somente em Minas Gerais foram, pelo menos, oito projeções, sendo a última nessa terça-feira, com um estudo que diz que a doença atingirá seu ponto mais alto em agosto, com 150 mil infectados. Mas o que é, de fato, o ‘pico’?
Quem explica é o infectologista Unaí Tupinambás, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 em Belo Horizonte. De acordo com o especialista, a população só vai saber que passou pelo período do pico após o término dele.
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Mas, para que o ápice da COVID-19 seja adiado, é preciso que a população tome todos os cuidados, como evitar aglomerações.
Mas, para que o ápice da COVID-19 seja adiado, é preciso que a população tome todos os cuidados, como evitar aglomerações.
“Temos cálculos projetando que, se nada for feito, como medidas de prevenção e distanciamento social, o pico nosso pode ser em meados de junho, final de julho, por exemplo. Mas com as medidas de prevenção, podemos empurrá-lo para o final de setembro. Se empurramos para o fim de setembro ou até mesmo outubro - situações hipotéticas -, saímos desse outono/inverno frio em que estamos e tiramos dessa confusão a gripe e as influenzas", destaca Unaí Tupinambás.
E o infectologista completa: "É importante que a gente empurre o pico, pois se empurrarmos para um mês mais quente, podemos inclusive achatar a curva, porque no verão a transmissão é um pouco mais dificultada. Podemos propor medidas mais rigorosas de distanciamento social, o uso rigoroso da máscara, proibir eventos, como já estamos propondo. O que temos que fazer é isso, achatar esse pico”, explicou.
E o infectologista completa: "É importante que a gente empurre o pico, pois se empurrarmos para um mês mais quente, podemos inclusive achatar a curva, porque no verão a transmissão é um pouco mais dificultada. Podemos propor medidas mais rigorosas de distanciamento social, o uso rigoroso da máscara, proibir eventos, como já estamos propondo. O que temos que fazer é isso, achatar esse pico”, explicou.
Unaí também chama a atenção para outras vantagens do adiamento do pico, como melhor preparação das equipes e unidades de saúde, aquisição de equipamentos de proteção individual, além de proporcionar mais tempo para que a ciência encontre soluções para a COVID-19.
“Estamos vendo que estão saindo questões da ciência de como tratar melhor esses pacientes. Parece que a cloroquina não funciona muito bem, parece que a dexametasona usada em pacientes mais graves pode trazer benefício, sim, muito importante. Foi um dado muito alentador. Temos visto duas vacinas em fase 3 de pesquisa, que mostraram ser muito promissoras nas fases anteriores. Quem sabe no inverno do ano que vem não teremos acesso a uma vacina? Isso é muito importante”, salientou.
Como se estima o pico?
Os cálculos para se chegar a uma determinada data de pico variam de acordo com o profissional responsável pelas contas, diz Unaí. Em geral, utiliza-se a taxa de transmissão, também chamada de R0, assim como o número de habitantes da cidade e o grau de distanciamento social.
“De acordo com o R0, pela população daquela localidade e pelo grau de distanciamento social. Se o distanciamento social for de 90%, vamos pensar, o pico nunca será atingido. Mas 90% da população não consegue ficar em casa. Se o distanciamento social cai para 30%, eles fazem o cálculo em cima dos 70% de quem está andando na rua. Com a taxa de transmissão de x, eles serão expostos. Daí faz o cálculo. Cada um (matemático) usa um modelo. Um acerta mais que o outro.”
Vida pós-pico
Para Unaí, a população terá de viver um ‘novo normal’, mesmo depois de uma possível redução nos números. A máscara, por exemplo, assim como hoje, será item indispensável. A formação de grandes aglomerações também deve continuar a ser evitada.
“Até ter uma vacina, vamos precisar de um ‘novo normal’. A população vai ter que se acostumar. Espero que a gente tenha essa vacina até o final de 2021”, concluiu.
Veja as projeções para o pico da COVID-19 em Minas
31 de março: UFMG afirmou que pico da COVID-19 em Minas deveria ocorrer entre 27 de abril e 11 de maio
8 de abril: Secretaria de Saúde de Minas projetou pico dos casos de COVID-19 para começo de maio
16 de abril: governo de Minas distanciou o pico para o dia 27 de maio
11 de maio: projeção de pico da COVID-19 passou para 8 de junho em Minas Gerais
22 de maio: previsão do pico de COVID-19 em Minas Gerais foi adiado em um dia
4 de junho: projeção de pico passou para 19 de julho com 2.047 casos em um dia
8 de junho: secretário adjunto de Saúde de Minas Gerais, Marcelo Cabral, estimou pico para 15 de julho
16 de junho: estudo inédito prevê pico da COVID-19 para agosto em Minas, com mais de 150 mil infectados