Um novo capítulo protagonizado por mais uma denúncia marca a relação dos moradores do distrito de Macacos, em Nova Lima (Grande BH), com a mineradora Vale. Agora, o problema gira em torno de um treinamento realizado pela empresa sem aviso prévio, o que causou apreensão na comunidade.
Treinamento em barragem da Vale localizada em Macacos acontece sem aviso prévio e causa pânico na comunidade. "Atenção, senhores colaboradores: se retirar da área ZAS imediatamente%u201D, diz um trabalhador no megafone.
%u2014 Estado de Minas (@em_com) August 5, 2020
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Um vídeo, que circula nas redes sociais, flagrou o momento exato do fato, ocorrido na noite dessa terça-feira (4). “Atenção, senhores colaboradores: se retirar da área ZAS (Zona de Autossalvamento, perímetro de 10 quilômetros ou 30 minutos do ponto de rompimento da barragem) imediatamente”, afirma o funcionário da Vale com um megafone na gravação.
“As pessoas não haviam sido avisadas que haveria esse treinamento de evacuação das obras. A mensagem é alarmante. Gera uma grande apreensão nas pessoas, porque a gente precisa cumprir uma obrigação que é da empresa”, afirma Fernanda Tuna, moradora de Macacos.
Segundo ela, essa é a segunda vez que a Vale realiza um simulado sem informar a população.
“Já houve esses exercícios sem aviso. Nessa época, que aconteceu a maior confusão, a Vale passou a liberar um cronograma desses exercícios de evacuação. Mas, isso foi antes da pandemia. O último cronograma nem lembro quando foi compartilhado”, reclama Fernanda.
Os treinamentos acontecem porque operários da Vale trabalham ao redor da Barragem B3/B4, na Mina de Mar Azul, na construção de uma barreira de contenção. A represa está no nível 3, o último da escala de risco de rompimento, desde março do ano passado.
Procurada, a Vale informou que "realiza periodicamente exercícios simulados para os trabalhadores". De acordo com a empresa, essas dinâmicas acontecem "rotineiramente em Macacos há vários meses, desde o início da obra do muro de contenção".
A empresa não informou o motivo pelo qual não houve comunicação prévia com a comunidade.
Acordo
A Vale e o Ministério Público de Minas Gerais assinaram um novo acordo para ampliar a comunicação sobre os riscos que circundam as barragens da empresa localizadas nos arredores de Macacos.
O documento diz respeito às barragens B5, Taquaras, B3/B4, B6, B7 e Capão da Serra (Minas Mar Azul, Mutuca e Tamanduá), que, se romperem, podem potencialmente impactar a região.
Uma das mudanças promovidas pelo acordo diz respeito às placas informativas que indicam as rotas de fuga. Hoje, esses equipamentos só informam em português. A intenção do MP é que a Vale também forneça itens em inglês e espanhol.
O mesmo processo acontece com cartilhas informativas. Os cartões deverão ser entregues nos três idiomas a proprietários de restaurantes, bares e hotéis de Macacos.
Para Fernanda Tuna, no entanto, esse acordo é um "turismo de barragem". "Esse terrorismo é vivenciado pelos moradores. A gente convive com a lama invisível. Até hoje, a gente não sabe qual a mancha de inundação. É um espetáculo do desastre: são vários atores, como Vale e o poder público, e a comunidade acaba não sendo ouvida como deveria", critica.