A decretação da quarentena do coronavírus pela prefeitura de Belo Horizonte, em 20 de março, atingiu em cheio os 5 mil moradores do Condomínio Kubitschek, mais conhecido como JK, na Região Centro-Sul da capital. Com população superior às de 223 dos municípios mineiros, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2019, o condomínio adotou medidas para isolamento imediatas, tanto por parte da administração quanto individualmente.
Grande parte das pessoas que habitam os 1.083 apartamentos nas duas torres, uma de 34 andares, na Praça Raul Soares, e outra de 22, na Rua dos Timbiras, no Bairro de Lourdes, recebeu com precaução e apreensão a notícia da pandemia. O desconhecimento em torno do que estava por vir e as primeiras notícias sobre o grupo mais vulnerável ao quadro mais grave e letalidade da doença assustaram. Boa parte dos moradores do JK está no grupo de risco. É significativa a população de idosos, muitos sozinhos e sem assistência de parentes.
Enquanto a cidade parava, medidas preventivas foram tomadas. A administração instalou de imediato pias com sabão e papel toalha nos acessos aos dois prédios. Exigiu o uso de máscaras para funcionários, moradores e visitantes. Recomendou o isolamento e evitar circulação em áreas comuns. Progressivamente, outras medidas foram tomadas: permissão de lotação máxima de três pessoas por viagem em cada um dos 17 elevadores que atendem às duas edificações; a desinfecção de áreas comuns três vezes ao dia; tapetes para higienização dos pés nas portarias; limitação de acesso aos apartamentos dos serviços de entrega e medição de temperatura de moradores e visitantes. Com a quarentena, a presença de entregadores de delivery aumentou significativamente.
Morador do bloco A, na Rua dos Timbiras, desde 1982, o administrador de empresas Sérgio Hirle de Souza, de 62 anos, conta que tomou todas as medidas cabíveis para proteger a mãe, Zilda Hirle de Souza, de 87, portadora do Mal de Alzheimer e cadeirante. Ex-presidente do Conselho Distrital de Saúde Centro-Sul, o morador contou que ao receber a notícia procurou isolamento, evitando o máximo possível qualquer contato externo, saindo apenas para o extremamente necessário. Os passeios diários foram suspensos. Pelo tempo de moradia na Região do Bairro de Lourdes, tem muitos conhecidos e "seria inevitável o encontro de pessoas amigas, algumas não muito conscientes sobre contatos durante uma pandemia", explica.
Ele avalia que alguns procedimentos poderiam ser mais rigorosos. "As obras de troca das esquadrias metálicas da fachada, que já duram algumas décadas, continuam. Muitos proprietários de imóveis, aproveitando o momento de desaquecimento do mercado de aluguéis e vendas, resolveram reformar suas unidades”, diz. Sérgio defende que essas ações fossem suspensas durante o isolamento. "Somente no meu andar são oito idosos que moram sozinhos. Convivemos com barulho, poeira e circulação de operários e entregadores de materiais. Além do mais, o barulho gera transtornos a quem precisa trabalhar no sistema home office."
Corretor de Imovéis, Luiz Silva Dias, de 55, é morador do bloco B desde 2003. Conta que viver no condomínio é motivo de orgulho e considera uma de suas "melhores escolhas". Não se lembra de quantos apartamentos negociou nos dois prédios em sua carreira. "Em relação à COVID-19, a administração, dentro do possível, tomou as devidas medidas. Sabemos que no JK moram muitas pessoas com idade avançada e eu, na medida que posso, tento ofercer ajudaa a esses vizinhos, como fazer uma compras, algum serviço bancário, evitando que saiam às ruas".
Alguns moradores criaram um grupo de WhatsApp para atender voluntariamente as necessidades dos idosos e outros vizinhos classificados como grupo de risco para a forma grave da doença. Eles compram medicamentos, alimentos, entregam correspondências e prestam ajuda solidária. O corretor também mudou sua forma de atendimento aos clientes interessados em unidades no condomínio. Quando o imóvel está ocupado e o morador não se importa em receber o visitante, "usamos pantufas descartáveis, máscara e álcool em gel, e tento fazer uma visita bem rápida, sem muita conversa."