Nesta terça-feira, mais um incêndio de grandes proporções mobilizou militares do Corpo de Bombeiros em Minas Gerais. Durante a madrugada, o fogo consumiu 29 hectares do canavial de uma usina na zona rural de Uberaba, no Triângulo Mineiro, e também chegou a parte de uma mata da região que ainda será mensurada. Na capital mineira, 50 hectares de vegetação da Serra do Curral, na Região Centro-Sul, foram destruídos pelo fogo entre a tarde de domingo e madrugada de ontem. Os desastres alertam para os meses de seca que estão por vir em Minas Gerais, justamente em um cenário de crescimento das ocorrências desse tipo no estado. De acordo com os bombeiros, houve registro de 56% mais incêndios florestais em maio deste ano no comparativo com o mesmo período de 2019.
A situação pode ser acompanhada por meio de uma página do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros. O gráfico mostra um crescimento a partir de maio. O pico costuma ocorrer em setembro.
Em Uberaba, além dos bombeiros, a própria usina auxiliou o combate com um caminhão-pipa. A suspeita é de que o incêndio seja de origem humana. O tenente-coronel Anderson Passos, comandante do Corpo de Bombeiros de Uberaba, informou ao Estado de Minas que o risco de queimadas no município já é muito alto. “O Corpo de Bombeiros Militar recomenda que, para que o dano ambiental seja menor, é fundamental que a primeira pessoa que avistar o incêndio telefone para o 193. A palha seca queima mais de 70 metros em hora, então a rapidez é ainda mais importante nesses casos”, pontuou. O militar também destaca que, além de afetar o meio ambiente, o fogo pode ser prejudicial à saúde, uma vez que o ar tipicamente seco desta época do ano fica mais poluído pela fuligem e fumaça.
Até domingo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já havia detectado 787 focos de calor em Minas Gerais neste ano. Desses, 262 (33%) foram mapeados no mês de junho. O dado, apesar de expressivo, está aquém da média histórica do estado para o mês: 328.
Novas estratégias contra o fogo
“Há muito tempo, a Serra do Curral não queimava desse jeito.” Essa é a definição do tenente André Dutra, do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), para a guerra enfrentada pela corporação no maciço da Serra do Espinhaço, terminada só na madrugada de ontem. Ele comandou a ocorrência.
A situação poderia ter sido pior não fossem as melhorias implementadas pela corporação no combate a incêndios neste ano. Foram dois upgrades: um na área de planejamento e outro ligado ao maquinário. Nessa última frente, a evolução é sentida a partir de duas viaturas recém-adquiridas pela corporação, ideais para infiltração em locais de difícil acesso, sem pavimentação, exatamente o cenário enfrentado na Serra do Curral: o veículo Agrale Marruá.
“É uma unidade especializada em combate de incêndio noturno, que é uma situação extremamente delicada e perigosa”, afirma o tenente André Dutra. A partir desse tipo de viatura, os militares conseguem se aproximar dos focos de calor em terrenos inclinados, característicos dos incêndios florestais.
Outra melhoria incorporada pelo Corpo de Bombeiros na temporada de incêndios deste ano se volta para a metodologia. Desde janeiro, a corporação adota a Operação Azimute: um acompanhamento realizado diretamente com as unidades de preservação ambiental para verificar, entre outras coisas, o maquinário disponível em cada parque e o número de brigadistas. O trabalho acontece, sobretudo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Nesse cenário, os militares realizam visitas técnicas para apurar essas informações e ter mais conhecimento, por exemplo, sobre as rotas de acesso a cada mata e os pontos para captação de água. Zonas para pouso de aeronaves também são mapeadas. Tudo isso, posteriormente, fica disponível para consulta dos bombeiros especializados em incêndios ambientais.
De acordo com o tenente André Dutra, essas informações, além da contribuição de funcionários do Hospital da Baleia, foram fundamentais para o combate na Serra do Curral. “Devido à grande proporção do incêndio em um relevo acentuado, esses dados contribuíram para montarmos o que a gente chama de Sistema de Comando em Operações (SCO), que é uma doutrina trazida dos Estados Unidos e muito usada na Califórnia (estado onde os incêndios são comuns). É ideal para gestão de catástrofes naturais, porque é o cérebro da ocorrência”, explica o militar.
A ocorrência na Serra do Curral terminou às 3h de ontem e contou com esforços de militares do Bemad, do Pelotão de Combate a Incêndio Florestal e do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, responsável pela área. Na manhã de ontem, os bombeiros retornaram ao local para verificar se havia mais focos de calor e medir o tamanho da área queimada. Eles usaram um drone, que detectou os 50 hectares danificados. O perímetro destruído tem cerca de cinco quilômetros.
Apelo
Uma das maiores preocupações dos bombeiros durante o combate ao incêndio na Serra do Curral era impedir que as chamas chegassem às dependências do Hospital da Baleia, do Parque das Mangabeiras e do Bairro Saudade, no Leste da capital. Para se ter uma ideia da proximidade, algumas viaturas da corporação chegaram a estacionar no Baleia.
Incêndio de grandes proporções atinge a Serra do Curralhttps://t.co/hdj6VoyytG pic.twitter.com/D2YnhMhUxi
— Estado de Minas (@em_com) June 28, 2020
Ontem, em nota, o hospital fez um apelo para que a população não faça incêndios na Serra do Curral. “A maioria dos pacientes pertence ao grupo de risco, pois tratam de doença crônicas. A rica flora e fauna da Mata do Baleia, composta por 184 espécies de pássaros e diversas nascentes de água, é ideal para a recuperação da saúde dos pacientes e bem-estar dos mesmos”, informou a unidade médica.
Os bombeiros ainda procuram por suspeitos de terem ateado fogo na mata. Isso porque 99% dos incêndios florestais, conforme a corporação, decorrem de ações criminosas. Até aqui, ninguém foi identificado. Caso haja testemunhas, o Corpo de Bombeiros pede à população que acione a polícia por meio do disque-denúncia 181.
E o domingo não foi de trabalho apenas na Serra do Curral para os bombeiros. Em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, militares combateram dois incêndios no perímetro urbano na cidade, em lotes vagos. No total, uma área em torno de 2 mil metros quadrados foi queimada e foram usados cerca de 1 mil litros de água.