Manchester – Depois de cinco anos de investimentos, de uma reorganização traumática dos sistemas de saúde mental e assistência social, sem falar em obras emergenciais para tornar comunidades habitáveis e acessíveis, o Município de Mariana busca R$ 1,2 bilhão de indenização pela devastação causada pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 2015. “Perdemos 28% da arrecadação, não recebemos a compensação por gastos extras com a tragédia, atrasamos contas e 13º, somos pressionados, mas acredito que aqui, no Reino Unido, vamos receber da justiça que nos é negado no Brasil”, afirma o prefeito Duarte Junior (Cidadania), que está desde a tragédia à frente do município que encabeça a lista de 200 mil clientes atingidos pelo rompimento da barragem operada pela Samarco em busca de compensação na Inglaterra desde o dia 22.
Na audiência de hoje, coube aos advogados do escritório PGMBM, representantes dos atingidos, demonstrar seus argumentos de que não há duplicação de ações no Brasil e no Reino Unido caso se aceite julgar a BHP na Inglaterra. Ao lado da Vale, a empresa inglesa e australiana é controladora da Samarco, responsável pela barragem. Esse tem sido um dos maiores cuidados do juiz, Sir Marck Turner. “Se os mesmos atingidos já são têm ações em até três cortes no Brasil, abrir uma quarta na Inglaterra não seria um risco de julgamento irreconciliável dos dois países e levaria a abusos?”, indagou o magistrado. Os advogados da BHP intervieram para dizer que acreditam nessa sobreposição no Termo Ajustamento de Condutas da Governança (GTAC), de R$ 155 bilhões em reparações.
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Ao lado do prefeito de Mariana, o prefeito de Rio Doce, Silvério da Luz (PT), que no Brasil contabilizou R$ 30 milhões de prejuízos ao seu município, está confiante na total compensação pela justiça do Reino Unido. Demonstrar os danos em Mariana e em Rio Doce é tirar um raio-x da zona entre a Samarco e a Barragem de Candonga, a área de maior devastação do rompimento que despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro na bacia hidrográfica do Rio Doce, matando 19 pessoas.
Em Mariana, onde o Ministério Público calcula um índice de menos de 15% dos atingidos indenizados depois de 5 anos, todos afetados diretos ainda moram em casas alugadas na zona urbana, longe de seus quintais e propriedades rurais recobertos de rejeitos. “Para sobreviver, os atingidos foram obrigados a se acostumar com um ritmo de vida urbano completamente diferente da tranquilidade que tinham no campo. Principalmente pela lentidão da reconstrução de suas comunidades pela Renova. No município, o impacto, os gastos e o nosso desgaste foram enormes, mas, de concreto, o que temos de compensação foi a construção de um Centro de Atendimento Psicossocial (CAPs). Outros R$ 200 mil em ações estão parados”, afirma Duarte Júnior.
A situação em Rio Doce não é muito melhor. Lá, as perdas com a paralisação da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves impactou diretamente em 22% da arrecadação. “Quem recebe auxílio, mas não indenização, deixa de ter a vida de antes, porque foi desestruturado. Antes, podiam pescar para a subsistência, mas não à mais pesca no rio de rejeitos. Se ainda contarem o benefício, como quase aconteceu, vão ficar em um estado de vulnerabilidade ainda pior, sem emprego. Já temos cidadãos muito ansiosos, sem perspectivas, sem esperança, que sobrecarregam nosso atendimento à saúde mental entre 2016 e este ano”, afirma Silvério da Luz. De acordo com o prefeito, o único benefício considerável até o momento foi a construção de um sistema de estações de tratamento de esgoto como compensação pela fazenda que vai receber os cerca de 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos no fundo de Candonga – quase o volume que vazou em Brumadinho.
Segundo informações da Fundação Renova, até 31 de maio de 2020, foram destinados R$ 8,85 bilhões para as ações integradas de recuperação e compensação. “Cerca de R$ 2,51 bilhões foram pagos em indenizações e auxílios financeiros emergenciais para cerca de 321 mil pessoas. As ações abrangem as áreas de infraestrutura, saúde, retomada das atividades agrícolas, restauração das áreas degradadas, monitoramento da qualidade da água, da biodiversidade, recuperação de nascentes e apoio à retomada das atividades econômicas”.
A própria fundação admite que se tratam de processos lentos e chega até a insinuar que há expectativa para que o TAC Governança esteja em pleno funcionamento, contudo, primeiro é necessário que as Comissões Locais e as Câmaras Regionais estejam constituídas. “A estruturação dessas instâncias de governança são de responsabilidade do Ministério Público Federal (MPF) e da empresa especializada Fundo Brasil – expert do MPF. A Fundação Renova aguarda o desfecho deste processo para que, o quanto antes, o TAC Governança esteja em pleno funcionamento. E por uma questão de autonomia dos atingidos, a Fundação Renova não participa dos processos que visam a constituição das Comissões Locais e Câmaras Regionais”.