Jornal Estado de Minas

Número de mortos por COVID-19 no Brasil é maior que populações de 93% dos municípios de Minas

Com pequena população, Ritápolis registrou primeiro caso de contaminação, a exemplo de Ouro Verde (foto: Auremar de Castro/EM/15/4/05)

O número de mortos pela COVID-19 no Brasil, que alcançou ontem 61.884 pelo relatório do Ministério da Saúde, é também maior que as populações estimadas em 93% dos municípios mineiros. A comparação é outra forma de perceber a dimensão da pandemia. Desse ponto de vista, 795 cidades em Minas Gerais, do total de 853, têm população inferior ao conjunto de vidas perdidas para o novo coronavírus no país.



Levando-se ainda em conta os dados das mortes e o número de habitantes calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos menores municípios de Minas, os óbitos no país ultrapassam a soma de habitantes em 32 cidades pequenas do estado. É como se elas se tornassem cidades-fantasma quando comparados os números. Essa relação de municípios soma 59.729 habitantes ao todo.

A COVID-19 avança pelo interior. Em Minas, 715 municípios (83,82% do total) têm ao menos um caso confirmado da doença, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. Em apenas um dia, quatro cidades do interior com menos de 50 mil habitantes registraram ontem o primeiro doente: Ouro Verde de Minas (5.934), Ritápolis (4.604), São Pedro da União (4.695) e Veríssimo (3.999).

Esse avanço da doença no país e o crescimento de casos de contaminação no interior de Minas preocupam profissionais da saúde. Geraldo Cunha Cury, médico infectologista e professor titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, atribui esse movimento à falta de cuidado da população, à falta de exemplo das autoridades e às flexibilizações do isolamento social em cidades que tiveram que voltar atrás após o comprometimento dos leitos disponíveis para tratamento dos pacientes com COVID-19 e outras enfermidades.


(foto: Arte EM)


“A doença pode ser combatida com modos muito relacionados à atenção primária à saúde, isolamento social e uso de máscara quando sair de casa”, ressalta o professor da UFMG. “Falta exemplo das autoridades superiores, que causou um grande problema no Brasil”, critica o médico, que destaca a sobrecarga no sistema de saúde. “Os casos aumentaram muito provavelmente por causa da flexibilização. Temos várias cidades que não têm leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Então vão pra onde? É uma situação dramática”, pontua.

Mapa informativo que mostra a situação de Minas Gerais com o COVID-19 (foto: Mapa informativo que mostra a situação de Minas Gerais com o COVID-19)
O médico infectologista observou que em cidades grandes, como o caso de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a máscara na rua sempre foi uma raridade. “Falta exemplo de cima. O próprio Ministério da Saúde ficou à frente no início, mas agora está praticamente fora do controle”, disse Cury, que acredita na eficácia do método de transparência sobre o controle da pandemia na Prefeitura de Belo Horizonte por divulgar o “termômetro” de leitos e da transmissão. “Isso dá uma ideia bem melhor do que está acontecendo, então pode conduzir a flexibilização de forma mais segura”, afirma.
 

Testes


Outro problema sinalizado pelo professor é a testagem que ainda precisa ser feita de forma adequada. “A gente fala em 50 mil mortes, mas há muitas outras que ainda não foram diagnosticadas ou foram registradas como síndrome respiratória aguda grave (SRAG) porque o exame ainda não identificou. Tudo isso gera uma complicação muito grande”, lamenta o médico.



Segundo Cury, a testagem só é realizada em pacientes com sintomas de COVID-19 internadas em hospital. Os pacientes que são tratados em casa, sem muitas complicações, não passam pelo teste e ficam em confinamento. “Em Minas não tem disponível o exame PCR que seria necessário. A pessoa tem a doença, é tratada em casa e não é levado para a estatística”, explica o médico. “As pessoas estão morrendo e às vezes o teste não é feito. Temos centenas de pessoas que morreram cujo exame ainda está em andamento. E pode ser que nem fique pronto”, acrescenta.