Jornal Estado de Minas

CIÊNCIA

Testes de vacina contra o coronavírus começam na sexta em Minas


A busca por uma vacina contra a COVID-19 e as pesquisas para comprovarem a eficácia de medicamentos para tratar a doença não param no mundo todo. Em Minas Gerais, o teste de vacina contra o coronavírus (Coronavac) em humanos começa na sexta-feira (31) e será coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).





Na tarde desta quarta-feira (29), a UFMG promoveu um evento de debate das contribuições das universidades brasileiras no desenvolvimento de vacinas. Pesquisadores afirmaram que essa pode ser a única resposta para o controle da pandemia.



“O remédio tem poucos efeitos se comparado com o poder de interrupção de uma vacina. A pessoa que ficou doente e tomou o remédio ainda transmite, mas a pessoa que está imune não fica doente e nem transmite”, defendeu o virologista Flávio Guimarães da Fonseca, pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas).

O professor ainda comparou com outros surtos no mundo, como ebola, gripe espanhola e dengue. “O potencial de proteção de uma vacina é essencial para o controle das pandemias. Isso que se observou desde o início do século 20 até hoje”, afirmou Flávio.





O desafio da disponibilização de vacina para toda a população também foi pauta na conversa, e os participantes sinalizaram de forma positiva para esse fácil acesso.

Antes de se pensar nisso, os pesquisadores enfatizaram que é preciso muito estudo para se ter uma vacina com eficácia comprovada.

Três pesquisadores participaram das discussões: a reitora da Unifesp e professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina, Soraya Soubhi Smaili, Mauro Teixeira e Flávio Guimarães da Fonseca, ambos da UFMG. O debate foi mediado pela Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da UFMG. (foto: Reprodução/UFMG)

“Tem que dar errado para dar certo. Precisamos de experiência e temos que ter infraestrutura”, afirmou o professor Mauro Martins Teixeira. Ele é coordenador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos (CPDF) do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, parceiro do Instituto Butantan, de São Paulo, nos testes da vacina Coronavac, formulada na China e que está na fase 3 de experimentos (teste em humanos).

A aplicação da fórmula será iniciada na sexta-feira (31) com um grupo de 800 profissionais de saúde voluntários. “Vacinar é a parte mais fácil. O difícil é o acompanhamento, o segmento a longo prazo é a grande dificuldade e a parte mais importante dessa fase de testes”, explica o professor.





Mauro explica ainda que o termo correto para designar os voluntários que vão fazer parte dessa pesquisa é “candidato vacinal”. “Ninguém vai vacinar, não temos uma vacina. A vacina só existe quando ela estiver pronta. Estamos fazendo estudos com o que sugere que é eficaz, mas a real eficácia é comprovada depois dos estudos”.

Segundo ele, essa que é chamada a “fase 3” deve durar cerca de 16 meses.

Vacinas são 'muitas'

O ciclo de conferências e seminários ‘Tempos presentes’, promovido pela UFMG, ocorreu pela primeira vez em formato on-line. Além de Flávio e Mauro, também participou das discussões a reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina, Soraya Soubhi Smaili.

Ela avalia que os distintos estudos por vacinas pode ser benéfico. “Vacinas podem ser muitas. Isso é bom, elas podem ser complementares e não competem o meio de produção”, observa.

Coronavac

A UFMG está entre 12 instituições no país que firmaram parceria com o Instituto Butantan para a fase final de testes clínicos da Coronavac, um potencial imunizante desenvolvido pela Sinovac Life Science, na China.





Ela é vista por pesquisadores uma das mais promissoras do mundo porque utiliza tecnologia já conhecida e amplamente aplicada em outras vacinas. O Instituto Butantan avalia que sua incorporação ao sistema de saúde deva ocorrer mais facilmente.

O laboratório asiático já realizou testes em cerca de 1 mil voluntários na China, nas fases 1 e 2. Antes, o modelo experimental aplicado em macacos apresentou resultados expressivos em termos de resposta imune contra o coronavírus.

A farmacêutica forneceu ao Butantan as doses da vacina para a realização de testes clínicos de fase 3 em voluntários no Brasil, com o objetivo de demonstrar sua eficácia e segurança.





Caso a vacina seja aprovada, a Sinovac e o Butantan devem firmar acordo de transferência de tecnologia para produção em larga escala e fornecimento gratuito pelo SUS.

Os próximos passos serão o registro do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e distribuição em todo o Brasil.

Vacina da UFMG

O professor Flávio Guimarães da Fonseca também integra a Rede Vírus, núcleo criado pelo governo federal para o combate à COVID-19.

Juntamente com o CT Vacinas, ele trabalha em um modelo bivalente de vacina, focado na modificação genética do vírus Influenza, causador da gripe, para que ele carregue consigo antígenos do SARS-CoV-2. O objetivo é que a vacina proteja o indivíduo tanto contra a gripe quanto contra a COVID-19.

Vacina de Oxford

A Unifesp conduz, no Brasil, os testes da fase 3 da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, uma das mais promissoras e em estágio mais avançado entre os cerca de 140 imunizantes em pesquisa ao redor do mundo.





Os testes são realizados com cerca de 1 mil pessoas que vivem em São Paulo e desenvolvem atividades com exposição ao coronavírus. A expectativa é que a vacina fique pronta em meados de 2021.

Entenda as etapas da vacina

Fonte: Instituto Butantan

O processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de uma nova vacina é constituído de diversas etapas tratando-se, portanto, de um processo demorado, de alto investimento e associado a riscos elevados, particularmente quando se tratam das doenças negligenciadas.

A primeira etapa: corresponde à pesquisa básica, e é onde novas propostas de vacinas são identificadas. Segunda etapa: realização dos testes pré-clínicos (in vitro e/ou in vivo) que têm por objetivo demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina.



Terceira etapa: ensaios clínicos, que é a mais longa e a mais cara do processo de P&D. Os estudos clínicos de uma nova vacina são classificados em estudos de Fase I, Fase II, Fase III e Fase IV.

Fases do ensaio/estudo clínico

  1. Fase I: é o primeiro estudo a ser realizado em seres humanos e tem por objetivo principal demonstrar a segurança da vacina. 
  2. Fase II: tem por objetivo estabelecer a sua imunogenicidade. 
  3. Fase III: é a última fase de estudo antes da obtenção do registro sanitário e tem por objetivo demonstrar a sua eficácia. Somente após a finalização do estudo de fase III e obtenção do registro sanitário é que a nova vacina poderá ser disponibilizada para a população.
  4. Fase IV: Vacina disponibilizada para a população.