Oito meses depois de o primeiro caso de intoxicação de um consumidor que ingeriu cerveja Belorizontina vir a público, a Backer, responsável pela produção da bebida, anunciou nas redes sociais que deu início ao processo de reparação aos afetados pela contaminação do líquido. A empresa afirmou que contratou uma firma especializada na resolução de conflitos “com o objetivo de minimizar os sofrimentos e buscar uma solução capaz de trazer conforto e paz para todos”.
A nota divulgada pela cervejaria começa expressando solidariedade “para todos aqueles que estão sofrendo diretamente as consequências do sinistro” e que estão dispostos a buscar meios para minimizar ou superar a dor que todos estão sentindo. Ao anunciar a contratação da empresa especializada em resolução de conflitos, a Backer disse que o debate não terá espaço para discussão sobre culpas e responsabilidades, mas sim, para conversas que resultem em uma solução.
“Tenham a certeza de que o diálogo para o qual serão convidados será pautado pela boa fé, tanto nas intenções como no compromisso de fazermos o possível para encerrarmos este triste capítulo”, disse a cervejaria, em nota.
Em nota, a assessoria das famílias das pessoas afetadas pela contaminação das cervejas da Backer disse que os sobreviventes sofrem com sequelas causadas pela intoxicação, como perda total ou parcial da visão, dores, perda de movimentos, entre outros, destacando que estes precisam de exames contínuos. Atingidos e seus entes queridos também questionaram a demora para o início do processo de reparação, mas viram o começo do andamento como uma forma de 'alento e esperança'.
"O anúncio da contratação de uma Câmara de Mediação, mesmo sendo algo tardio e ainda muito incipiente, não deixa de ser um alento e uma esperança de que os danos serão integralmente reparados", disse a nota.
"O anúncio da contratação de uma Câmara de Mediação, mesmo sendo algo tardio e ainda muito incipiente, não deixa de ser um alento e uma esperança de que os danos serão integralmente reparados", disse a nota.
Desde janeiro deste ano, 10 pessoas morreram depois de beber lotes da cerveja Belorizontina contaminados por monoetilenoglicol ou dietilenoglicol. Ao todo, a Polícia Civil identificou 29 pessoas intoxicadas pela bebida.
Fichas apreendidas
Na semana passada, a Polícia Civil e o Ministério Público de Minas Gerais estiveram na sede da Backer, no Olhos D’Água, na Região do Barreiro, para cumprir mandados de busca e apreensão. Mais de mil fichas de produção de cervejas foram confiscadas pelo poder público.
Para o Ministério Público, há indícios de que a Backer já teria conhecimento do vazamento do material tóxico nas cervejas. De acordo com a promotora de Justiça de Defesa do Consumidor da área criminal, Vanessa Fusco, a análise das fichas poderá mudar os rumos do inquérito policial contra os sócios da empresa e os técnicos responsáveis pela manutenção dos equipamentos, podendo gerar até um novo indiciamento.
"Há indícios por essa apreensão de agora que isso já era do conhecimento da empresa. Que havia vazamento desse glicol que eles colocam lá, não dizendo o tipo de glicol seria. Essa é a grande questão: até que ponto esse conhecimento vai levar a responsabilização penal”, disse.
Já o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou, também na semana passada, o relatório definitivo sobre os casos de intoxicação provocada pela ingestão de bebidas produzidas pela Backer. Segundo o documento do órgão ligado do Governo Federal, a empresa apresentava falha na produção dos produtos desde janeiro de 2019.
Inquérito
Na conclusão do primeiro inquérito policial, em junho, a Polícia Civil confirmou 29 vítimas e mais 30 ocorrências ainda em análise. O caso segue com o Ministério Público de Minas Gerais.
Na ocasião, Ângela Minghini Cotta, filha de Marco Aurélio Gonçalves Cotta, de 65 anos, última vítima constatada, disse ao Estado de Minas que esperava que o pai tivesse qualidade de vida em seus últimos dias.
"A investigação confirmou que existia um erro, independentemente se foi causado intencionalmente ou não, o erro aconteceu e a empresa tem que se responsabilizar por aquilo, afinal de contas ela é responsável pelo produto que coloca no mercado. O mínimo que espero deles é que o tempo que meu pai ainda estiver vivo, ele tenha qualidade de vida para estar bem", disse.
Quebra de sigilo
O Tribunal de Justiça determinou a quebra de sigilo bancário das empresas que compõem o grupo econômico da Backer em 9 de julho.
O processo investiga os danos sofridos pelas vítimas de contaminação por monoetilenoglicol e dietilenoglicol após consumo das cervejas produzidas pela Backer. A ideia é apurar possíveis manobras para ocultar o patrimônio da cervejaria, cujos donos alegam falta de recursos para arcar com o tratamento médico dos intoxicados.