Numa única região, duas situações são enfrentadas por municípios pequenos, mas assustados com o avanço do coronavírus. O número de mortos no Brasil já ultrapassa o universo da população de Bom Despacho e Serra da Saudade, no Centro-Oeste de Minas. Com seus 781 habitantes e considerada uma das menores economias do estado, Serra da Saudade tem conseguido se manter a salvo da ação do vírus, sem nenhum registro de contaminação até ontem. Por sua vez, Bom Despacho, com 50,6 mil habitantes, confirmou 72 casos de contaminação, tem registros de 56 pacientes recuperados, um óbito e um paciente permanece hospitalizado com a COVID-19.
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Em Serra da Saudade, que tem apenas dois supermercados, uma padaria e uma loja, houve um único susto, quando quatro notificações suspeitas de infecção surgiram em março passado, mas todas foram descartadas. Para o secretário municipal de Saúde, Amarildo Fernandes, o fato de se tratar de um município pequeno ajuda no controle de contaminação. “Não temos aqui as aglomerações que ocorrem em grandes centros”, afirma.
Medidas de prevenção foram adotadas. As aulas estão suspensas e uma barreira sanitária com aferição de temperatura foi criada. Contudo, a prefeitura municipal confia é na conscientização dos moradores. “Não temos como controlar tudo, o que temos feito é orientado a população”, afirma. Máscaras de proteção e kits com álcool em gel foram distribuídos. “O comércio está funcionando normalmente. Se eu fechar e o pessoal sair daqui colocaremos o município em maior risco”, comenta.
Monitoramento
Em Bom Despacho, a situação é mais complexa. A cidade recebe pessoas de outras seis localidades. “Por sermos polo de microrregião, a responsabilidade é grande e assim a atenção e cuidados devem ser redobrados, pois acompanhamos a evolução da pandemia na cidade, mas também da micro e macrorregião de saúde”, conta o médico Humberto Silva. É como se a população alcançasse 107,4 mil pessoas, considerando-se as cidades do entorno.
Para o pneumologista, o risco de contaminação ainda é alto, tendo em vista que cada município tem a sua dinâmica de funcionamento, de fluxo de pessoas e atividades econômicas. “O contínuo monitoramento epidemiológico, com a identificação dos casos e adoção das medidas para evitar a propagação do vírus, evita que haja sobrecarga do sistema de saúde”, destaca Silva.
O pico da doença é esperado para meados deste mês e, até início de agosto, o médico acredita que a cidade viverá período mais complicado. “Estamos acompanhando com extrema cautela os números na nossa micro e macrorregião, pois temos de estar preparados para os momentos mais críticos”, afirma. Por enquanto, a capacidade do setor hospitalar é suficiente para atender à demanda.
“Mas se houver sinalização de aumento dos casos ou de taxa de ocupação de leitos, medidas restritivas terão que ser tomadas”, afirma. Bom Despacho adotou protocolos preconizados pelo Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde. Duas equipes de monitoramento foram estruturadas, uma para casos suspeitos/confirmados e outra para o controle deles. Nas situações em que houve descumprimento do isolamento social, a equipe comunicou ao Ministério Público para que tome as medidas legais. Até o momento, 12 registros foram repassados ao órgão. (Amanda Quintiliano/Especial para o EM)
Crescem as restrições no Sul
O número total de mortos pelo coronavírus no Brasil é superior à população de cada uma das 50 cidades, de um total de 53, que fazem parte da Regional de Saúde de Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais. Apenas Poços de Caldas, Pouso Alegre e Itajubá têm mais habitantes. Ao todo, a regional tem 1.629 casos confirmados do novo coronavírus, com 44 óbitos já notificados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG).
Alguns municípios têm adotado ações desde o início da pandemia para não deixar o vírus entrar ou não se espalhar rapidamente. Albertina, com 3.007 moradores, e Gonçalves, de 4.350 habitantes, ainda não registraram casos da COVID-19. Outras sete cidades da regional têm se mantido longe das contaminações.
Santa Rita do Sapucaí, de 43.260 moradores, importante polo tecnológico de Minas Gerais, apesar de registrar 24 casos da doença e uma morte tem lançado mão de medidas rígidas para manter um nível considerado baixo de contágio.
Desde 24 de março, a Prefeitura de Santa Rita do Sapucaí implantou barreira sanitária na entrada principal da cidade e todas as pessoas têm sua temperatura checada. A secretária municipal de Saúde, Maria Elizabete Rezende, conta que a população é conscientizada sobre a pandemia por meio de mensagem disparada de um carro de som nas ruas, entrevistas nas rádios, redes sociais e mobilização das equipes de saúde da família.
O retorno do funcionamento de bares, restaurantes e academias foi permitido, mas com regras de higienização, tempo de uso e limite de pessoas. Todos os estabelecimentos tiveram que assinar termo de compromisso. “Não é só o poder público que é responsável, todo mundo é responsável. Creio que isso tem feito com que o número de casos não seja tão alto se comparado com outras cidades de mesmo porte ou até menores”, diz a secretária. (Magson Gomes/ Especial para o EM)
Polos regionais sob pressão
Em 10 dias, aumentaram em 39% os registros de contaminação pelo coronavírus em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. De acordo com a Secretaria de Saúde do município, de 489,8 mil habitantes, o número de pessoas infectadas cresceu de 1.287 para 1.786. Já são 53 ´óbitos desde o início da pandemia. Como outras cidades que funcionam como referência para uma série de municípios menores em seu entorno, Juiz de Fora enfrenta o peso de ser uma grande prestadora de serviços de saúde.
Segundo a prefeitura, a taxa de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) alcançou 82,61% nos 10 hospitais públicos e privados da cidade. Ao todo, Juiz de Fora tem 170 pacientes hospitalizados por COVID-19, sendo 66 em leitos de UTI e 104 em leitos de enfermagem. Já a taxa de isolamento registra 50,57% nos últimos 7 dias.
Em coletiva de imprensa pela internet, na semana passada, o prefeito Antônio Almas (PSDB) afirmou que a parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para realização de testes e o relaxamento no isolamento social contribuíram para o aumento de casos confirmados por COVID-19. Ainda durante o pronunciamento, Almas destacou o aumento dos casos e, mais uma vez, alertou para a necessidade de conscientização por parte da população em manter o isolamento social.
A cidade já poderia ter atingido o colapso em seu sistema de saúde caso as medidas não tivessem sido adotadas de forma preventiva em março, segundo o prefeito. “Isolamento social é a única solução no momento, mas se relaxarmos agora, pode piorar no futuro. Depois que um parente ficar na porta do hospital esperando vaga em UTI, não culpe a prefeitura, pois foi você quem saiu sem máscara, é responsabilidade de cada um. Faça sua parte. Se cada um fizer a sua parte, aí sim, pode cobrar da pre- feitura. A população só deve sair de casa se estiver trabalhando em alguma atividade essencial ou para buscar itens necessários para sobrevivência”, alertou Almas.
A prefeitura encontra dificuldades para contratação de profissionais e também para comprar aparelhos e insumos de enfrentamento ao novo coronavírus. Dessa forma, diminuindo o isolamento social, mesmo com aumento de leitos de UTI – que passaram de 108 para 161 –, a população corre risco de não ter atendimento por falta de aparelhos e de profissionais capacitados.