Mulher acumula lixo dentro de casa e se alimenta de restos de comidahttps://t.co/DnuhtwWYeB pic.twitter.com/YHjL45ibSP
%u2014 Estado de Minas (@em_com) August 12, 2020
Moradores da Rua Padre Anchieta, Bairro Altinópolis, em Governador Valadares, estão convivendo com um problema que parece não ter solução. Há vários anos, Maria das Graças Rodrigues dos Santos, moradora da casa número 78, que diz ter 52 anos de idade, acumula grande quantidade de lixo dentro de sua casa e no quintal.
Os vizinhos afirmam que Graça (como é conhecida) é portadora de graves transtornos psiquiátricos e mora sozinha na casa, que está parcialmente destruída, como um imóvel abandonado. A mulher tem filhos morando em outros bairros de Governador Valadares, mas quando eles a procuram, ela os agride. Recentemente, segundo os vizinhos, ela expulsou um dos filhos a pedradas.
Incomodados com a grande quantidade de lixo e o mau cheiro, os moradores decidiram retirar as sacolas e caixas entulhadas na casa e no quintal de Graça. A limpeza foi feita no dia 29 de julho, quando fiscais da Vigilância Sanitária, equipe do SAMU e Polícia Militar foram à casa de Graça e a levaram ao Hospital Municipal, onde foi sedada e liberada, mas voltou para casa no fim da tarde. A limpeza foi feita no período em que a moradora esteve ausente.
Sandra Mercês, vizinha mais próxima de Graça, e que se preocupa com as condições subumanas em que a mulher vive, disse que a quantidade de lixo retirada foi equivalente a 8 caminhões caçamba. “Dois anos atrás os vizinhos retiraram lixo equivalente a 18
caminhões caçamba”, disse.
Comovida com a situação dramática que envolve a vida de Graça, Sandra diz que nem sempre pode ajudar. Temendo ser internada, Graça se torna agressiva. “Quando ela foi levada ao Hospital Municipal, tempos atrás, e fugiu de lá, um médico disse que o tratamento dela pode ser feito sem a necessidade de internação, mas isso é inaceitável”.
Graça não admite que ninguém limpe sua casa e retire as sacolas de lixo que ela recolhe pelo bairro e chama de “minhas coisas”. Quando algum vizinho se aproxima, ela parte para as agressões físicas. “Ela joga pedras nas vidraças das casas e de carros quando desconfia de alguém que esteja tentando interná-la”, diz Eduardo Ferreira da Silva, outro vizinho que sempre oferece ajuda e se diz triste com a situação, porque, segundo ele, todos vizinhos querem apenas ajudar.
Carro destruído
A agressividade de Graça surpreendeu a vizinhança quando ela, no dia 1 de agosto, destruiu parcialmente um automóvel Tucson Hyundai, de um Major PM, pensando que o policial teria ido à sua casa para interná-la. O carro do Major PM Julimar Vilela foi estacionado na rua quando ele foi visitar um parente. Os danos causados ao veículo, como vidros quebrados, lataria amassada e outros, foram descritos em Boletim de Ocorrência registrado no mesmo dia, por volta de 22h.
Como os problemas causados por Graça se arrastam há anos, sem uma solução, 15 moradores assinaram um requerimento enviado por e-mail ao Ministério Público de Minas Gerais. Eles foram dar entrada no documento pessoalmente, mas os seguranças do prédio do MP de Governador Valadares sugeriram o envio por e-mail, porque durante a pandemia do novo coronavírus, os atendimentos no MP estão sendo feitos à distância. “Ainda não nos responderam, nem sabemos qual promotor recebeu o requerimento”, explicou Sandra.
No requerimento, os moradores relatam as agressões sofridas com pedradas e garrafadas, e a destruição parcial do carro do Major PM. Pedem a internação de Maria das Graças, para que ela receba tratamento de saúde eficiente e humanitário.
Mesmo vivendo em meio à tensão e o medo, alguns moradores conseguem conversar com Maria das Graças quando ela se acalma. Na sexta-feira (7), ela reclamou que estava sentindo fortes dores no corpo e falta de ar. Uma equipe do posto de saúde do bairro foi até a casa de Maria das Graças, mas ela recusou atendimento.
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) enviou um médico para atender Maria das Graças na terça-feira (11). Novamente ela ficou agressiva e recusou ser atendida. Quando se acalmou, contou à Sandra Mercês que perdeu todos os seus documentos em meio às sacolas de lixo e assim não consegue receber o auxílio emergencial que tem direito. Com isso ela está se alimentando de restos de comida que encontra no lixo. “É uma situação inaceitável, absurda, que precisa ser resolvida imediatamente”, diz Sandra.