Jornal Estado de Minas

Pandemia

Reinfecção: jovem mineiro morto por COVID-19 pode ser 1° caso do Brasil

Órgãos de saúde das três esferas de governo investigam um possível caso de reinfecção pelo novo coronavírus em Itatiaiuçu, na Região Central de Minas. O paciente é um técnico de enfermagem de 22 anos, morto pela COVID-19 nessa segunda-feira (6). 





De acordo com a Secretaria de Saúde do município, Libério Tadeu Fonseca Pereira apresentou dois testes positivos para a doença - ambos do tipo RT-PCR, considerado "padrão-ouro" no diagnóstico da virose. O primeiro foi realizado em 19 de abril na Policlínica de Itatiaiuçu. Na ocasião, o rapaz foi acometido por sintomas brandos, cumpriu isolamento domiciliar e voltou ao trabalho após 14 dias de afastamento. 

Em 27 de junho, ele voltou a se sentir mal e fez novo teste, cujo resultado também foi positivo. O quadro clínico, desta vez, se agravou e o jovem morreu internado Hospital Manoel Gonçalves de Sousa Moreira, em Itaúna. Situada a 25 quilômetros de Itatiaiuçu, unidade é referência para atendimento de casos de COVID-19 na macrorregião Centro-Oeste.

A secretária municipal de saúde, Carolina Lemos Barbosa, pondera que ainda não há evidências suficientes que confirmem a hipótese de reinfecção pelo vírus. O fenômeno, acompanhado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e pelo Ministério da Saúde, pode ter outras causas, incluindo falha no primeiro exame. “O grau de confiabilidade do PCR é alta, mas isso não quer dizer ele esteja totalmente isento de falhar. É preciso descartar todas as outras hipóteses antes de falar em reinfecção. Não confirmamos que se trata desse evento, mas também não descartamos ”, explica a dirigente. 





Questionada pela reportagem, ela não especificou quando a investigação será concluída, nem deu detalhes do processo. Por meio de nota, a SES-MG e o Ministério da Saúde informaram que prestarão apoio técnico o município e aguardam registro oficial do caso. 

Histórico do paciente

Segundo Carolina Barbosa, Libério morava com a mãe, o pai e uma tia. Da primeira vez em que ele foi diagnosticado com a COVID-19, os demais membros da família não contraíram o vírus, conforme teriam demonstrado os testes aplicados pela prefeitura. Já da segunda vez em que o jovem apresentou os sintomas, todos os familiares tiveram exames positivos para o novo coronavírus.

A mãe do rapaz morreu da doença pouco antes do filho. O óbito de Edriana de Fátima Pereira Fonseca, de 44 anos, ocorreu em 4 de julho, dois dias após sua internação também no Hospital Manoel Gonçalves de Sousa Moreira. 





A secretária de Saúde relata ainda que Edriana sofria de uma síndrome genética rara desencadeada pela mutação no gene GATA2, que provoca baixa imunidade no organismo. A condição, possivelmente, tornou a mulher mais suscetível à virose. “É provável que o filho dela também tivesse a síndrome e que por isso não tenha sobrevivido à COVID-19, embora fosse tão novo. Mas ele não tinha diagnóstico da mutação genética. Ainda estamos investigando”, afirma a gestora. 

O que diz a ciência

A possibilidade de reinfecção pelo novo coronavírus ainda é uma incerteza na comunidade científica. Textos publicados pelo Ministério da Saúde mencionam que a literatura médica registra casos de pacientes curados de COVID-19 que voltaram a apresentar um novo episódio da doença. Entretanto, não existem provas contundentes que permitam classificar esses eventos. Eles tanto podem significar uma nova infecção, quanto uma recidiva do quadro inicial. 

O infectologista Unaí Tupinambás explica que ainda não há evidências de que os anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção pelo Sars-CoV-2 (vírus da pandemia) durem para o resto da vida. "De todo modo, estudos recentes mostram que os anticorpos gerados pelo novo coronavírus se mantém ativos por pelo menos 12 meses", ressalta.





O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia Carlos Starling esclarece que, além da reinfecção, há, no mínimo, duas outras hipóteses plausíveis para o quadro apresentado pelo jovem de Itatiaiuçu. 

"A reinfecção me parece a menos provável considerando o curto período de tempo em que ele, supostamente, voltou a apresentar os sintomas da COVID-19. Ainda não sabemos se os anticorpos gerados após o contágio duram para sempre, mas é difícil que também durem menos de dois meses", analisa. 

Segundo o médico, a literatura científica menciona casos raros de recidivas. Ou seja: a pessoa contraiu a doença e, aparentemente, se curou. O organismo, no entanto, não foi capaz de eliminar completamente o coronavírus, que sofreu posterior reativação. "São situações raríssimas. Mas é um fator a se considerar. Não conheço o caso do rapaz de Itatiaiuçu de perto, mas trata-se de uma pessoa com histórico de imunodeficiência na família. Ou seja: há indícios de que ele pode ter um sistema imunológico frágil, supostamente propício a um cenário como esse", analisa. 





O especialista cita ainda a chance de falha nos testes realizados. "Podemos também estar diante um caso de falso positivo. Há vírus semelhantes ao novo coronavírus que seriam capazes de confundir o exame. Não é muito comum, mas acontece", destaca. 

Na falta de evidências que atestem a imunidade duradoura após o contágio pela COVID-19, o infectologista reforça a necessidade da manutenção das medidas de distanciamento social e higiene mesmo entre as pessoas que tiveram a enfermidade e já se recuperaram. "É fundamental. Não temos vacina, nem certezas que nos tranquilizem. O que podemos ter, por enquanto, é cautela", aconselha.