O isolamento social iniciado em março deste ano, como forma de evitar o contágio do novo coronavírus colocou várias mulheres em situação vulnerável, principalmente aquelas que vivem em um lar no qual a violência doméstica é trivial. Mas a situação adversa tornou-se invisível. Na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Governador Valadares (DEAM/GV), os atendimentos que eram feitos em uma média de oito por dia, até antes do isolamento, caiu a zero logo nas primeiras semanas.
A delegada titular da DEAM/GV, Adeliana Xavier Santos estranhou o silêncio. “Essa situação também causou estranhamento ao Ministério Público e os órgãos de assistência, e logo concluímos e mulheres estavam sendo agredidas e ficavam caladas, por não terem condições de sair de casa”, disse a delegada. A solução para o problema foi a criação de um canal de fácil acesso, via smartphone.
“Copiamos um modelo bem sucedido implantado pela DEAM de Manhuaçu e criamos o atendimento virtual “Frida”, que funciona via WhatsApp, com o número (33) 99999-0091. A vítima manda uma mensagem de texto pelo número e é atendida por um “atendimento automático”, com respostas previamente programadas”, disse a delegada.
Por meio do “Frida”, as mulheres conseguem solicitar agendamento para formalizar medidas protetivas, solicita cópia de medida, tira dúvidas sobre as leis que garantem seus direitos e pune os agressores. Também podem fazer denúncias de agressões a crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. “Depois que o Frida entrou em atividade, conseguimos realizar uma média de 7 atendimentos por dia e, graças a Deus, os horários que são disponibilizados, são preenchidos”, disse a delegada.
Na análise dos casos que chegam a DEAM de Governador Valadares, a delegada Adeliana Xavier concluiu que as mulheres que antes viviam em ambiente hostil, com o isolamento passaram a viver dentro de uma grande panela de pressão, segundo ela.
“A mulher encontra-se em casa, com filhos (pois não há escola), confinada com o marido, vive dentro grande panela de pressão. Sobrecarregada com os afazeres domésticos e as crianças com aula em casa. Basta um deslize e começa a terceira guerra mundial. A violência atinge logo as partes mais fracas do conflito, a mulher e as crianças”, comenta a delegada.
Adeliana Santos lembra que a violência contra a mulher pode ser entendida como “qualquer ação ou omissão, baseada no gênero, que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral e patrimonial”.
Fabri Mulher
No Vale do Aço, a Prefeitura de Coronel Fabriciano criou o canal “Fabri Mulher” para denúncias de violência contra mulheres. O canal pode ser acessado no aplicativo eOuve, disponível no Google Play Store, cujo ícone está em todos os smartphones. Baixando esse aplicativo, a mulher o ícone da Prefeitura de Coronel Fabriciano e dento dele está a florzinha branca no ícone vermelho do “Fabri Mulher”.
Os passos seguintes, depois que a mulher digita as informações preliminares para que a denúncia seja aceita, basta descrever o acontecido, informar se possui deficiência, se quer manter sigilo e informar o local onde sofreu o abuso. A vítima ainda pode anexar fotos ou arquivos de texto e depois enviar.
“A campanha tem por objetivo oferecer às mulheres de Coronel Fabriciano mais um canal de denúncia, fácil e sigilosa, para romper o silêncio e acabar com o ciclo de violência. As denúncias passam uma triagem e depois são encaminhadas ao CREAS, Polícia Militar ou Civil, dependendo da complexidade”, disse Letícia Godinho, secretária de Governança de Assistência Social.
A secretária disse que durante esse mês, em que se comemora o “Agosto Lilás”, alertando a sociedade contra a violência doméstica, a sua secretaria está produzindo vídeos, lives e uma ampla campanha nas redes sociais para fazer o alerta sobre um tema tão importante.