Jornal Estado de Minas

Kalil diz que emprestou medicamentos a hospitais e alfineta: 'Não somos o estado'

O prefeito Alexandre Kalil (PSD) afirma que está “agindo como se fosse o estado” durante a pandemia do novo coronavírus. “Um ônus que não é nosso”, reforçou. O comentário refere-se ao empréstimo realizado pela PBH de medicamentos utilizados na intubação de pacientes com complicações decorrentes da COVID-19 a três hospitais filantrópicos da capital: a Santa Casa, o Complexo Hospitalar São Francisco e o Instituto Mário Penna. 





"Nós pegamos o nosso estoque, que daria para dois, três meses, e emprestamos. Então, nós estamos assumindo um ônus que não é nosso. Nós temos o hospital do Barreiro e o Odilon Behrens. E estamos agindo como se fôssemos o estado. Nós não somos o estado. Nós somos a cidade de Belo Horizonte", alfinetou Kalil. As declarações foram registradas em vídeo gravado durante o encontro do gestor com lojistas, que ocorreu nesta quinta-feira (2).

A Secretaria Municipal de Saúde informa ter repassado cerca de 3 mil ampolas de anestésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares às unidades citadas na gravação, ao Hospital Luxemburgo, entre outras instituições que teriam solicitado os produtos. 

Os hospitais filantrópicos mineiros acionaram o alerta vermelho para o desabastecimento há mais de um mês. No início de junho, a Federação das Santa Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas) levou a situação ao conhecimento do Ministério da Saúde. Segundo a entidade, os filantrópicos respondem por cerca de 70% de todos dos leitos disponíveis do estado.



Na tarde desta sexta-feira (3), o Instituto Mario Penna anunciou que considera o cancelamento de cirurgias oncológicas já agendadas por dificuldade de adquirir os insumos em questão - que também são cruciais para a realização de operações e exames diversos. 

SES-MG responde

Procurada pelo Estado de Minas, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) não comentou as declarações do prefeito. Também não informou se planeja desenvolver ações específicas voltadas à aquisição dos sedativos junto aos hospitais filantrópicos. 

Por meio de nota, alegou que cabe às “instituições prestadoras de serviços do SUS (caso dos filantrópicos) fazer aquisições de insumos para uso em suas unidades, por meio da remuneração (do estado) aos serviços que são prestados".





O órgão destacou ainda que não há desabastecimento nas unidades geridas pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), “apesar da dificuldade encontrada em algumas entregas pontuais”. 

"A SES-MG tem buscado, ao lado de outras secretarias estaduais, soluções junto ao Ministério da Saúde, que deu indicativo de que fará negociações e aquisição no mercado doméstico. Outra iniciativa tem sido manter diálogo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), buscando cooperação internacional para a compra de medicamentos”, conclui o comunicado.

Cenário preocupante

Diversos municípios da Grande BH do interior de Minas - tais como BH, Contagem, Nova Lima, Ibirité, Santa Luzia, Divinópolis -  acompanham com preocupação a falta de sedativos necessários à chamada intubação orotraqueal, procedimento por meio do qual profissionais de saúde induzem a ventilação pulmonar em pacientes com capacidade respiratória comprometida pelo coronavírus. Quando disponíveis, as substâncias têm apresentado valores reajustados em até 300% - situação relatada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). 

Em âmbito nacional, o cenário é igualmente crítico. Um levantamento divulgado pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass) em 8 de junho mostra que 24 das 25 secretarias estaduais se queixam de desabastecimento. Metade das secretarias acusa falta de pelo menos 11 dos 13 medicamentos necessários ao manejo clínico das complicações da COVID-19. 





audima