Com 1.239 casos de COVID-19, Santa Luzia registra menos infecções pela doença do que Itabirito, que contabiliza 1.244 notificações, mas o que chama atenção é a grande diferença no número de óbitos entre os dois municípios. Enquanto Itabirito possui 9 óbitos por COVID-19, Santa Luzia contabiliza 51 mortes causadas pelo novo coronavírus, um número quase 6 vezes maior.
Em julho, Santa Luzia viu o número de óbitos causados pela doença mais do que dobrar. No início do mês, eram 19 mortes, no dia 30 de julho, esse número passou para 44. Acompanhando o número de mortes, a quantidade de casos na cidade triplicou, passando de 325 notificações no dia primeiro de julho, para 1095 no dia 30 do mesmo mês. Segundo a secretaria de saúde do município, Nádia Cristina Tomé, esse aumento já era esperado. “Essa é uma época do ano propícia para a disseminação de doenças respiratórias”, explica.
Itabirito iniciou julho com 485 casos da doença, número maior do que Santa Luzia, que registrava 325 infecções. Mas ao final de julho, Santa Luzia já havia ultrapassado Itabirito no número de casos notificados do COVID-19. No dia 15 de maio, Itabirito aderiu ao plano Minas Consciente, que vem orientando os municípios do estado durante o processo de reabertura do comércio e retomada econômica. De acordo com o secretário de saúde de Itabirito, Dr. Marco Antônio Félix, a adesão aconteceu por meio de determinação judicial. “Foi logo após o Dia das Mães, quando tivemos muita aglomeração nas ruas e no comércio da cidade”, relata.
Já a prefeitura de Santa Luzia vem atuando através de decretos municipais, sem seguir as orientações do plano estadual. “Estamos sempre analisando a sobrecarga em nosso sistema de saúde e tomando as decisões necessárias. Santa Luzia já é um município com grandes problemas, se o comércio estivesse fechado, seria pior ainda”, ressalta. Ainda segundo a secretária de saúde, o governo do estado demorou para agir no combate ao coronavírus. “Estamos agindo desde o fim de março para conter o avanço da doença em Santa Luzia. O plano veio bem depois”, afirma.
Em uma rua comercial lotada, a moradora de Santa Luzia, Maria de Fátima Silva (60), diz que está faltando distanciamento social na cidade. “Os comerciantes não tem culpa, o povo é que tem que fazer por onde não aumentar o vírus”, diz a idosa. Sione Martins (54), também é morador de Santa Luzia e diz que a população não está seguindo as orientações sanitárias. “As medidas que foram tomadas são protetoras, mas as pessoas não obedecem. Está tendo aglomeração”, relata. Sione ainda conta que teve caso da doença na família. “Eu sigo o distanciamento, porque eu tive caso de COVID na família também”, acrescenta.
Taxa de testagem
Outro indicador que diferencia Santa Luzia e Itabirito é a taxa de testagem. Enquanto Itabirito fez, até o momento, cerca de 2 mil testes na população, Santa Luzia já testou o dobro, 4 mil. Porém, os dois municípios tem restrições quanto à testagem em massa. “Temos muitos falsos positivos”, explica o secretário de saúde de Itabirito.
Já para a secretária de saúde de Santa Luzia, a preocupação é a qualidade dos testes. “Não entramos na corrida para comprar testes no início da pandemia, esperamos os testes aprovados pelo Ministério da Saúde chegarem ao mercado para começarmos a testagem”, esclarece. A secretária ainda chama atenção para a necessidade de repetir o teste para garantir maio confiabilidade nos resultados. “É preciso fazer três testes, em um ciclo de 21 dias”, explica.
Taxa de ocupação de leitos de UTI
O número de mortes menor em Itabirito pode tirar o foco de um problema sério: a taxa de ocupação de leitos de UTI. A microrregião à qual o município pertence está com 90% dos leitos ocupados. São apenas 10 leitos disponíveis para as cidades de Ouro Preto, Mariana e Itabirito. “O hospital do município não teve interesse em montar UTI, então montamos uma estrutura na UPA, com 8 leitos com respiradores e 4 UTIs móveis” relata o secretário de saúde de Itabirito. Em Santa Luzia, a taxa de ocupação é menor. Dos 50 leitos de UTI disponíveis na cidade, 60% estão sendo utilizados.
Mortes em Itabirito
Segundo o secretário de saúde de Itabirito, todos os pacientes que precisaram de internação em UTI vieram a óbito. “Todos que morreram pela doença aqui no município tinham mais de 50 anos e apresentavam comorbidades”, complementa. Maria Lícia Araújo (62) é moradora de Itabirito e tem evitado sair de casa. “Sou do grupo de risco, aparentemente, a cidade ainda está dando conta de atender, mas prefiro não arriscar”, conta.
Apesar de registrar um número maior de óbitos no município, Santa Luzia coleciona casos surpreendentes de recuperação. “Tivemos inclusive uma paciente com 92 anos que precisou de internação em UTI, mas conseguiu vencer a COVID-19”, relata a secretária de saúde da cidade.