Jornal Estado de Minas

CRIME

Suspeito de matar e ocultar corpo de ex-namorada em geladeira a perseguiu por 12 horas

A Polícia Civil de Minas Gerais deu detalhes sobre o assassinato de Elisângela Vespermann de Souza, de 30 anos, cujo corpo foi encontrado dentro de uma geladeira em seu apartamento, no Bairro Planalto, na Região Norte de BH, na última quarta-feira. O principal suspeito, preso no sábado em Sabará, é o ex-namorado da vítima, que não teria aceitado o fim do relacionamento e tirado a vida da ex-companheira com o pedido do término.



De acordo com a delegada Ingrid Estevam, o ex-namorado da vítima a perseguiu por 12 horas antes do crime. Câmeras de segurança flagraram, em 8 de julho, Elisângela chegando ao trabalho - uma rede de fast food, onde era atendente - às 7h, junto com o suspeito.

Este permaneceu na porta do centro comercial até as 19h, horário em que a vítima encerrou expediente. Durante esse tempo, os dois chegaram a almoçar juntos, sendo que o rapaz, pelo longo tempo em que ficou esperando a ex-companheira, gerou suspeitas de quem trabalhava próximo.

Com isso, a Polícia Militar foi acionada, mas nada de ilícito foi encontrado com ele. Quando Elisângela deixou o local de trabalho, eles tentaram pegar um ônibus, porém, sem sucesso. Então, utillizaram um aplicativo de transporte para irem ao apartamento da vítima, de onde haviam saído no início do dia.


Câmeras indicam que eles chegaram por volta de 19h40. Duas horas depois, o suspeito foi flagrado saindo sozinho, carregando malas. “Nesse período, de acordo com informações do suspeito, eles chegaram a pedir lanches, tomaram banho, tiveram relações sexuais, e ao final disso tudo a vítima resolveu manifestar o seu interesse de findar o relacionamento. Ele, provavelmente inconformado - porque durante o depoimento ele negou envolvimento na morte da vítima - pega o pescoço dela e a mata asfixiada. Um meio cruel. Vendo a situação do corpo, ele resolveu, friamente, ocultar o cadáver. Abriu a geladeira, tirou todas as grades, pegou o corpo dela e colocou. Ele passou durex em volta da geladeira para a porta não abrir e virou para forçar na parede. Deixou a geladeira ligada”, contou a delegada.

O suspeito, então, entrou em contato para um parente buscá-lo. Sua intenção, de acordo com Ingrid Estevam, era ir para Sete Lagoas. A delegada acredita que ele não pensava em se apresentar às autoridades, uma vez que ele havia passado por vários lugares entre quarta e sábado, dia em que foi localizado pela Polícia Civil na casa de uma tia em Sabará.

“Foi encontrada a blusa que ele utilizou no dia do crime, que mostra nas imagens, e ele se manteve em silêncio, mas negou o crime. Formalmente ele negou tudo, o que me chama a atenção, porque normalmente autores de feminicídio chegam e confessam”, disse Ingrid, que deve ouvir o homem novamente nos próximos dias.



Ele responderá por feminicídio duplamente qualificado por meio cruel, além da ocultação de cadáver.

Mudança de comportamento


A investigação da Polícia Civil aponta que Elisângela e o suspeito se conheceram em março deste ano, por meio de um aplicativo de conversas. Os dois faziam parte de um grupo voltado para um bate-papo comum, mas começaram a conversar em particular. O diálogo tomou um rumo íntimo, a ponto de o rapaz terminar o casamento e se mudar para Belo Horizonte.

No começo do relacionamento presencial, Elisângela ganhou presentes do suspeito. O comportamento dele, no entanto, mudou pouco tempo depois, uma vez que testemunhas disseram que a presença dele no trabalho da vítima era constante. Ele, também, tinha o costume de pernoitar no apartamento dela.

Elisângela chegou a fazer um boletim de ocorrência contra o homem, relatando medo depois de ser ameaçada por ele. O suspeito chegou a confiscar um chip de telefone dela para ter acesso a dados, como conversas.



Descoberta do corpo


A falta de Elisângela no trabalho não foi sentida no dia 9, 24 horas após sua morte, uma vez que o trabalho dela era em regime de 12x36. Somente no dia 10 a gerente do estabelecimento tentou contato com a vítima por meio de um aplicativo, mas quem estava respondendo era o principal suspeito do crime se passando pela mulher, dizendo que estava no interior cuidando da avó e que não poderia ir trabalhar.

Mas foi a atitude do ex-marido que ajudou na localização do corpo de Elisângela. Ele tentou enviar encomendas à ela, mas como ninguém atendeu, os objetos foram devolvidos. Desconfiado, ele foi ao apartamento da ex-companheira na quarta passada e ouviu dos vizinhos que não havia movimentação no imóvel. A principal característica da mulher era colocar som alto quando estava em casa.

O ex-marido, então, contratou um chaveiro para abrir a porta do apartamento. Então, encontrou o corpo de Elisângela na geladeira.

“Se ele (ex-namorado, principal suspeito do crime) deixasse fora da geladeira, o cheiro ia exalar e rapidamente o corpo seria encontrado. Só que ele matou no dia 8 e o corpo só foi encontrado no dia 15, porque o ex-marido teve essa iniciativa. Se ele não tivesse encaminhado nada, não ia ter essa descoberta”, concluiu a delegada.

Como denunciar?


Além da Delegacia Especializada de Crimes Contra a Mulher, vítimas também podem fazer as denúncias sem sair de casa, por meio da Delegacia Virtual e pelo aplicativo MG Mulher, que dá suporte às vítimas por meio da operacionalização de uma rede de apoio, serviços e rápido contato em caso de violação de direitos.