Belo Horizonte não retomará o processo de reabertura do comércio na próxima segunda-feira (13). Segundo apurou o Estado de Minas, o avanço acelerado do novo coronavírus e as crescentes taxas de ocupação de UTIs e leitos clínicos fizeram o prefeito Alexandre Kalil (PSD) optar por manter o cenário atual, em que apenas serviços considerados essenciais podem abrir as portas.
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Para tomar a decisão de manter o restante do comércio fechado, Kalil contou com o auxílio dos especialistas que integram o Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 na capital. O grupo analisou três indicadores: o número médio de transmissão por infectado (Rt) e as taxas de ocupação de UTIs e leitos clínicos.
De acordo com boletim epidemiológico publicado nesta quinta-feira (9) pela administração municipal, 92% das UTIs e 76% dos leitos clínicos específicos para pacientes com COVID-19 estão ocupados. O Rt, por sua vez, só será divulgado nesta sexta-feira.
Decisão
O comitê que auxilia Kalil é chefiado pelo secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto. Também fazem parte do grupo outros três especialistas: o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano; o pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás; e o infectologista Carlos Starling, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Kalil tem se reunido – virtual ou presencialmente – com os integrantes do comitê ao menos três vezes por semana: às segundas, às quartas e às sextas. Diante da piora nos números, porém, o último encontro desta semana foi cancelado, já que era inviável retomar a reabertura da cidade.
A entrevista coletiva com o prefeito e os integrantes do comitê, marcada para as sextas-feiras, também não ocorrerá.
Desavenças com a CDL
Na última terça-feira, Kalil recebeu na Prefeitura de BH representantes de 70 entidades que lhe entregaram um documento em que manifestam apoio às medidas de isolamento social. No encontro, o prefeito citou uma frase do ex-presidente Juscelino Kubitschek e ironizou o negacionismo científico.
"A única coisa que tenho a dizer a todos vocês é que nós tomamos um rumo. Nós acreditamos que a Terra é redonda. Então, o nosso rumo é o rumo da ciência, é o rumo que estes homens (especialistas do Comitê de Enfrentamento à Epidemia de COVID-19 em BH) nos orientaram", disse o prefeito, em referência ao terraplanismo, teoria conspiratória e sem sustento científico de que a Terra é plana.
Em seguida, Kalil fez menção a uma frase dita em 1954 pelo então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek. Na ocasião, JK afirmou: "Deus poupou-me do sentimento do medo".
JK fazia referência às pressões que vinha sofrendo para que não se candidatasse à Presidência da República, cargo para o qual seria eleito no ano seguinte.
"A única contribuição do prefeito é a coragem. Um político uma vez disse: ‘Deus me poupou do sentimento do medo’. Eu recebo duas, três vezes por dia os números das ocupações (de leitos de UTI e de enfermarias), as transmissões (número médio de transmissão do vírus por infectado, o Rt). Então, garanto a vocês que (não abriremos o comércio) enquanto esses números não nos derem a segurança da abertura, da flexibilização dessa cidade", disse Kalil.
Nos últimos meses, o prefeito de BH, a exemplo de JK na década de 1950, tem sido pressionado. No caso de Kalil, as cobranças partem dos empresários, que pedem a abertura do comércio em meio à pandemia do novo coronavírus.
E a piora nos números da doença fez o prefeito cancelar uma reunião que teria na última quarta com representantes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e do Sindicato de Lojistas (Sindilojas) de Belo Horizonte. "Os números não nos permitem nada diferente do que está acontecendo hoje. Então, nós não temos o porquê de fazer uma reunião sem objetivo", argumentou Kalil, na ocasião.
A atitude, porém, gerou críticas da CDL, e aumentou a tensão entre as partes. Por meio de nota, a entidade disse que a decisão foi "tomada de forma autoritária e unilateral pela prefeitura". O Sindilojas preferiu não se posicionar.
Reabertura
Belo Horizonte adotou as primeiras medidas de isolamento social como forma de enfrentar a pandemia em 18 de março. Até 24 de maio, apenas serviços considerados essenciais puderam funcionar. No dia seguinte, voltaram a abrir as portas salões de beleza (exceto clínicas de estética), shoppings populares e alguns setores de comércios varejistas.
A flexibilização foi ampliada entre 8 e 28 de junho, quando cerca de 92% dos empregos da cidade estavam ativos. O avanço desenfreado do vírus, porém, fez com que a PBH optasse pelo retorno à 'Fase Zero' do processo de reabertura do comércio no dia 29, data a partir da qual apenas serviços considerados essenciais puderam abrir as portas.
Segundo boletim epidemiológico divulgado pela administração municipal nesta quinta, BH tem 9.978 casos confirmados do novo coronavírus, dos quais 224 resultaram em mortes. São ainda 6.922 recuperados e outros 2.832 pacientes em acompanhamento.