As graças de São Cristóvão são lembradas hoje, dia do santo padroeiro dos motoristas. No entanto, a categoria não tem o que comemorar. Esses profissionais encaram uma série de dificuldades decorrentes da pandemia do novo coronavírus, que impôs grande mudança na rotina do trabalho, com as exigências de cumprimento de protocolos e medidas sanitárias para se protegerem e evitarem a transmissão do vírus. Na luta diária que também inclui a defesa da vida, às vezes, eles são mal compreendidos e submetidos até a agressões.
Prova dessa incompreensão foi o caso de desrespeito, em Belo Horizonte, a um motorista de ônibus agredido com um tapa no rosto por usuária do transporte, após ele ter se recusado a levar um grupo sem mascara de proteção, obrigatória em áreas públicas como prevenção contra a COVID-19. Em Ibirité, um motorista levou socos por pedir que um passageiro colocasse o acessório. O transporte de ônibus foi altamente impactado pela crise do novo coronavírus.
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Viagens nos ônibus de BH diminuem por causa do isolamento e do medo da COVID-19 Motorista atacado em BH pede 'consciência' frente à COVID-19 Literatura brasileira perde para a COVID-19 o escritor mineiro Manoel LobatoMinas passa dos 110 mil casos de COVID-19 e registra 2,4 mil mortes pela doençaAs dificuldades enfrentadas pelos motoristas de ônibus e a nova realidade do setor são abordadas em nova etapa da série de reportagens do Estado de Minas, que mostra os impactos e os riscos no setor de transporte durante a pandemia do coronavírus. Tanto trabalhadores quanto usários passaram a viver nova realidade, com o cumprimento das medidas para impedir que os coletivos venham a se tornar propagadores do vírus.
“A nossa categoria é exposta. Nós corremos grande risco de contágio (do coronavírus)”, afirma Paulo César da Silva, presidente do Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte (STTR-BH). Ele afirma que os motoristas tentam se proteger como podem, com uso de máscara, álcool em gel e a higienização, lavagem das mãos com água e sabão, no intervalo de cada viagem.
Entretanto, diz Paulo César, somente os cuidados pessoais dos motoristas não são suficientes para afastar o perigo, devido à própria natureza da atividade, que envolve o contato diário com centenas de pessoas. “Uma das formas de perigo é a cobrança da passagem dentro dos ônibus. O motorista tem que pegar o dinheiro e devolver (o troco) para os usuários. Isso pode estar cooperando para aumentar o risco de transmissão do vírus”, afirma o presidente do STTR-BH.
Paulo César citou o caso de um motorista de ônibus, de 58 anos, da capital, que morreu neste mês com a COVID-19. Ele afirma que o condutor contraiu o coronavírus no trabalho. “Esse caso nos trouxe um alerta – e acendeu a luz vermelha, para que fossem intensificadas as ações preventivas com a higienização dos ônibus e o uso constante de máscara, tanto pelos operadores como pelos usuários”, afirma.
O sindicato passou a cobrar das concessionárias do transporte coletivo urbano a realização de testes para o coronavírus dos seus trabalhadores e a testagem continua em andamento. Assim, várias empresas promoveram a testagem dos seus funcionários. Segundo ele, até agora, conforme apurou a entidade sindical, cerca de 30 motoristas de ônibus testaram positivo para a COVID-19, sendo afastados imediatamente do serviço e colocados em isolamento. “Vários deles se curaram e já voltaram a trabalhar”, assegura.
O Sindicatoo das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte informou que as concessionárias do serviço adotam uma série de medidas para assegurar a proteção tanto dos trabalhadores como dos usuários. “Foram instalados recipientes com álcool em gel em toda a frota, nas bilheterias e linhas de bloqueio das estações”, assegura.
Higienização
O Setra BH informa que, entre outros cuidados, foram intensificadas a higienização dos veículos, que, além da limpeza nas garagens, passaram a ser higienizados entre as viagens nas estações. Destaca, ainda, que os profissionais em atividade também recebem máscaras, álcool em gel e orientação sobre a higiene pessoal e do ambiente de trabalho, “antes, durante e após as viagens”.
Para evitar contato com notas e moedas, alega o sindicato das empresas, “estão sendo oferecidos gratuitamente, o cartão BHBus Identificado para o passageiro nos pontos de venda do Transfácil”. A representação patronal sustenta que os motoristas do grupo de risco foram afastados, principalmente, aqueles com mais de 60 anos.
O Setra BH diz que não tem dados sobre os testes dos profissionais, porque isso é feito diretamente pelas empresas. Por outro lado, ressalta que a entidade já realizou duas ações de testagem dos trabalhadores do transporte coletivo da capital, em parceria com o Serviço Nacional do Transporte (Sest/Senat). Quanto ao motorista que morreu com COVID-19, o Sindicato das Empresas desmente que ele tenha se contaminado no trabalho e assegura que ele estava afastado do serviço desde março, pois tinha comorbidades.