Afinal, a hidroxicloroquina tem eficácia no tratamento dos casos leves da COVID-19? Sim ou não? A busca de resposta para essa pergunta, que está no centro de uma polêmica na comunidade científica no enfrentamento da pandemia do coronavírus é o objetivo de uma nova pesquisa internacional, iniciada em vários países e que também envolve testes em Belo Horizonte e mais oito cidades mineiras. O estudo é desenvolvido pela Universidade de Whashington (EUA) e financiado uma multinacional canadense da área de saúde, a Cytel Canadá Health Inc.
A expectativa dos responsáveis pela iniciativa é que, com o estudo indicando a eficiência na hidroxicloroquina no tratamento inicial da COVID-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) mude de postura e venha aprovar o medicamento para o combate a doença, pois, atualmente, a entidade não indica o remédio contra o coronavírus, sob o argumento de não existe evidência científica de bons resultados em nenhuma fase da doença respiratória, o que fomenta polêmica.
Além do Brasil, a pesquisa será realizada simultaneamente em países como Estados Unidos, Canadá e África do Sul. Receberão os testes do medicamento 10 cidades brasileiras, sendo uma delas Araraquara, no interior paulista e as outras nove de Minas Gerais: além da capital, Betim, Brumadinho, Confins, Nova Lima e Vespasiano, na Região Metropolitana; Sete Lagoas (região Central), Governador Valadares (Leste do estado) e Montes Claros, no Norte de Minas.
Além da hidroxicloroquina, o estudo visa avaliar também o antiviral lopinavir/ritonavir no tratamento contra o coronavirus. O experimento é coordenado no Brasil pelo professor Gilmar Reis, PhD em Cardiologia, do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). A perspectiva é que os resultados sejam obtidos até dezembro.
No Brasil, serão submetidos aos testes sobre a eficácia da hidroxicloroquina 1.967 pacientes com os sintomas leves da COVID-19. Trezentos e vinte e dois deles serão avaliados em Montes Claros (409,34 mil habitantes), onde o professor Gilmar Reis apresentou os objetivos do estudo em uma reunião com médicos, acadêmicos de medicina e representantes de hospitais. Até então, a cidade teve 1.263 casos e confirmadas 22 mortes por coronavirus, com 802 pacientes curados.
De acordo com a secretária municipal de Saúde de Montes Claros, Dulce Pimenta, o estudo será feito junto a pacientes atendidos na atenção básica que tiveram sintomas leves e testarem positivo para o coronavírus. Ela explica que os voluntários responderão um questionário e aqueles que assinarem um termo autorizando o uso da hidroxicloroquina e do lopinavir/rRitonavi serão monitoradas, recebendo um eletrocardiograma portátil, para a medição da frequência cardíaca três vezes ao dia. O acompanhamento será feito porque um dos riscos apontados no uso da hidroxicloroquina é a aceleração dos batimentos do coração, sobretudo em pessoas idosas.
Os voluntários receberão também um oxímetro de dedo (para medir o nível de oxigênio no corpo).
“Temos consciência dos efeitos colaterais das drogas e tratar com o apoio e organização de uma pesquisa é mais tranquilo, uma vez que temos uma estrutura montada para monitorar o paciente diariamente, realizar eletrocardiogramas e verificar as condições clínicas. Teremos uma equipe disponível 24 horas por dia”, assegura a médica de família e comunidade Ana Paula Figueiredo Guimarães de Almeida, coordenadora da pesquisa no município de Montes Claros.
Segundo Ana Paula, os voluntários serão submetidos ao teste para o coronavirus (RT-PCR) gratuitamente. “Assim que chegar o resultad, se for positivo, o paciente receberá uma visita do médico da equipe, será novamente esclarecido e, se aceitar permanecer na pesquisa, receberá o medicamento”, informa a coordernadora.
Ela destaca que os pacientes serão monitorados pela equipe médica durante 10 dias. Após os 10 dias de acompanhamento, será realizado contato telefônico após 14, 28, 56 e 90 dias do término, para avaliar os possíveis efeitos colaterais a longo prazo, explica Ana Paula.
PESQUISA SERÁ DETERMINANTE PARA A HIDROXICLOROQUINA
Na avaliação da secretária de saúde de Montes Claros, a pesquisa que envolve as 10 cidades mineiras será uma prova de fogo para saber se estão certos os que defendem o uso da hidroxicloroquina no tratamento dos casos leves da COVID-19 ou os que se opõem ao receituário do medicamento, pelo fato de ainda não existir evidência científica dos seus efeitos, seguindo o argumento da Organização Mundial de Saúde.
“A OMS não indica um protocolo (para o uso da hidroxicloroquina) porque não existe ainda um estudo baseado em evidência que possa indicar este ou outro medicamento (para o tratamento da COVID-19). Por isso, várias pesquisas estão em andamento”, afirma. “Havendo uma comprovação de que existe uma eficácia de que a (hidroxicloroquina) tem um resultado diferenciado, aí, a OMS vai indicar ou não (o uso do medicamento)."