Eles e elas têm uma missão fundamental para salvar vidas e garantir o conforto de quem está internado: são responsáveis pelo banho, ficam atentos à medicação e cuidam da alimentação dos pacientes nos leitos de hospitais ou que chegam aos centros de saúde e outras unidades, públicas e privadas. Mas a morte de um técnico em enfermagem, ontem – primeiro caso fatal de contágio por coronavírus na equipe de saúde de Belo Horizonte – chamou ainda mais a atenção para uma categoria que tem menos visibilidade, mas é a mais vulnerável na linha de frente do combate à COVID-19 na capital.
Dados do Boletim Epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Belo Horizonte (veja quadro) mostram que os técnicos de enfermagem são os profissionais de saúde que mais testaram positivo para a doença em BH. O grupo inclui 128 homens e mulheres ou mais de 43% de um universo de 294 profissionais que se contaminaram na rede SUS da capital, suplantando de longe o segundo lugar, em que aparecem os enfermeiros (37, ou 12,6%), os agentes comunitários de saúde (32, 10,8%) e os médicos, em quarto (31, 10,5%).
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Num âmbito maior da rede SUS-BH, incluindo instituições de saúde públicas e privadas, o boletim mostra que foram testados 5.195 profissionais de diversas especialidades, com 767 positivos, 3.911 negativos e 404 em investigação.
A situação dos profissionais de saúde em BH segue uma tendência nacional, segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), que tem como base dados dos conselhos regionais e outras fontes. Por estar no contato direto com os pacientes, muitas vezes sem equipamentos adequados, a categoria, formada em sua maiorias pelos técnicos de enfermagem, supera a dos médicos em casos de COVID-19.
No Brasil, são registrados 28,8 mil casos de afastamento do trabalho (enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros) por suspeita de ter contraído a doença. Nesse universo, há 13,2 mil casos confirmados, 13,1 mil suspeitos e 2,5 mil não confirmados. Ainda conforme o Cofen, houve 295 óbitos no país nesse grupo, nove deles em Minas.
O mais recente, ocorrido ontem, vitimou Gerônimo Batista Pires, primeiro profissional de saúde do SUS-BH a perder a vida para a pandemia. Ele trabalhava na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Barreiro e estava internado no Hospital Júlia Kubitschek, na mesma região, em Belo Horizonte. Morreu, segundo o sindicato da categoria, quatro semanas depois de um plantão em que teve de se desdobrar para atender a pacientes que aguardavam vaga em CTI.
Mais cuidado
A vulnerabilidade da categoria assusta a técnica de enfermagem Aline Raquel de Oliveira Queiroz Santos, de 34 anos, que trabalha na unidade de terapia intensiva (UTI) da Santa Casa, na Região hospitalar de BH, há dois anos e dois meses. Em 12 de junho, faltando três dias para voltar de férias, Aline Raquel recebeu diagnóstico positivo, depois de sentir muita dor de cabeça e perder o olfato e o paladar. Com isso, teve que ficar mais 14 dias de isolamento em casa, sem prejuízo, felizmente, para a saúde do marido e dos filhos.
Para a técnica de enfermagem, os números servem também de alerta. “Muitas vezes, as pessoas conversam perto umas das outras, sem máscara, achando que por serem conhecidas não há perigo. É um engano. Temos sempre que tomar cuidado”, afirma a profissional, residente em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH, e que não sabe exatamente como foi contaminada pelo novo coronavírus.
Em nota, o Grupo Santa Casa BH informa que criou o Centro Especializado em Saúde do Trabalhador (Rua Ceará, 460, no Bairro Santa Efigênia) para atender exclusivamente aos funcionários da instituição, incluindo estagiários, especializandos e residentes. O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e conta com médicos, enfermeiros, técnicos em patologia e psicólogos para ajudar no controle e cuidado durante a pandemia. O objetivo é disponibilizar um atendimento diferenciado à equipe que está na linha de frente no combate ao coronavírus.
A superintendente de Recursos Humanos da instituição, Clarinda Macedo, explica que o atendimento ocorre de maneira completa e por etapas. “No primeiro sinal ou sintoma respiratório, o gestor encaminha o trabalhador para o Centro Especializado. Lá, o paciente passa por avaliação médica, para verificar se é um caso de doença crônica respiratória, como asma, sinusite e rinite, ou uma síndrome gripal. Se o diagnóstico for de síndrome gripal, o funcionário é afastado por dois dias inicialmente e realiza coleta de material para exames. Após o período, se estiver assintomático e o resultado for negativo, retorna ao trabalho com orientação de usar os equipamentos de proteção individual (EPI) durante toda a jornada. Se ainda tiver sintomas, passa por nova avaliação”, explica.
Testes rastreiam casos suspeitos
Já a PBH, via Secretária Municipal de Saúde, informa, por meio de nota, que os dados contidos no Boletim Epidemiológico e Assistencial incluem profissionais de saúde da rede pública e/ou privada de Belo Horizonte. “Atualmente, 294 profissionais de saúde da rede própria do SUS/BH testaram positivos para COVID-19. Todos os agentes públicos lotados na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), sintomáticos ou assintomáticos, ou com contato domiciliar com pessoas confirmadas para a COVID-19 são testados.”
A nota informa que desde março a prefeitura disponibiliza local exclusivo para a realização de testes nos profissionais de saúde que atuam no município. E a Saúde municipal elabora e divulga periodicamente notas técnicas com orientações sobre equipamentos de proteção e roupas dos profissionais que prestam assistência direta aos pacientes com suspeita de COVID-19.
Os documentos também listam os acessórios de proteção para cada grupo profissional, conforme a área de atuação nas unidades de saúde. “Além disso, há orientações sobre a conduta dos profissionais sintomáticos e assintomáticos, com contato domiciliar confirmado para a doença, e as medidas a serem tomadas. As notas técnicas são atualizadas conforme a necessidade e seguindo as orientações do Ministério da Saúde”.
“É importante ressaltar que a rede SUS-BH conta com estoque abastecido de equipamentos de proteção individual. A categoria da enfermagem, que engloba enfermeiros e técnicos, tem o maior número de profissionais atuando nas unidades de saúde. Em consequência disso, a exposição ao vírus pode ser mais recorrente. Os profissionais seguem protocolos e trabalham com os equipamentos de proteção individual recomendados”, diz o texto.