Jornal Estado de Minas

FORA DAS REGRAS

Demora e aglomerações revoltam passageiros dos ônibus de BH: 'Uma vergonha'

Passageiros reclamam que não há como manter o distanciamento social recomentado por profissionais de saúde (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Classificado como “sem solução” pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), o problema das aglomerações no transporte público tampouco parece ter sido amenizado desde a última quinta-feira (23), quando a PBH anunciou acordo para ampliação das viagens de ônibus. Tomada com o objetivo de reduzir concentração de passageiros dentro dos coletivos – situação propícia à disseminação da COVID-19 –, a medida ainda não surtiu efeito. A avaliação é dos usuários de diversas linhas que circulam pela cidade, especialmente as que ligam as regiões Nordeste, Venda Nova e Pampulha ao Centro.




Que o diga auxiliar de escritório Ana Cláudia Fernandes, de 30 anos. Diariamente, ela depende de quatro conduções para trabalhar – duas de ida e duas de volta. Por volta de 9h30 dessa terça-feira (28), a usuária aguardava o ônibus da linha 9105 (Nova Vista/Sion) em frente à Praça da Estação. Para chegar até lá, pegou o 3503 (Santa Terezinha/São Gabriel). Nos últimos cinco dias, ela conta não ter notado aumento da disponibilidade de veículos, que continuam lotados. 

“O São Gabriel então, está vindo super cheio e leva mais de uma hora para passar. Acho que (a situação) até piorou um pouco. Os ônibus têm demorado mais e isso faz com que as pessoas se aglomerem nos pontos. Fica tudo lotado”, reclama. Segundo Ana Cláudia, os passageiros têm usado máscaras e procuram respeitar, como podem, alguma distância uns dos outros. “Mesmo assim, tenho medo de me infectar. Saio de casa com o coração na mão. As vezes, eu entro no ônibus e as janelas estão fechadas. Nem sempre tem álcool em gel disponível. Dá muito medo sim”, desabafa.

O repositor de supermercado João Silva, de 56 anos, conta que toma até seis lotações todos os dias - três de ida e três de volta. . Entre as linhas que usa com mais frequência, citou a 809 (Estação São Gabriel/Belmonte), a 8551 (Estação São Gabriel/Estação UFMG via Anel Rodoviário) e a S81 (Circular Nordeste). Na manhã de terça (28), quando foi abordado pela reportagem do Estado de Minas no Centro de BH, disse que saiu de casa mais tarde do que de costume – por volta de 9h – para resolver problemas pessoais, aproveitando a folga do trabalho.Esperava, com isso, encontrar coletivos mais vazios, já que saiu fora do horário de pico, mas se decepcionou.



“Está uma vergonha. Para esses políticos entenderem o que a gente passa, tinham que andar todos de ônibus, junto com suas mulheres, filhos e os netos”, afirma. “Ninguém pensa que gente como eu, por exemplo, não tem como se isolar. Eu tenho neto, tenho esposa. Moro com eles. Cheguei a ficar dois dias afastado por suspeita de COVID-19, mas não acusou no teste. Uma hora, eu acabo pegando a doença”, acrescenta.

Veículos da linha 61 (Estação Venda Nova-Centro Direita) circularam nessa terça (28) lotados, com direito a usuários sentados no chão, mesmo fora do horário de pico (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
A doméstica Eliones Menezes, de 53 anos, compartilha da mesma insegurança. Usuária das linhas 3051 (Flávio Marques Lisboa/Savassi) e 301 (Estação Diamante/Novo Santa Cecília), ela conta que, por vezes, as viagens ultrapassam o número de pessoas em pé permitidas pelo decreto 17.362, editado em 22 de maio - no máximo, dez usuários, no caso dos coletivos convencionais. “A gente vem espremido, não tem jeito de não encostar uns nos outros. O risco é muito grande”, analisa. 

As cenas descritas pelos usuários foram flagradas ao longo do dia pela reportagem. Uma delas, na Avenida Antônio Carlos, altura do Conjunto IAPI. Dois veículos da linha 61 (Estação Venda Nova-Centro Direita), passaram pelo corredor do MOVE lotados por volta de 9h, com direito a usuários sentados no chão, próximos do motorista. À noite, por volta de 19h, pontos de embarque da Avenida Afonso Pena, nas proximidades da Avenida Amazonas, ficaram cheios.





BHTrans responde 

(foto: Aglomeração noturna em ponto de ônibus da Av. Amazonas, sentido Praça da Estação)
Procurada pela reportagem, a BHTrans informou que analisa, diariamente, a operação do sistema de transporte público da capital. A empresa afirma que realiza reuniões frequentes com as concessionárias de ônibus para definir o número de viagens necessárias para atender a população com o mínimo possível de aglomerações. 

Ainda de acordo com a BHTrans, as fiscalizações estão sendo intensificadas, com a participação do Ministério Público de Minas Gerais. “Esse monitoramento é feito 24h presencialmente e por meio das câmeras do COP-BH”, diz o texto da nota enviada ao Estado de Minas. Quanto às linhas citadas pela reportagem, a BHTRANS disse que vai intensificar a fiscalização para garantir o cumprimento das regras dos decretos de quarentena. 

O acordo anunciado pela PBH em 23 de julho para ampliar as viagens de ônibus na cidade previa aumento de 15% na circulação dos coletivos, que caiu 40% desde o início da pandemia. O aditivo fixa o repasse de R$ 30 milhões da prefeitura às concessionárias no período de 90 dias. Em contrapartida, as empresas vão oferecer créditos de transporte aos servidores municipais.

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