Jornal Estado de Minas

Coronavírus: servidores querem fechar andar do Hospital João XXIII

 

O surto de COVID-19 que desperta apreensão entre pacientes, visitantes e servidores avança no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais do Estado de Minas Gerais (Asthemg) sustenta que 11 pessoas, entre elas dois funcionários, foram infectadas no sexto andar da unidade nos últimos dias. Desde o início da pandemia, casos também foram registrados, diz a entidade, no ambulatório, no CTI e nos quinto e oitavo andares.





 

A técnica em enfermagem Vera Gomes da Silva, que trabalha justamente no sexto pavimento do hospital, afirma que teve contato direto com os pacientes infectados e se queixa de falta de proteção e retaguarda por parte da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), gestora do hospital. “O que a gente está lutando é pela interdição do sexto andar e por testes”, afirma.

 

Oficialmente, a Fhemig informa que “o protocolo vigente estabelece que sejam testados os (servidores) sintomáticos e os que tiveram contato com casos confirmados”. A técnica Vera Gomes garante que não passou por exames. “São 36 pacientes e trabalhamos seis ou sete técnicos. Quando vou descansar, meus colegas me substituem. Então, a gente mexe com todos os pacientes do andar”, afirma a servidora.

 

A técnica, inclusive, estava escalada para trabalhar no HPS no turno da noite de ontem. “É preciso isolar o andar. A gente exige testes para todos do hospital, principalmente para quem trabalha no sexto. Ficamos com medo de levar a doença para dentro de casa”, afirma.





 

O presidente da Asthemg, Carlos Martins, que também trabalha no HPS, diz que uma greve pode ser convocada nos próximos dias, diante do que a categoria considera uma situação de risco para os servidores. “No quinto andar, uma enfermaria com quatro pacientes teve um diagnóstico positivo. Os outros três estão com sintomas e passaram pelo exame, mas ainda sem resultado”, afirma. “No oitavo, um paciente também já desceu para a sala 6 do ambulatório (dedicada a pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19)”, sustenta.

 

De acordo com a Fhemig, contudo, os casos dos demais andares são pontuais e aconteceram durante todos os meses da pandemia, sem qualquer relação com o surto do sexto andar. A fundação, porém, reconhece que o pronto-socorro “recebe diariamente centenas de casos não relacionados à COVID-19, mas que, em algum momento, podem ser pacientes infectados”.

 

A administração também pontua que Minas Gerais e BH passam por um momento de ascensão da pandemia, mas diante do “cenário de calamidade na saúde, todos os cuidados e medidas estão sendo reforçados nas unidades de saúde, balizados por protocolos clínicos, com notificações e acompanhamentos pelas autoridades sanitárias”. Também ressalta que “os Núcleos de Saúde e Segurança do Trabalhador estão à disposição” dos servidores.





 

Os pacientes vítimas do surto no sexto andar do HPS foram transferidos para o Hospital Eduardo de Menezes, no Barreiro, referência para tratamento de COVID-19. Todos eram pacientes crônicos. Além do isolamento imediato, a Fhemig sustenta que foi feita a desinfecção do terminal das enfermarias e aumentado o prazo de troca de acompanhantes: de 24 para 48 horas, para evitar a circulação de pessoas que têm contato externo.

 

 

Santa Casa


Também na Área Hospitalar, a Santa Casa de BH segue em situação complicada para oferta de leitos de enfermaria e UTI para a COVID-19. Depois de bater a marca de 100% no sábado, a unidade teve um pequeno respiro na terapia intensiva ontem: restavam cinco das 80 vagas para pessoas em estado grave da virose.

 

 

Nas enfermarias, o quadro é ainda mais crítico: dos 158 leitos para COVID-19, apenas cinco estavam desocupados ontem. Um motorista de ambulância que estava na frente do hospital por volta das 15h contou que em cinco horas de trabalho havia transferido cinco pacientes com a doença para a Santa Casa, que atende 100% pelo SUS e foi dividida em duas unidades, para separar o fluxo de pacientes infectados pelo coronavírus.