O vaivém caótico e frenético da Avenida Afonso Pena, no coração de Belo Horizonte, Região Centro-Sul da capital mineira, esconde uma horta centenária, que desafia a passagem do tempo e relembra a tradição interiorana dos pomares nos quintais. Esse oásis, que passa despercebido em meio ao mar de concreto, onde imperam edifícios do entorno, como o imponente Acaiaca, conta com mais de 20 variedades de frutas e hortaliças – entre elas, três mangueiras de cerca de 15 metros – tudo cultivado com muito carinho e dedicação no jardim da Paróquia São José.
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Quando perguntado sobre a variedade de produtos cultivados, o religioso, que nunca havia contabilizado as espécies, listou uma série de alimentos; alface, rúcula, almeirão, agrião, salsa, cebolinha, hortelã, manjericão, alecrim, coentro, feijão, jabuticaba, banana, mamão, goiaba, acerola, pitanga, manga e uma fruta exótica brasileira, nativa da Amazônia, chamada abiu, que, segundo ele, tem uma viscosidade na casca que incomoda quem não sabe como comê-la.
Fotos antigas, que contam a história dos 120 anos da paróquia, mostram também espécies cultivadas no local, como o pé de louro, as bananeiras, o pé de pitanga, a horta e os canteiros já demarcados. “É inusitado. Um dos metros quadrados mais caros da cidade, quem vai gastar para plantar alface? Esse tipo de coisa não sobreviveu ao passar dos anos”, brincou.
Quarentena
Antes de se mudar para o convento, padre Flávio conta que nunca havia cultivado uma horta, mas tomou gosto pela coisa, e durante a quarentena, com a maior disponibilidade de tempo, tem dado ainda mais atenção aos pomares. “É quase uma terapia ocupacional. Ajuda a passar o tempo. Parece um sítio, uma pequena chácara no Centro de Belo Horizonte, onde temos à disposição produtos fresquinhos e saudáveis. A horta é orgânica, a gente não usa agrotóxicos, as folhas são sempre mais verdinhas e crocantes”.
Para o pároco, o segredo de tanta fartura está no trabalho diário. “Eu acho que é como o ditado, o olho do dono que engorda o gado. Todos os dias eu vou lá, pelo menos para ver se tem formiga, se tá bem molhado. O olhar é fundamental”, destacou. *Estagiária sob a supervisão de Enio Greco