Com pouco mais de 4 mil habitantes, Taquaraçu de Minas pode se orgulhar de ser a única cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte a não registrar oficialmente casos de COVID-19. O tamanho da população, o ritmo mais calmo do interior e as medidas recomendadas por autoridades e acatadas pela maioria dos cidadãos ajudam a explicar esse verdadeiro “oásis” em meio à contaminação que cresce em uma das áreas mais populosas do Brasil – são cerca de 6 milhões de pessoas em 34 municípios, a terceira maior concentração populacional do país.
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“Somos um município de passagem, localizado muito próximo da BR-381, vizinho de Jaboticatubas, onde há a Serra do Cipó, muito próximos de Santa Luzia. Então, desde que se ventilou a chegada da pandemia, nos reunimos e traçamos ações baseadas no que recomendou o governo de Minas, mas adequando-as à rotina do município, da nossa gente”, afirma o secretário municipal de Saúde, Rodrigo Gazeto. “Orientamos a população quanto à importância do distanciamento social, do uso de máscaras, da higienização correta das mãos. Usamos nossos agentes de saúde para conscientizar todos. Mas não fechamos tudo, até porque poderia ser pior, pela questão de saúde mental”, acrescenta.
Em uma cidade como Taquaraçu de Minas, o movimento nas ruas já é bem menor em relação ao ritmo de uma metrópole como Belo Horizonte. E ele diminuiu ainda mais, como parte das medidas de prevenção. Mesmo assim, a maioria das pessoas vistas em locais públicos pela equipe do Estado de Minas na tarde de ontem estava usando máscaras. Em dois supermercados visitados, havia álcool em gel disponível logo na entrada, bem como indicações sobre como higienizar carrinhos e cestos, assim como sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Aglomeração, só na porta da lotérica, mas com algum distanciamento entre os clientes. Nada duradouro, pois por volta das 15h já não havia mais fila. “A gente vem respeitando as normas. Quem não usa máscara, por exemplo, não entra, espera aqui na porta pelos produtos”, diz Klar Tanieelly, gerente de um supermercado na Praça Coronel José de Melo, em frente à Paróquia da Santíssima Trindade, ponto central da cidade.
Fé e precaução
O cuidado adotado por todos também é a explicação da funcionária pública Denise Ferreira da Silva para a situação no município. Mas, como boa mineira, ela aponta a ajuda divina para que a cidade continue sem nenhum infectado pelo novo coronavírus. “Acima de tudo, é Deus que tem nos livrado do vírus. A população tem ajudado, está bem consciente, ficando em casa, saindo só para o essencial e usando máscaras. Esperamos continuar assim, sem a pandemia”, afirma.
Até ontem, a Prefeitura de Taquaraçu de Minas havia testado 27 pessoas com suspeita de contágio pela COVID-19, mas nenhuma teve diagnóstico confirmado por exames. “Talvez, se aumentarmos o número de testes apareçam casos. Mas a gente espera que não”, afirma a comerciante Klar Tanieelly.
A intenção da prefeitura é manter o trabalho que vem sendo feito, assim como as restrições – e até ampliá-las se necessário. “Não vamos medir esforços para que o vírus não chegue até aqui. Para isso, contamos com a população. Nenhuma ação é eficiente se não houver o entendimento dos cidadãos”, avalia o secretário Rodrigo Gazeto, que não descarta o chamado lockdown, ou interrupção total das atividades no município.
Já o prefeito Alcides Hipólito de Assunção Ferreira Filho, o Cidinho, reclama de alguns comerciantes, principalmente donos de bares, que não estariam colaborando, principalmente nos fins de semana. “Vamos manter nossas medidas e até ampliá-las, se necessário. Afinal, sem saúde não valemos nada.”
'Invasão'
Ele lamenta, também, que muita gente vinda de fora não respeite as recomendações. Muitos donos de sítios em Taquaraçu de Minas moram em outras cidades, como Belo Horizonte e Santa Luzia. “Se eles querem vir, que fiquem em suas propriedades, não fiquem circulando por locais públicos, ainda mais sem necessidade”, argumenta.
Ontem, um dia útil, a maioria dos bares no município estava fechada. Em praticamente todos os avistados pela equipe de reportagem havia cartazes informando que a venda era exclusiva para retirada dos produtos, não sendo possível o consumo no local.
Baldim também entra na lista da pandemia
Até o início desta semana, Taquaraçu de Minas tinha a companhia de Baldim, também na Grande BH, na ausência de casos de COVID-19. Mas, ainda que não apareça na lista da Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), a prefeitura confirmou ter identificado quatro casos no território.
O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Rodrigues, explica que uma empresa de engenharia chegou à cidade para a instalação de cabos, contando com trabalhadores de outras cidades. Todos os contratados estão passando por testes. “Na semana passada, identificamos dois casos que vieram de Pernambuco e um que veio do Pará. Os três estavam assintomáticos”, disse.
Na segunda-feira, a cidade confirmou o primeiro caso de residente: “Trata-se de um homem de 46 anos. Ele fez o teste para integrar o trabalho da empresa e descobriu que estava com o vírus. Assim como os outros três, também está assintomático”, acrescentou o secretário, que não sabe como o vírus foi transmitido para o residente, já que os outros três doentes estão em isolamento.
Fechamento
Ele explica que desde março a rotina da cidade inclui precauções para evitar a disseminação do vírus. O comércio funciona com portas parcialmente abertas para retirada de produtos, ou com entregas. Com a confirmação dos casos, a prefeitura cogita a ideia de uma reunião com representantes de municípios vizinhos para propor o endurecimento das medidas durante os fins de semana. “Já estamos com as barreiras sanitárias. Agora, vamos propor o fechamento total nesse período”, acrescentou Rodrigo Rodrigues.
Ontem, equipe da Secretaria de Saúde de Baldim foi até o Lar da Boa Esperança fazer testes rápidos visando proteger os idosos que vivem na unidade. Vinte internos e 14 funcionários foram testados, todos com resultado negativo para o novo coronavírus.
Sobre a situação em Baldim, a Secretaria de Estado de Saúde informou que a notificação dos casos é feita pelos municípios. “A inserção desses dados no boletim epidemiológico do estado ocorre quando a secretaria recebe a notificação oficial do município, contendo todos os documentos necessários para confirmação do caso, trabalho que tem levado, em média, de três a quatro dias após o recebimento da documentação. Em alguns casos pontuais, esse processo pode levar mais tempo do que o usual (...), seja pela necessidade de documentação, seja por peculiaridades do processo que ensejaram maior tempo para a investigação”, esclareceu, em nota. (Larissa Ricci)